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Como eu me sujeitei a tudo isso? Eu praticamente me arrastei até ele e me humilhei pedindo uma chance para algo que sempre esteve fadado ao fracasso. Eu não estava preparada para lembrar disso, saber que eu estava disposta a aceitar migalhas de atenção e afeto de Hoseok, mesmo sabendo que ele estava envolvido com outra pessoa. A dor dessa lembrança é esmagadora, trazendo à tona uma mistura de tristeza, raiva e arrependimento.

Continuo lendo o acordo de casamento e chego na parte que minha mãe comentou e eu também não me recordava. Ambas as partes concordaram que caso um pedisse o divórcio antes de cinco anos, não teria direito a movimentar mais nada da empresa, somente participar de reuniões como espectador sem interferência no que a outra parte decidisse.

Concordei que teríamos um herdeiro no prazo de cinco anos, mas teria condições para isso também. Nascendo um menino, eu receberia a minha parte da empresa, eu poderia ter uma convivência com a criança, mas a guarda seria de Hoseok. Caso nascesse uma menina, a guarda seria minha, mas também não levaria nada. Existiam outros termos relacionados a propriedades, decisões da empresa que seriam unilaterais, direitos de imagem, mas nada supera a onda de tristeza quando leio a parte sobre o meu filho.

A memória me atinge como uma onda forte, trazendo de volta a dor e a frustração daqueles momentos. Deito-me na cama, encarando o teto, tentando entender como chegamos a esse ponto. As condições do nosso casamento, a presença constante dela, a distância que mantém... tudo isso parece um fardo insuportável. Eu concordei em abrir mão do meu filho porque não tive coragem de enfrentar meus pais. Volto ao dia do acidente.

Recordação

Hoje eu não estava rendendo nada no trabalho, estava sentindo um aperto no peito, uma angústia que nunca tinha sentido. Avisei Soo-Ji que voltaria para casa mais cedo, já que não tinha nada pendente ou urgente para tratar. Não vi Hoseok na empresa o dia todo, mas isso não era novidade, já que ele me evitava ao máximo e só mantinha o diálogo quando necessário sobre o trabalho.

Recolho minhas coisas e vou para casa. No caminho, passo em uma conveniência para comprar algumas coisas para o jantar. Quando chego em casa, não sou recebida por Choco, o que é estranho. Penso que ele esteja no jardim. Vou até a cozinha, deixo as compras no balcão e volto até a sala, e vejo que a porta que dá acesso ao jardim está aberta. Escuto vozes e me aproximo, vendo pela fresta da porta que Hoseok está sentado em uma das espreguiçadeiras com uma mulher no seu colo. Estão se beijando, e ele interrompe o beijo:

- Você não deveria ter vindo aqui, Min-Ji. Ela vai chegar daqui a pouco e quero evitar uma cena.

- Mas eu estava com saudade de você – Min-Ji fala com voz melosa.

- Eu disse que só passaria aqui para trocar de roupa e iria até seu apartamento.

- Aishh, Hoseok, que saco. Quando você vai terminar com isso?

- Eu estou consultando um advogado, mas é difícil porque eu assinei essa merda de acordo ciente dos termos.

- Então você vai ter um filho com ela? Se for menino você sai ganhando ainda, não é?

- Tá maluca? Claro que não. Pensa que eu sou o quê? Nunca colocaria meu filho no meio dessa sujeira que meus pais arrumaram.

- Eu ainda não acredito que ela se sujeita a isso. No fundo eu sinto pena dela.

- Eu também – Hoseok suspira – Eu tenho pena e raiva porque tudo poderia ser resolvido se ela concordasse em se divorciar, mas ela quer brincar de casinha.

- Podemos brincar de casinha se você concordar em ter um filho com ela. Depois viramos uma família – Min-Ji diz enchendo o rosto dele de beijos.

- Você é louca, igual minha mãe Min-Ji – ele fala rindo – Para isso acontecer eu teria que dormir com ela e torcer que nascesse um menino.

Sinto meu coração se partir em mil pedaços enquanto escuto a conversa deles. A dor e a humilhação são esmagadoras. As palavras de Hoseok me atingem como facas. Não só ele está tendo um relacionamento com outra mulher, mas ele também tem pena e raiva de mim. A revelação de que ele está consultando um advogado para se livrar do nosso casamento, e a insinuação de que ele prefere estar com Min-Ji, me destrói por dentro. De repente Choco nota minha presença e vem correndo na direção da porta denunciando que eu estava ali.

Min-Ji levanta rapidamente do colo dele, nitidamente desconcertada com minha presença, Hoseok levanta e sua cara de espanto é gritante também.

- Ye-Jin – ele fala vindo em minha direção.

Saio correndo em direção a porta de entrada, mas lembro da minha bolsa na cozinha e retorno, sou interceptada por Hoseok.

- Ye-Jin vamos conversar – ele segura no meu braço.

- Não quero conversar com você Hoseok – grito com ele - a única coisa que eu pedi para você era para respeitar meu lar, minha casa e você não cumpriu nosso trato. Saia da minha frente – pego minha bolsa e as chaves do carro, ele tenta me segurar pela alça da bolsa, solto ela e saio correndo em direção a saída.

- Ye-Jin me desculpa, por favor vamos conversar – ele diz vindo atrás de mim.

Entro no carro com cega com as lágrimas e saio rápido de lá, nunca mais quero voltar aquela casa, nunca mais quero que sintam pena de mim, nunca mais quero ser humilhada como fui hoje. A minha vida inteira as pessoas ditando como e o que fazer.

Enquanto dirijo sem rumo, sinto a dor e a humilhação me esmagarem. Como pude me sujeitar a isso? Como pude aceitar migalhas de afeto e respeito de Hoseok? A raiva e a tristeza se misturam em meu coração, e sei que preciso tomar uma decisão para proteger minha dignidade e minha saúde emocional. Olho pelo retrovisor e vejo um carro me seguindo, é ele. Acelero mais e corto diversos veículos na minha frente, grito desesperadamente dentro do carro e por um descuido de segundos tudo fica escuro.

A recordação é tão vívida que quase sinto o mesmo desespero de então. A revelação das condições do acordo de casamento e a lembrança do que ouvi naquele dia me fazem questionar todas as minhas escolhas. Respiro fundo, sentindo a raiva e a tristeza borbulharem dentro de mim. Preciso confrontar Hoseok e entender por que ele nunca me contou sobre isso, mas algo se quebra no meu peito e não quero falar com ele, não agora.

Sinto uma pontada na barriga e, ainda bem que eu estava deitada, me falta o ar. Tento manter a calma porque sei que não posso ficar nervosa, mas é impossível depois de lembrar que eu tenho culpa nisso. Agora eu entendo por que não senti nenhuma emoção quando soube da gravidez, por que não senti um sentimento puro e genuíno pelo meu filho. Era minha culpa, lá no fundo eu sabia que isso custaria um preço. Eu coloquei um preço no meu filho e concordei com isso. Enquanto tento processar tudo, as lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto. A culpa, a tristeza e a raiva se misturam, criando um turbilhão de emoções. Sinto-me perdida e traída, mas também furiosa comigo mesma por ter aceitado essas condições.

Como pude permitir que minha vida chegasse a esse ponto? Como pude concordar com um acordo tão cruel e insensível?

Fecho os olhos e respiro fundo, tentando acalmar minha mente e corpo. Sei que, pelo bem do meu bebê, preciso encontrar uma maneira de lidar com essas emoções de maneira saudável. Mas a dor e a culpa são avassaladoras.

Sei que preciso fazer algo para mudar essa situação. Não posso continuar vivendo com tanta dor e ressentimento. Preciso encontrar uma maneira de reconstruir minha vida, de encontrar paz e felicidade para mim e para o meu filho.

Decido que, embora agora não seja o momento de confrontar Hoseok, eventualmente precisarei ter essa conversa. Mas, antes disso, preciso encontrar força dentro de mim. Preciso redescobrir meu valor, minha dignidade e meu amor próprio.

Respiro fundo várias vezes, tentando acalmar meu corpo e minha mente. Sei que, para o bem do meu bebê, preciso me manter calma. Mas a dor é tão intensa que é difícil encontrar qualquer forma de consolo. Percebo que não posso lidar com tudo isso sozinha. Preciso ligar para alguém e só existe uma pessoa que pode me ajudar.

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