SONHOS OU PESADELOS

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Yelena se torna consciente do seu entorno a realidade ainda está obscurecida pelos resquícios do pesadelo que a assombrava. Os fragmentos do sonho dançam em sua mente, uma coreografia caótica misturada aos objetos derrubados e ao corte na testa, recordações físicas de sua tentativa desesperada de escapar da escuridão do sonho ou melhor pesadelo.


A confusão se instala em sua mente como uma tempestade, alimentada por uma pergunta sem resposta clara: fugir de quem? E de quê? A resposta parece escapar de sua memória, perdida na nebulosidade de lembranças indistintas. Lágrimas ainda escorrem por seu rosto, vestígios da agonia enfrentada nos confins do pesadelo. Yelena, mesmo consciente da realidade, sente-se cansada e frustrada, como se carregasse o peso de um passado relutante em se revelar por completo.


Matt, seu apoio constante, a abraça com firmeza, acariciando seu cabelo com cuidado. Ele se levanta da cama, busca a caixa de primeiros socorros e realiza um curativo cuidadoso no corte de Yelena. Uma expressão de preocupação marca o rosto de Matt, uma familiaridade que revela a rotina estabelecida entre eles, um ritual de conforto e apoio. Desde que decidiram compartilhar suas vidas juntos, Matt compreendeu a complexidade dos sonhos de Yelena, uma teia intricada conectada a uma parte sombria de seu passado na Sala Vermelha e, acima de tudo, de sua vida.


Com o curativo finalizado, Matt se afasta temporariamente, dedicando-se a enviar algumas mensagens. Yelena observa a aflição em seus gestos, reconhecendo a atenção dedicada a ela sempre que os pesadelos a assombram. A dedicação de Matt é uma manifestação tangível do amor profundo que ele nutre por ela, um suporte constante em meio às tormentas emocionais.


Enquanto Yelena observa Matt, a memória de sua promessa a Nikkita de ajudar na recepção de novos alunos na escola de dança ressurge. Impelida a retomar suas atividades cotidianas, Yelena faz menção de se levantar, mas seu corpo, ainda se recuperando do pesadelo, não coopera totalmente.


Sem hesitar, Matt guarda o celular no bolso, e dirige-se à cama onde Yelena repousa. Com cuidado, ele segura Yelena, percebendo sua tontura, impedindo-a de tentar se levantar. Com gestos gentis, Matt ajusta os travesseiros e auxilia Yelena a se deitar novamente, criando um ambiente de conforto ao seu redor.


- Ei, o que você está fazendo? Pode tratar de ficar parada onde está, pede Matt, consciente da fragilidade momentânea de Yelena, agindo como um escudo protetor contra as sequelas emocionais que ela enfrenta.


A resposta de Yelena revela sua vontade de se afastar das sombras do passado, buscando uma fuga temporária das lembranças angustiantes que ainda ecoam em sua mente.


- Matt, esqueceu que hoje tenho que ir à escola? ela questiona, sua voz carregada de uma necessidade urgente de se desconectar dos pesadelos recentes. Prometi que ajudaria Nikkita na recepção das novas crianças. Será bom que eu me distraia, ver se consigo esquecer, nem que seja por algumas horas, dessas terríveis lembranças.


A menção de ir à escola e contribuir na recepção dos novos alunos destaca a tentativa de Yelena em encontrar normalidade e propósito em meio ao caos emocional provocado pelo sonho. O desejo de retomar suas atividades cotidianas emerge como uma âncora, uma forma de se reconectar com a realidade e deixar para trás os resquícios perturbadores do pesadelo.


- Desculpe, amor, mas você não vai a lugar algum nesse estado, diz Matt, expressando sua preocupação enquanto Yelena segura firmemente em suas mãos, buscando de alguma forma aprovação para sua decisão.


- Matt, agora estou começando a me sentir melhor. Eu preciso trabalhar, ir à escola de dança hoje, insiste Yelena, sentindo a urgência de retomar suas atividades cotidianas como um antídoto para os resquícios do pesadelo que ainda ecoam em sua mente.


Matt caminha de um lado para o outro, sua expressão irredutível em sua decisão. Ele afrouxa o nó de sua gravata, joga os óculos sobre o criado-mudo e suspira pesadamente. Sua resistência em permitir que Yelena retome sua rotina reflete sua profunda preocupação e desejo de protegê-la. Ele compreende a importância do autocuidado, especialmente após os impactos emocionais causados pelos sonhos intrincados que assombram Yelena.


- Acabei de encaminhar uma mensagem para Nikkita, avisando que você não poderá ajudá-la na recepção dos alunos, pois não está se sentindo bem e decidiu ficar em casa, informa Matt, enfatizando sua decisão de zelar pelo bem-estar de Yelena.


Yelena, por sua vez, sente a frustração se misturar com a compreensão da intenção amorosa de Matt. Ela olha nos olhos dele, buscando uma compreensão mútua que ultrapasse as palavras.


- Matt, eu sei que você se preocupa, mas eu preciso seguir em frente. Trabalhar, ajudar na escola, são formas de me reconectar com a realidade, ela tenta explicar, seu olhar refletindo sua vulnerabilidade.


Matt a observa atentamente, ponderando sobre suas palavras. Ele se aproxima, segura delicadamente o rosto de Yelena entre suas mãos e diz, com suavidade.


- Eu entendo, meu amor. Mas a normalidade não precisa ser encontrada fora, às vezes está dentro de nós. Hoje, deixe-me cuidar de você, o resto pode esperar.


Yelena sente um misto de alívio ao ouvir as palavras de Matt. Ela sabe que o cuidado dele é uma forma de amor, uma âncora que a ajuda a enfrentar os desafios emocionais que envolvem sua vida e seu passado.


- Às vezes me pergunto se eu mereço tanto? Confessa Yelena, sua voz carregada de uma autocrítica que permeia seus pensamentos. A incerteza sobre sua própria valia, moldada pelas sombras do passado, emerge em um momento de vulnerabilidade.


Matt se aproxima novamente e se senta ao seu lado, sorrindo docemente.


- Você e a minha namorada, tudo o que eu faço é porque eu te amo, ele responde com ternura, suas palavras carregadas de um amor genuíno que transcende as dúvidas de Yelena. Por favor, tente descansar. Eu sei que, nesse momento, você prefere ficar sozinha, mas se precisar de mim, estou na sala resolvendo algumas coisas do escritório, e dando alguns telefonemas.


Yelena, mergulha em um misto de emoções após o profundo beijo de Matt, observando-o deixar o quarto para cuidar de suas tarefas. Enquanto ele se retira, ela se encontra diante de um espaço de reflexão. Mentalmente, Yelena repassa as palavras amorosas dele, tentando internalizar o cuidado e a ternura expressos. No entanto, a tentativa parece vã, pois, agora sozinha, Yelena percebe o peso de lembranças esquecidas de seu passado, e uma lágrima involuntária escorre por seu rosto.


O ambiente tranquilo é rompido pela voz penetrante de Madame B, cujas palavras ecoam em sua mente como um eco insistente.


- Não se esqueça que, por sua culpa, somente sua culpa, agora vocês serão punidos, a voz ameaçadora de Madame B ressoa. Suas palavras, são como punhais afiados, atingindo Yelena, desencadeando uma onda de desconforto e lembranças dolorosas das quais ela não tem interesse em lembrar e tão pouco saber se são verdadeiras ou não.


Desesperada, Yelena tenta tapar os ouvidos, buscando afastar as palavras acusatórias que ameaçam sufocá-la.


- Por favor, pare de falar. Você está morta, esse sonho, essas palavras são frutos da minha imaginação, ela sussurra, buscando afastar as vozes do passado que a assombram.


Confrontada com a dualidade entre o amor presente de Matt e as sombras persistentes de seu passado, Yelena fecha os olhos, tentando bloquear o eco das palavras amargas. No silêncio, ela busca refúgio em pensamentos mais leves, tentando desviar sua mente da voz perturbadora que insiste em emergir. Contudo, o medo do passado, representado pelas palavras de Madame B, tece uma teia de ansiedade ao redor de Yelena, tornando quase impossível ter um sono tranquilo. A tentação de voltar a dormir a assombra, Yelena sabe que será impossível escapar das garras dos sonhos intrincados que a perseguem. A fragilidade de sua mente é evidente, contrastando com a força física e emocional que ela tem tentado recuperar ao longo dos anos. O ciclo doloroso de confrontar os fantasmas do passado é uma luta constante para Yelena, e as palavras de Matt, apesar de amorosas, não conseguem dissipar completamente as sombras que a envolvem. As lembranças verdadeiras ou falsas, mesmo que estejam esquecidas no tempo, teimam em tentar ressurgir como fantasmas indesejados, desafiando sua determinação de seguir em frente com sua vida.


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