DEIXE A LUZ ENTRAR

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Enquanto Yelena sobe as escadas, Melina se afasta silenciosamente em direção à cozinha, com a mesma serenidade e dedicação que sempre demonstrou ao longo dos anos. Os aromas familiares de alho e ervas começam a preencher o ambiente, trazendo uma sensação de conforto para a casa. Melina prepara o jantar com gestos precisos e calmos, como se a rotina do preparo fosse um ritual para garantir que tudo continue da mesma forma, uma âncora de estabilidade em meio a tantas mudanças.

Yelena sente o cheiro familiar que vem da cozinha, mas isso não é suficiente para distraí-la dos sentimentos que crescem dentro de si. Ela continua a subir, seus dedos se fechando um pouco mais firmemente em torno da alça da mala. Ao chegar no topo da escada, ela para por um breve momento, respirando fundo. O ar parece mais pesado aqui, carregado de lembranças. Cada passo em direção ao seu quarto é como um retorno ao passado.

Com um suspiro profundo, Yelena finalmente empurra a porta do quarto, e, ao fazê-lo, é imediatamente envolvida por uma onda avassaladora de nostalgia e tristeza. O quarto permanece quase intocado desde a última vez que esteve ali. A cama está feita, os móveis no mesmo lugar, mas o que realmente a atinge são as lembranças. A visão de objetos familiares a transporta de volta ao passado, a momentos que ela preferia esquecer, mas que agora a inundam como um vendaval incontrolável.

A respiração de Yelena fica mais rápida, e ela sente o peso dessas memórias ameaçando afogá-la. Ela fecha os olhos por um momento, tentando afastar a dor que ressurge, mas as lembranças são teimosas, insistentes, como se quisessem forçá-la a reviver cada emoção, cada perda, cada decisão errada. Determinada a escapar desse turbilhão de sentimentos que a consome, Yelena sabe que precisa de um momento para se recompor, para encontrar alguma forma de tranquilidade em meio ao caos interno.

Ela decide que o único refúgio possível agora é nas águas geladas da banheira. É um ritual antigo, algo que ela fazia quando a mente e o corpo precisavam de uma pausa, um momento de silêncio para reorganizar os pensamentos e as emoções. Sem pensar muito, ela se dirige ao banheiro, deixando a mala ao lado da cama, esquecida por enquanto. Yelena entra no banheiro e, em poucos minutos, a banheira está cheia de água. A superfície calma das águas reflete seu estado emocional: tumultuada por dentro, mas em busca de quietude.

Yelena se despe lentamente, deixando cada peça de roupa cair no chão de forma quase automática. A frieza da água a recebe como um abraço inesperado, um choque de realidade que contrasta com o turbilhão emocional que ela tenta suprimir. Sentada na banheira, ela sente o frescor penetrante da água envolver sua pele, e por um breve instante, é como se toda a dor que carrega se dissipasse, absorvida pelo frio. O som da água é o único som no quarto, e ela se deixa afundar um pouco mais, sentindo-se protegida naquele pequeno refúgio temporário.

Cada gota fria é uma metáfora para os sentimentos que ela tenta congelar dentro de si, uma tentativa de paralisar a dor, a perda, e a saudade. Lá fora, a nevasca continua a cair, cobrindo o mundo em uma camada branca e silenciosa, mas aqui dentro, no calor do lar e no contraste do frio da banheira, Yelena está sozinha com suas lembranças, tentando se proteger delas e, ao mesmo tempo, revivê-las.

Ela fecha os olhos e, por um instante, se permite mergulhar completamente naquelas memórias que tanto a perseguem. A água parece trazer à tona lembranças, como se o frio penetrante estivesse abrindo portas que Yelena havia trancado há muito tempo. Ela se vê de volta ao passado.

- E se você nunca mais voltar para a minha vida, James? O que eu vou fazer? Yelena pergunta, sua voz tremendo de medo e angústia.

Ela levanta a cabeça, seus olhos verdes cheios de lágrimas encontrando os olhos azuis dele, que brilham com uma mistura de dor e amor.

DIAS DE UM PASSADO ESQUECIDO Onde histórias criam vida. Descubra agora