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Aquela briga foi a pior que já tivemos. Palavras ditas no calor do momento, mágoas antigas trazidas à tona, e tudo parecia desmoronar. Eu estava furiosa e dirigia sem prestar atenção na estrada, o telefone tocava, mas eu estava cega pela raiva e pela decepção da cena que vi no jardim de casa. Foi tudo tão rápido. Um carro surgiu do nada, e antes que eu pudesse gritar, o impacto aconteceu.

Acordei no hospital, com o corpo dolorido e a mente confusa. As horas seguintes foram um borrão de preocupações e orações silenciosas. A dor física era intensa, mas o choque maior foi descobrir que eu não lembrava de nada. As memórias estavam perdidas, fragmentadas em algum lugar dentro de mim, inacessíveis.

A dor era insuportável, mas o que mais me aterrorizava era a ausência de lembranças. Havia um homem ao meu lado, seus olhos inchados de tanto chorar. Ele parecia familiar, mas minha mente não conseguia situá-lo, eu não conseguia lembrar seu nome, sua voz, seu toque.

Ao mesmo tempo algo dentro de mim me dizia que ele tinha me trazido muita dor, mas que eu poderia confiar nele. Tentei me mexer na cama, mas o corpo não respondia, ele levanta e senta ao lado da maca.

- Você acordou, como se sente – diz com uma voz calma.

Não consigo dizer uma única palavra, tento balbuciar que quero água, mas é em vão. Meus olhos começam a encher de lágrimas e o monitor cardíaco sinaliza minha agitação. Ele, percebendo meu estado, se levanta apressadamente.

- Eu vou chamar o médico - ele diz, saindo rapidamente do quarto, me deixando sozinha. Me sinto abandonada e não sei por que.

A solidão na sala de hospital é opressiva. As máquinas piscam e apitam ao meu redor, mas tudo parece distante. Tento entender o que está acontecendo comigo, mas minha mente é um labirinto de escuridão e fragmentos desconexos. Lágrimas escorrem pelo meu rosto, e uma sensação de desespero toma conta de mim.

O médico se aproxima da cama dela, verificando os sinais vitais e tentando acalmá-la.

- Ye-Jin, estamos aqui para garantir que você se recupere da melhor maneira possível. Pode levar algum tempo, mas estamos todos ao seu lado.

Ele ajusta os níveis de alguns medicamentos e fala com uma enfermeira, que traz uma pequena quantidade de água. Ele ajuda Ye-Jin a beber, cuidadosamente, enquanto monitora sua reação.

Tudo continua sendo um borrão na minha memória. O médico me explica o aconteceu, meu nome, minha idade, quem é o homem que estava no quarto e eu não lembro de nada do que houve: o acidente, quem é Hoseok, quantos anos eu tenho, onde eu moro, se tenho filhos. A sensação de vazio é esmagadora, e a falta de respostas torna tudo ainda mais angustiante. Tento buscar na minha mente qualquer fragmento que faça sentido, mas é como tentar pegar fumaça com as mãos.

Olho para Hoseok, tentando encontrar alguma familiaridade, mas é difícil. Sua voz é gentil, seu toque é reconfortante, mas nada parece despertar qualquer memória. Minha cabeça dói com o esforço de tentar lembrar, e sinto as lágrimas começarem a escorrer novamente.

- Eu... eu não lembro de nada - consigo finalmente dizer, minha voz trêmula.

- Ye-Jin, sei que tudo parece confuso agora, mas estou aqui para te ajudar a lembrar. Vejo a confusão e o medo nos olhos de Ye-Jin. Quero tanto ajudar, mas sei que preciso ser paciente. Tento manter a calma, lembrando a mim mesmo que isso vai levar tempo. Sento ao lado dela, segurando sua mão.

Respiro fundo, tentando me acalmar. - Quantos anos eu tenho? Onde moramos? Temos filhos?

- Você tem 29 anos. Moramos em uma casa no centro da cidade. Não temos filhos, mas temos um cachorro chamado Choco. Ele sente muito a sua falta.

As informações são reconfortantes, mas ainda sinto um vazio enorme. Tento imaginar nosso apartamento, nosso cachorro, mas minha mente continua em branco. - E... como foi o acidente?

Minha expressão se torna mais séria, lembrando da noite do acidente. - Tivemos uma discussão e você estava dirigindo. Estávamos ambos muito abalados, e então o acidente aconteceu, mas não force sua memória nisso, se concentre em se recuperar.

A revelação traz um peso ao meu coração. Não consigo me lembrar da briga, mas sinto a tristeza nas palavras de Hoseok. - Eu sinto muito - digo, embora não consiga lembrar pelo quê.

- Não precisa se desculpar, Ye-Jin

A presença de Hoseok é um farol de esperança na minha escuridão. Embora as memórias ainda estejam ausentes, sinto que com o tempo, paciência e amor, talvez eu possa encontrá-las novamente. Aperto a mão dele com um pouco mais de força, determinada a enfrentar essa jornada, um passo de cada vez.

(Hoseok)

Ela não se lembra de Min-Ji, do acordo, do quebrou a nossa relação. A culpa me consome, mas sei que não posso deixá-la agora. A briga que tivemos foi uma das piores até agora, desde que casamos há três anos, eu não sei como vou resolver isso, não queria contar que o motivo da briga e lembrar disso me doeu no coração porque eu vejo que ela depende única e exclusivamente de mim neste momento.

(Três anos atrás)

Nos conhecemos em uma festa de amigos em comum. Ye-Jin era vibrante, cheia de vida, e seu sorriso iluminava o ambiente. Nossos pais trabalharam juntos por anos, fundaram a produtora e agência de modelos que hoje eu presido e, no curso natural das coisas, como minha mãe dizia, eu deveria casar com ela para mantermos o legado. Mas eu não amava Ye-Jin.

Apesar de ser uma pessoa extraordinária, meu coração pertencia a outra mulher. Eu estava com Min-Ji há dois anos; nos conhecemos por causa do trabalho e nunca mais nos largamos. Ela me entendia, me completava, e eu não abriria mão dela. Mas casei com Ye-Jin. Nosso casamento foi de fachada, dormíamos em quartos separados desde a noite de núpcias. Eu sei que isso a magoava, mas ela sabia dos termos quando aceitou.

Tentei por um tempo convencê-la de que este casamento não funcionaria, mas ela quis levar adiante e tinha o apoio dos nossos pais. No começo, ela concordou com os termos, pois queria sair de casa. Só pediu que eu respeitasse sua nova casa e nunca levasse Min-Ji lá, e eu concordei. Mas houve um dia que eu quebrei este acordo.

(Dia do acidente)

Era um dia como qualquer outro, mas carregado de tensão e naquela noite, levei Min-Ji para nossa casa. Estávamos sozinhos, e achei que Ye-Jin não voltaria tão cedo. Mas ela voltou mais cedo do que o esperado e nos encontrou juntos no jardim. A raiva e a decepção nos olhos dela eram palpáveis. Começamos a discutir, e a briga rapidamente saiu do controle.

- Você prometeu, Hoseok! - ela gritou, lágrimas escorrendo pelo rosto. - Prometeu que nunca a traria para cá!

- Eu sei, Ye-Jin, mas isso não muda nada! Esse casamento nunca foi real para mim. - As palavras saíram antes que eu pudesse me conter, e vi a dor que causaram

- Você quebrou o único acordo que tínhamos! - Ela gritou, lágrimas escorrendo pelo rosto. - Eu sempre fui sozinha desde que nos casamos, mas ao menos esperava que você mantivesse sua palavra!

A discussão escalou rapidamente. Ye-Jin, furiosa e devastada, saiu correndo, pegando as chaves do carro. Tentei detê-la, mas ela estava cega pela raiva e pela decepção. A cena no jardim estava gravada em minha mente quando ouvi o som do carro saindo.

Segui Ye-Jin, desesperado para explicar, para tentar consertar as coisas. Quando a encontrei na estrada, dirigindo rapidamente, o telefone dela tocava. Ela não prestava atenção à estrada, e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, o acidente aconteceu.

(No presente)

Agora, vendo Ye-Jin sem memória, a culpa me consome. Ela não se lembra de nada, e eu carrego o peso de nossa história sozinho. Tento encontrar uma maneira de fazer as coisas certas, de cuidar dela como prometi, mesmo que nossa relação nunca tenha sido verdadeira.

- Ye-Jin, eu estou aqui com você - digo, segurando sua mão. - Vamos superar isso juntos, um passo de cada vez.

Mesmo que o amor não tenha sido a base de nosso casamento, minha responsabilidade agora é estar ao lado dela e ajudá-la a encontrar seu caminho de volta, de alguma forma.

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