DIAS DE UM PASSADO ESQUECIDO

NOVA YORK - HELL'S KITCHEN

A sensação de tremor percorre o corpo de Yelena, acompanhada por um choque que reverbera por toda a sua estrutura. As palavras de Madame B ecoam, acusatórias e pesadas, como um fardo que Yelena não se recorda de ter carregado. A expressão de decepção da Madame é acentuada, repreendendo a Viúva Negra por ter se deixado envolver por sentimentos, algo que parecia contradizer com propósito imposto de ser a melhor.

- É tudo culpa sua, parece que esqueceu para o que você foi treinada. Você é como mármore, seu propósito é sempre ser a melhor, porém acabou se deixando levar por sentimentos, diz Madame B com uma frieza cortante. As palavras, afiadas como lâminas, perfuram a barreira interna que Yelena construiu ao longo de anos de treinamento intenso.

- Logo você, Yelena. Estou decepcionada.

O peso das palavras ditas por Madame B é avassalador, deixando Yelena paralisada por um momento. A busca incessante pela perfeição, pelo controle total das emoções, parece ter falhado, e o rosto da Viúva Negra reflete a intensidade do impacto. Ela tenta manter a postura, mas a torrente de emoções internas ameaça transbordar.

Madame B, por outro lado, permanece imperturbável, como se estivesse diante de um quebra-cabeça cujas peças teimam em se desalinhar. O olhar penetrante da mentora parece escarafunchar as profundezas da alma de Yelena, desvelando as camadas que ela própria tentou esconder.

- Você treinou para ser a arma perfeita, para ser inabalável. O que houve para que você se desviasse desse caminho? questiona Madame B, sua voz cortante como uma navalha.

A perplexidade toma conta de Yelena, cuja mente é atormentada por uma série de perguntas intrigantes. Por que ela não se lembra dessa parte de sua vida, desse momento que parece flutuar como uma sombra no passado? As palavras acusatórias de Madame B reverberam em seus ouvidos, lançando dúvidas sobre a narrativa de sua própria existência. Ela busca respostas, mas o véu do esquecimento parece envolver suas lembranças como uma névoa persistente.

- Por que Madame B insiste em dizer essas palavras? Eu não me lembro de ter infringido qualquer regra, murmura Yelena consigo mesma, suas feições estão contorcidas pela confusão. O enigma do passado, agora trazido à tona, desencadeia uma busca interior pela verdade, enquanto ela tenta desesperadamente reconstruir os fragmentos perdidos de sua história.

As lembranças de treinamentos intensos, missões secretas e o rigor da Sala Vermelha formam a tapeçaria de sua história, mas esse capítulo apagado permanece como um enigma desconcertante. Yelena se vê diante de um quebra-cabeça intrincado, onde as peças essenciais foram obscurecidas por uma amnésia perturbadora.

- Não se esqueça que a culpa é única e exclusivamente sua. Vocês serão punidos, os dois infringiram as regras da Sala Vermelha. A voz incisiva de Madame B ressoa em seu sonho, como um eco implacável. O tribunal de julgamento que se desenha na Sala Vermelha é um teatro de sombras, onde os pecados do passado emergem para serem confrontados.

A Sala Vermelha, palco de treinamentos rigorosos e segredos insondáveis, agora se transforma em um tribunal de julgamento onde as sombras do passado são arrancadas da escuridão. Yelena sente o peso do olhar acusador de Madame B, como se estivesse prestes a ser julgada não apenas por suas ações atuais, mas por um passado nebuloso que ela mal consegue vislumbrar.

A sensação de músculos enrijecidos, corpo atrofiando e a falta de ar formam uma dança angustiante no intricado tecido do sonho de Yelena. Este não é apenas um devaneio noturno comum; é uma imersão profunda em sua própria vulnerabilidade e desespero, onde as fronteiras entre realidade e imaginação se diluem em uma tapeçaria onírica.

Dentro desse cenário enigmático, Yelena encontra-se sentada em um canto, seu corpo recusando-se a obedecer. A rigidez dos músculos é uma barreira intransponível, enquanto a sensação de atrofia sugere uma perda gradual de controle sobre sua própria forma. A falta de ar intensifica o sentimento de aprisionamento, como se o oxigênio fugisse do ambiente onírico, deixando-a lutar desesperadamente por cada respiração.