Capítulo 2

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Um dia se passou desde que Mitsuba não terminou a história. Kou estava novamente, no mesmo horário e no mesmo banheiro, batendo no espelho. Dessa vez, Mitsuba apareceu mais rápido, afinal, já estava esperando-o.

Ele estava, pela primeira vez, com seus cabelos rosas soltos, estando eles em em seus ombros. O sobrenatural também havia prendido a franja, mostrando seus dois olhos pela primeira vez. Kou ficou um pouco sem graça com isso, mas o achou um tanto quanto belo.

Mitsuba saiu do espelho, e olhou para os vários petiscos que Kou carregava, com um olhar um tanto surpreso.

– O que que é tudo isso? – perguntou Mitsuba, intrigado.

– Ontem, eu te ouvi sem comer nada, cheguei em casa tarde e ainda tive que cozinhar. – explicou Kou – Cheguei até mais tarde que Teru, e você não tem noção do que é isso! Então hoje, eu não vou cometer o mesmo erro! – declarou ele, colocando um de seus pés na pia para entrar na fronteira do no.3.

– Você tá impaciente, a história tava tão boa assim?! – observou Mitsuba, abrindo os espelhos corretamente para que pudessem entrar – Eu sei que eu sou maravilhoso e fofo, mas você tá ansioso demais...

– Eu só tô curioso para saber se aquele Kokke morreu, nada demais – respondeu, pulando para dentro da fronteira, sendo seguido por Mitsuba, que voou delicadamente logo atrás.

Kou sentou-se no chão, como fez da última vez, e colocou seus petiscos entre ele e o sobrenatural, como se estabelecendo uma certa distância entre eles.

Havia alí uma marmita com um pudim que o próprio Kou havia feito, um salgadinho que ele comprou na lojinha da esquina, um pedaço de pizza que havia sobrado em sua casa e duas latas de refri.

Ele pegou as duas, e ofereceu a de sua mão direita para Mitsuba, que aceitou. Ambos beberam tudo em um único gole, quase que ao mesmo tempo, com a diferença de que Mitsuba terminou um pouco antes, e assistiu enquanto Kou terminava a lata dele.

Nesse momento, ele reparou no sorriso que Kou sempre tinha em seus lábios, um que sempre mostrava suas pequenas presas de Minamoto. Era estranho, já que presas eram uma característica mais de um sobrenatural que um humano.

Se alguém aparecesse agora, pensaria que Kou provavelmente era o fantasma, graças a seus vários adornos exagerados e pesados, o bastão que ele sempre carregava, suas  presas ferozes, seu cabelo anormalmente porém perfeitamente loiros e seus olhos tão brilhantes que chegava a ser assustador que uma pessoa pudesse ser tão pura. Se ele fosse um espirito, seria o espirito de uma criança desiludida e injustiçada, morta antes de saber o que é certo ou errado, uma criança treinada para ser um exorcista porque essa foi a única coisa que ele conhecia.

Era completamente diferente dele. Ele era uma cópia de alguém bom e amado, e que por acaso se tornou um monstro tão terrível como um devorador de sobrenaturais e, na pior das hipóteses, humanos.

Ao pensar sobre a parte dos "humanos", ele olhou para os dedos de Kou. Os curativos ainda estavam lá, do encontro no aquário, a vez que ele mordeu o loiro, que até agora tinha uma certa dificuldade em movimentar esses mesmos dedos. O rosado se culpava por ter mordido tão forte, ele estava desesperado para comer, mesmo que não quisesse admitir isso.

Kou terminou a lata e Mitsuba parou de pensar sobre isso.

– Onde eu posso jogar o que eu comer? – perguntou Kou, seus olhos azuis a procura de alguma lixeira na fronteira.

– Ah, pode jogar naquele espelho alí! É onde eu geralmente jogo coisas que não quero aqui! – respondeu Mitsuba, apontando para um trio de espelhos retangulares alinhados. Kou assentiu, e obedeceu, mesmo sem saber o que estava do outro lado.

✧A História De Mitsuba✧(TBHK ~ Mitsukou)Onde histórias criam vida. Descubra agora