Capítulo 27

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- Alô? - Luísa finalmente disse.

Nada.

- Alô? Namjoon?

Nada.

- Desculpa te ligar... Eu só... - Luísa pareceu nervosa do outro lado da linha. - Você deve tá ocupado, né? Só quis te desejar feliz aniversário... Então... Feliz aniversário.

Luísa jurou ter ouvido um soluço.

- Vou desligar então. Não quero atrapalhar... - Ela olhou ao redor pelo cômodo, tentando ganhar tempo e nada. Desistiu. - Tchau.

- Você me preocupou - Namjoon finalmente falou.

- Hã? - Ela respondeu de imediato, sentindo o estômago afundar.

- Você sumiu. Não me responde mais. Deletou ou me bloqueou no IG. Não sei. Eu estava a ponto de enlouquecer.

Luísa não percebeu o quão forte estava mordendo o lábio até que a pele delicada começou a arder. Ela chupou o lábio inferior para suavizar a mordida, enquanto seu cérebro a bombardeava com uma série de possíveis respostas a dar a ele. Até que seu nervosismo a fez escolher a pior delas:

- Por quê? Nós não temos mais nada... - Luísa rebateu, fechando os olhos, sentindo um arrependimento imediato. O mode fria e indiferente era acionado como mecanismo de defesa mesmo contra a sua vontade. Entretanto, isso não a impediu de sentir aquele nó formando-se em sua garganta. Engoliu com força, tentando fazê-lo desaparecer.

- Por quê? Por quê? - A voz de Namjoon soava cheia de dor. - Talvez para você tenha acabado, mas pra mim, não. Eu ainda sinto tudo. Eu lembro de tudo. E não falar com você tá me matando...

- Desculpa por isso - Luísa mordeu a bochecha, mal via, os olhos marejados, sem ter como evitar agora as lágrimas que embaçavam sua visão.

- O que você fez esses dias? O que aconteceu com o seu IG? Por que não me responde?

- Posso não te dizer? - Luísa preferiu omitir que havia chorado, bebido e mal saído da cama.

- Ou é porque eu não posso saber? - Namjoon flexionou a mandíbula, a onda de ciúme levando toda a sua razão com ela.

Luísa não respondeu.

- Às vezes eu queria poder ser como você, - o tom dele agora, parecia um tanto sarcástico - fazer o que eu bem quisesse, o que me desse na telha...

Mesmo sentindo que cada uma daquelas palavras era como um relâmpago de dor que latejava em seu coração, Luísa queria continuar ouvindo aquela voz. Ajeitou-se no chão, enxugando as lágrimas de qualquer jeito, e perguntando:

- E o que você faria se pudesse? Quero dizer, - ela soltou o ar como um soluço - se pudesse fazer o que bem entendesse...

- Se eu pudesse? - Ele responde prontamente, sem titubear. - Eu estaria em um voo indo pra São Paulo. Agora.

A confissão do que ele faria se fosse livre, a atingiu como uma bola em seu estômago, revirando-a por dentro. Não era apenas por ser tratar de mais uma das tantas declarações lindas de amor que ele fazia a ela, mas mais que isso, Luísa temia que um possível ato inconsequente, - como o de vir ao Brasil, ser reconhecido e não ter nenhum motivo profissional como justificativa - desse margem para as especulações começarem.

- Eu tô com saudade... Com tanta saudade, que eu acho que eu vou enlouquecer... - ele confessou, choroso.

Luísa limpou novamente as lágrimas que rolaram e decidiu mudar o rumo da conversa.

- Feliz aniversário Nam - ela reafirmou, engolindo em seco, mirando as flores secas de alguns dos últimos buquês que ele havia enviado. Eles pararam de chegar depois de um tempo.

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