Capítulo 23

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"A masmorra, calabouço, ou seja lá o que chamam aquela caverna fria com correntes e grades, era fria, fedia e era úmida. Tinham várias goteiras caindo de cantos aleatórios, inclusive na cabeça do assassino acorrentado alí.

– Não existe um método de tortura assim lá na China? – questionou Soutsuba, estressado, para o príncipe, também acorrentado, na cela ao lado.

– Você quem deveria saber, não deveria? – perguntou Kokke, do outro lado da parede.

– Eu matei algumas pessoas, mas nunca torturei ninguém! E mesmo se tivesse, eu não sei todos os métodos de tortura do mundo, seu burro! – debateu-se Soutsuba, balançando as pernas repetidamente e puxando o corpo para frente, para tentar se soltar pela quinta vez nos últimos dois minutos.

– Tá bom, desculpa! – disse Kokke, soando mais como um resmungo do que como um pedido de desculpas.

O silêncio retornou. Não valia a pena discutir nessa situação precária, ainda mais considerando que a de Soutsuba estava pior: além da goteira bem na sua testa, que de acordo com ele era um método de tortura chinês, ele tinha o dobro de correntes em comparação ao príncipe, que só estava amarrado nas mãos e pés, enquanto ele era acorrentado dos pés ao pescoço, como se as correntes fossem uma camisa de força. Provavelmente fizeram isso considerando que o de cabelos rosa com certeza escaparia se fosse acorrentado só nas mãos e pés.

Passado um tempo, dois pares de passos ecoaram pela masmorra, descendo suas escadas espiraladas de pedra. Um dos pares calçava um coturno, adivinhava Soutsuba pelo som, enquanto o outro era uma sapatilha com salto alto. O mesmo que usava o coturno carregava consigo objetos pequenos, que balançavam de um lados para o outro, batendo nele e em uns aos outros, provavelmente relógios. Já a pessoa que usava os saltos provavelmente também estava usando um vestido longo, de um tecido leve e fino, cujo era possível ouvi-lo se arrastando pelo chão. Evidentemente, era um garoto e uma garota, pouco mais velhos que ele. O garoto estava irritado, já que pisava forte; e a garota, que a julgar pela elegância, ritmo e confiança em seus passos, era uma figura importante da realeza, parecia completamente tranquila.

Quando as figuras já estavam perto o suficiente para serem vistas, o assassino percebeu que só cometeu um erro dos mais básicos que alguém poderia cometer ao analisar os sons: haviam 3 pessoas alí.

A primeira era a princesa Aokon, de Rabanetes, que arrastava seu longo e esbelto vestido lilás, cheio de babados e com mangas bufantes, pelo chão de pedra da prisao. Seu rosto simétrico e fino apresentava seu típico sorriso deslumbrante, cujo Soutsuba se lembrava bem de ver em eventos que a realeza vinha a praça, já que nascera em Rabanetes.

O segundo era Akan del Horloge, usando um coturno de couro preto, com seus relógios em vários bolsos e alguns pendurados na sua roupa. Diferente do que os seus passos fortes no chão demonstravam, seu rosto parecia sério e formal, mas pequenos traços de tensão eram demonstrados. Por exemplo, sua veia jagular saliente no pescoço e seus punhos cerrados.

Já o terceiro era o próprios príncipe Tekke, irmão de Kokke. Soutsuba não reparou nas características dele do dia que foi preso, mas se tivesse reparado, provavelmente teria se entregado mais facilmente. Seus passos e respiração não tinham som algum, suas roupas estavam posicionadas de um jeito que não farfalhassem, como o vestido lilás da princesa fazia. Seu olhar era azul, mas não como o tranquilo oceano, como os belos olhos de Kokke. Era um azul penetrante, apesar de melancólico, como o céu, que via tudo que acontece onde seu azul banha, e por acaso Soutsuba estava bem abaixo desse céu.

Outro detalhe que também impressionou-o foi sua falta de movimentos desnecessários, onde mesmo no seu jeito de andar, ele não se excedia além do necessário. Na sua cintura, uma espada com seu cabo totalmente limpo, como se a arma não fosse empunhada à tempos. Provavelmente não era necessária aos olhos daquele predador, que conseguia lidar com suas presas com menos do que isso.
Um último detalhe que o surpreendeu em demasia, apesar de não contribuir com sua insegurança em relação a ele e nem ser sequer relevante: ele era um homem vitruviano, perfeição que Kokke estava próximo de alcançar também.

✧A História De Mitsuba✧(TBHK ~ Mitsukou)Onde histórias criam vida. Descubra agora