Capítulo 20.5

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"As paredes tem ouvidos", é um ditado um tanto quanto popular. E de fato, nas paredes daquele banheiro, um fantasma intrometido ouvia o que podia da conversa entre Kou e Mitsuba. Apesar do que se pode pensar, entretanto, não ouvia o casal por pura fofoca, mas por uma função muito importante que era impedir que a escola colapsasse, como líder dos 7 mistérios do colégio Kamone.

Mas acabou o barato quando começaram a sussurrar, e Hanako já não podia mais fazer nada além de esperar que voltassem a falar em alto e bom som, o que infelizmente não aconteceu, e a troca de sussurros continuou até Mitsuba voltar para sua fronteira e Kou sair do banheiro, para então ver Hanako.

De início, só se encararam. Hanako com um olhar de quem foi pego aprontando, e Kou com um de quem o pegou. Apesar disso, por incrível que pareça, era o contrário.

O Minamoto olhou para um relógio qualquer que tinha na parede, vendo quanto tempo ainda tinha, meia-hora, e então andou um bocado para os jardins do colégio, com o fantasma em sua cola. Depois de 5 minutos, ele parou próximo aos jacintos, no canto mais isolado do campo, e se sentou no chão, com as costas apoiadas na parede.

– O que é que te preocupa? – perguntou Minamoto Kou, sério.

– Como é, guri?! – questionou ele, sem entender direito o porquê do guri já assumir que ele estava preocupado com algo. Não que não seja verdade.

– Você estava ouvindo atrás das paredes, se eu te encontrei no corredor não foi coincidência, de jeito nenhum!

– Verdade, inclusive, parabéns para o casal! Não sabia que você jogava no outro time! – comentou Hanako, voando de um lado para o outro, tomando cuidado para não falar algo que denunciasse que ele ainda estranhava esse tipo de coisa, por não ser habitual da sua época.

– Sem essa, acho que dá para dizer que eu corto para os dois lados...? – corrigiu ele, meio sem jeito de falar dessas coisas em voz alta. Hanako apenas encarou-o como se perguntasse "dá para fazer isso?" ou "como é que você descobre essas coisas?", mas Kou nem pareceu perceber e só continuou – Agora responde, o que é que te preocupa comigo e com o Mitsuba?

– Por que é que você já pulou para conclusão de que eu estou preocupado?! – resmungou ele, cruzando os braços, apenas para receber um olhar meio morto do Minamoto. Seu coração, já frio, pareceu congelar de vez quando viu os olhos azuis do guri, tentando arrancar palavras dele – É sério! Calma! Eu não estou preocupado por culpa de vocês dois! Estou preocupado por vocês!

Kou não entendeu de início, demorando alguns segundos para entender. Gramática e interpretação não era muito o seu maior forte, já que não lia com frequência. A última história que conheceu foi a que Mitsuba lhe contou, mas era algo oral, e não escrito, então também não ajudava.

Entretanto,"pela culpa" e "por" tinham lá suas diferenças.
Por exemplo, Kou estava naquele campo de jacintos tristes por Mitsuba, mas por culpa de seu irmão. De modo geral, "por" é algo que nos faz querer fazer algo. "Por culpa", não obstante, é totalmente forçado nesse contexto.
Hanako estava preocupado por Mitsuba e Kou, mas a culpa disso nunca foi eles, era justamente o contrário.

– Vai dar tudo certo... – disse Kou, calmamente, antes de se calar por completo em seguida.

Obviamente, Hanako ficou com um pé atrás em relação ao que eles fariam. Dependendo do que fosse, não só se machucariam em demasia, mas machucariam os outros também.

Afinal, se Mitsuba virasse um exorcista, seria um problema entre os 7 mistérios, mesmo considerando que Hanako não sabia do canibalismo de Mitsuba. Já que, tudo que Teru mandasse ele fazer, ele faria, e se isso fosse colocar um fim nos 7 mistérios, assim seria. E o próprio Mitsuba seria seu alvo, quando não houvesse mais nenhuma função para ele, ou na pior das hipóteses, se ele deixasse de ouvir Akane Aoi.
Por outro lado, se não o fizessem, Kou e Mitsuba teriam seus dias contados pela vontade de Teru, sem nem chance para Akane Aoi tentar controlar o Minamoto. Se Kou tentasse impedir e fugir com Mitsuba, até o próprio irmão poderia ser alvo.

São muitos prós e muitos contras em ambas as possibilidades, mas se Hanako tivesse ouvido o que Mitsuba e Kou falaram aos sussurros, ele não se preocuparia tanto.

Mesmo se remoendo tanto quanto ao que poderia acontecer, foi embora, deixando Kou alí.

No momento que se viu sozinho de novo, pegou seu celular e mandou uma mensagem para Akane.

"Oi, veterano Akane! O Teru está sem celular por causa da enchente em casa, como você já deve saber! Pode passar um recado para ele?
Fala que eu quero falar com ele no campo de jacintos, é importante! Obrigado!"

Escreveu, colocou uma figurinha de um leão fazendo joinha que Yokoo lhe mandou uma vez e ele adorou. Em pouco tempo, Akane ficou online e apareceu que estava digitando. Não foi uma mensagem muito longa, logo, foi bem rápido. Nela, estava escrito o seguinte:

"Você sabe que esse leão é da PROERD, né"

"Cuidado para quem você manda ele para não levarem como ofensa"

"E essa é a última vez que eu vou servir de garoto de recados entre você e seu irmão"

"Ele tem dinheiro para comprar um celular novo para ele porra"

Vistas as respostas, o Minamoto desligou o celular e deu 3 batidas com a ponta da unha no espelho do blush que Mitsuba o entregou. Como esperado, o rosado apareceu no reflexo. Haviam combinado que Kou carregaria o espelho durante toda a conversa, e apareceria para intervir caso se faça necessário. Para isso, Mitsuba emprestou-lhe o espelhinho do blush que ele sempre usava para voltar para a fronteira, assim Kou poderia manter contato sempre que necessário.

O loiro colocou o pequeno espelho entre as flores lilás de jacinto atrás dele, aberto, e perguntou:

– Consegue me ver daí?

Mitsuba acenou com a cabeça positivamente.

– E você consegue me ouvir?

Ele acenou novamente, e escreveu alguma coisa no vidro do espelho com o canetão vermelho que ele roubou da sala dos professores, geralmente usado para escrever em lousas brancas:

"Se eu consegui responder a primeira pergunta, é óbvio que eu te ouço! Brincos bregas besta!"

– Não precisa ser grosso assim! – resmungou o Minamoto – E tenta não gastar essa tinta sem ser necessário, já vi esse troço acabar muito no meio da aula!

O sobrenatural apagou com a manga da blusa, emburrado, e mostrou a língua para o Minamoto.
A seguir, ele tentou não olhar muito para o espelhinho, assim, caso Teru chegasse, ele não perceberia o espelho ali. Então esperou por mais 5 minutos, sentado, com as pernas abertas, enquanto comia o Takoyaki que Yokoo comprou para ele.

Até que finalmente, Teru chegou, mas não sozinho. Akane estava com ele, sem os seus óculos e com o relógio bem aí seu alcance, definitivamente pronto para parar algum conflito entre os irmãos. Era até tranquilizante ver a presença dele ali, o que fazia um equilíbrio perfeito com a presença ameaçadora do Minamoto mais velho. A visão dele chorando e falando que exorcizaria tanto Kou quanto Mitsuba não havia saído da sua cabeça ainda, então ele estava um pouco hesitante.

Mesmo assim, levantou-se e disse:

– Valeu por virem.

– É claro que eu viria, você é meu irmão. – afirmou Teru, sorrindo um pouco – Então, você disse que é importante... Mitsuba já te falou da proposta, não falou?

– É sobre isso que eu queria falar, na verdade.

– Diga, então. Você é contra? – perguntou Teru. Talvez Akane tenha sentido alguma ameaça vinda do loiro, já que ele deu alguns passos a frente e o encarou de forma opressora.

– Pelo contrário, nós conversamos e vamos aceitar a proposta, se você aceitar algumas condições.

✧A História De Mitsuba✧(TBHK ~ Mitsukou)Onde histórias criam vida. Descubra agora