Capítulo 16

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No inferno dos espelhos, de volta à quando Mitsuba puxou Kou para lá em meio a briga, as mãos acabaram sendo brutas no puxão e por isso Kou estava ajoelhado no chão, assustado, porém ao mesmo tempo aliviado de sair de perto do seu irmão.
Mitsuba se ajoelhou diante do loiro e o abraçou de leve, sem hesitar por um segundo sequer. Uma de suas mãos foi para as costas do vivo, e a outra foi para a ponta de seus cabelos curtos, lisos e dourados, acariciando-os de forma gentil.

De início, Kou não retribuiu. Mas, era fato que ele estava muito feliz de Mitsuba estar alí, ao seu lado e bem. Lentamente, se permitiu apoiar sua cabeça no ombro pequeno do menor, com o rosto perto do pescoço dele. De leve, Mitsuba fez pouco mais de força no abraço para manter Kou por perto e encarou o espelho do qual ele veio. Dele, era possível ver o rosto de Teru, encarando o espelhinho confuso e atordoado.

Seus olhares se encontraram por alguns instantes, antes de Mitsuba fechar a passagem por aquele espelho.

– Ele já foi, Kou – afirmou Mitsuba, tentando parecer o mais tranquilo possível para que o loiro também pudesse se tranquilizar.

– Você está bem... – comemorou Kou, com a voz rouca e falha – que bom... Mitsuba, que bom...

– É...é claro que eu estou bem, ele não tem como chegar aqui sem que eu deixe! – respondeu ele, um tanto sem jeito, colocando uma mecha rebelde do cabelo de Kou atrás de sua orelha – E se entrar, esse lugar é meu, então eu posso dar uma boa coça nele! – ele sorriu um pouco, e colocou uma de suas mãos na bochecha do Minamoto, dando um tapinha nela. E então alterou sua expressão facial para uma mais séria e perguntou– Mas e você, hein?! O que você pensa que estava fazendo?!

– Hã? – fez Kou, surpreso com a mudança rápida de humor do menor.

– Nada de "hã"! Quem mandou você enfrentar seu irmão?! Tu não tem amor a vida?!– brigou Mitsuba, puxando uma das bochechas de Kou para o lado, fazendo o reclamar, apesar de Mitsuba fazer questão que não o machucasse de verdade.

– Ai! Calma! Ele é meu irmão, não vai fazer nada comigo! – respondeu Kou, puxando a cabeça para trás para se soltar de Mitsuba, mas por causa disso, quando Mitsuba o soltou, ele quase caiu para trás.

– Quem?! O senhor "eu não vou ter escolha se não exorcizar você e seu amante juntos"?! – questionou Mitsuba – Aliás, que história é essa de virar sobrenatural?! Você ia me contar isso quando?!

Kou calou-se. De fato, não havia planejado contar para Mitsuba sobre isso tão cedo. O que aconteceu é que ele simplesmente descobriu essa possibilidade graças ao Natsuhiko, e assumiu-a como meta para si, mas depois que falhou em contar à Nene sobre isso durante as férias de verão, simplesmente não considerou compartilhar isso novamente.
Mitsuba, por outro lado, não parecia estar bravo mesmo com aquilo. Ele sentia uma agonia em seu peito quando pensava que Kou poderia ter feito uma coisa dessas, mas uma alegria imensa por ele estar alí e bem. Era simples na verdade. Ele era grato pelo presente e temia pelo futuro. Quem sabe não existisse um único nome para aquele sentimento que sentia.

– Eu não pensei direito nessa parte... – respondeu Kou, coçando a nuca – Eu pensei que não teria problema, sabe? Era por você também, no fim...

– É lógico que tem problema! Eu amo você, você é muito fofo quando é gentil assim! Mas é justamente por te amar tanto que não posso deixar você ser gentil enquanto isso te machucar! – proferiu Mitsuba, se levantando com tudo e colocando as mãos no ombro de Kou – Se vai fazer algo por mim, fala comigo! Pelo amor de deus, não é mais para tentar decidir esse tipo de coisa sozinho! Não resolva tudo sozinho porque você não está sozinho! – ordenou ele, apesar de ter soado mais como se ele estivesse implorando por tudo que lhe era mais sagrado, mesmo que o que ele tinha de mais sagrado fosse Kou.

– Mas...

– Espera eu terminar! – pediu Mitsuba, colocando o indicador nos lábios de Kou para que ele simplesmente não falasse – Se eu prometi para você não ser exorcizado naquele dia, agora você vai me prometer para mim não jogar a sua vida fora por mim e nem por ninguém, por nenhum motivo! Okay? – ele fez uma pausa, esperando que Kou respondesse qualquer coisa. Visto que não o fez, repetiu com maior voracidade, assustando o mais velho – Okay?!

– Sim...– respondeu Kou sem jeito. Depois disso, Mitsuba pareceu se acalmar. Estendeu sua mão para que Kou pudesse se levantar também, na qual ele aceitou, e então o puxou para cima.

Mitsuba parou e observou Kou por um tempo depois que ele se levantou. Seus olhos azuis estavam baixos, sem olhar de volta para os de Mitsuba, suas mãos agarravam-se nos cantos da camisa de seu uniforme escolar azul de forma que puxasse o tecido um pouco para baixo, seus lábios estavam sendo mordidos por seus próprios dentes, e ele piscava duro repetidas vezes.
Estava, evidentemente, um pouco atordoado com o sermão que Mitsuba proferiu, como uma criança que levou bronca dos pais, e o próprio reconhecia que podia ter exagerado.

Apesar de saber disso, não se arrependia. Só a ideia de que Kou pudesse se sacrificar tanto pelos outros lhe dava uma dor atroz em seu coração fraco e artificial. Além do mais, não tinha como saber se Kou realmente cumpriria uma promessa, teimoso do jeito que era. Não gostava de pensar nessa possibilidade, de jeito nenhum.

Logo, tentar deixar o Minamoto por perto e tentar fazê-lo se esquecer dessa ideia era o melhor que podia fazer, mesmo que ele não tivesse ideia de como. Como você faz para que alguém não vá embora? O que faz as pessoas ficarem por perto? Ele não fazia ideia do que fazer.

De repente, Shijima veio descendo as escadas da parte mais alta da torre para ver de perto o que estava acontecendo.

– Você deveria usar o resto do tempo que o Tsuchigomori te deu para descansar por aqui mesmo. – proferiu ela, casualmente, enquanto andava com passos curtos e um pouco rápidos, apesar de não estar correndo– Aqui, é certeza que seu irmão não vai aparecer, como ele já disse.

– Shijima Mei? – indagou Kou, surpreso com a presença da Mistério número 4, que ele não via desde aquela pintura.

– Achei que você já tinha ido embora! – comentou o mais baixo, parecendo um tanto amoado.

– Por que eu iria? Ficou envergonhado por eu ter visto sua demonstração de preocupação quando você percebeu que os Minamoto estavam brigando~? Oh, já sei! Vocês iam se beijar e fazer coisas de namorado~?– zombou a garota, levantando seu óculos com a ponta do dedo indicador para ajustar melhor ao seu nariz arrebitado – Estou aqui ainda porque sua fronteira é um lugar surpreendente confortável para se desenhar, principalmente os andares de cima que são mais próximo a luz solar! Talvez eu traga minha tela e tintas a óleo aqui algum dia desses...

Kou precisava concordar que Shijima tinha razão, aquele lugar era de fato muito confortável para se estar. Mas não sabia ao certo se ele podia dizer o mesmo quando Mitsuba não estava alí com ele, iluminando o lugar com seu belo rosa. Sem ele, poderia parecer mais como um inferno dos espelhos literal.

Em resposta, o rosado apenas virou o rosto de lado, fazendo bico, como uma criança de birra. Kou não pôde deixar de rir com a atitude dele, o que deixou o clima menos tenso para os dois. Mitsuba até mesmo se permitiu sorrir para Kou, de modo sútil, cobrindo a própria boca com a manga do seu suéter rosa.

Shijima Mei não perdeu seu tempo observando a cena, vendo que o gelo já havia sido quebrado e seu trabalho estava feito, ela se retirou. Foi até o espelho que levaria até a sala do clube de artes do colégio Kamone, para voltar a suas atividades cotidianas e deixou um pequeno papel atrás dele antes de sair.

Os dois mal perceberam a saída dela, agora que estavam mais calmos e envoltos por um ar mais agradável apenas entre eles. Suas mentes pareciam mais claras e limpas também.

Logo, de súbito, Kou pegou a mão de Mitsuba que estava na frente de seus lábios e retirou-a com cuidado, dando um selinho rápido nele. Foi uma surpresa para o sobrenatural, que só pôde encarar o Minamoto com as bochechas coradas quando ele fez isso.

– Mitsuba, obrigado por se preocupar comigo... Tá tudo bem agora, e vai continuar assim! – falou ele, de forma mansa e com um volume baixo.

Mitsuba assentiu lentamente, ainda sorrindo.

– Acho bom mesmo...

✧A História De Mitsuba✧(TBHK ~ Mitsukou)Onde histórias criam vida. Descubra agora