A CAIXA.

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Christopher Collins.

ㅡ Percebo a gradual partida de sua pessoa diante
de meus olhos, e no âmago, reconheço minha
incapacidade de intervir.

ㅡ Alguém do além.


Ultimamente, tenho notado uma mudança em Lis que vai além de suas palavras. Seu sorriso, que antes era radiante e contagiante, agora parece mais frágil e forçado. Suas expressões faciais revelam um cansaço emocional que não pode mais ser escondido.

Ela tenta se esforçar para dizer que está bem, mas seus olhos traem a verdade que ela tenta esconder. E eu, que a conheço tão bem, consigo sentir a dor que ela tenta disfarçar. Me dói ver alguém tão determinado e forte como ela, sucumbindo lentamente sob o peso das circunstâncias. Me dói ver que o câncer a venceu, pouco a pouco..

Cada gesto que ela faz, cada palavra que pronuncia, carrega o peso que só ela pode compreender completamente. E mesmo que ela tente ocultar suas aflições, eu consigo enxergar através da fachada que ela construiu para se proteger.

Eu me sinto profundamente grato por tudo o que Lis fez por mim, por sua presença constante, por seu apoio incondicional. E é doloroso perceber que, diante de sua própria tormenta, sinto-me impotente em poder retribuir de maneira significativa todo o bem que ela me proporcionou.

Lis está sentada à mesa da cozinha, com os cabelos bagunçados e os olhos cansados. Ela segura uma xícara de chá entre as mãos, mas parece não beber, apenas mexendo o líquido de forma distraída. Seus ombros estão caídos, como se carregasse um peso invisível. Seu olhar está perdido, como se estivesse em outro lugar, longe dali.

Eu me aproximo dela. Ela olha para mim, seus olhos se enchem de lágrimas e ela solta um suspiro pesado. Sento-me ao seu lado, sem dizer uma palavra, apenas oferecendo meu apoio silencioso.

-Filho, você não deveria estar trabalhando? -Perguntou forçando um sorriso.

-Terminei. -Menti. -Trabalhar em casa é mais fácil do que marcar presença na empresa.

-Entendi. -Olhou para a xícara. -Veio aqui por algo?

-Creio que sim. -Digo me levantando e indo até a pia. Arregaço as mangas de minha camisa e lavo as mãos. -Sabe onde foi parar as minhas cartas jogadas fora? Ou as amassadas dentro da gaveta? Tem também a caixa onde guardei algumas..

Lis me olhou e depois levou a xícara até sua boca. Permaneceu em silêncio enquanto engolia o líquido.

-Não a viu? -Ando até fruteira, pego um cacho de uva, e me sento no balcão com um só pulo. -Hoje decidi queimar todas, não sei nem porquê as copio. -Forcei um olhar amigável.

-Queimar? -Ficou espantada. -Por quê queria queimar todas? Mesmo eu nunca tendo aberto uma, sei que são de extrema importância..

-Não se espante, não tenha um ataque cardíaco. -Franzi o cenho. -Apenas quero.

-Se eu encontrar as cartas primeiro que você, meu filho, eu irei escondê-las. -Forçou um sorriso.

Merda, Lis. Qual o seu problema? Eu estou quase chegando a enlouquecer de dor e de tristeza, e você força um sorriso?

Com delicadeza, pego quatro uvas do cacho e desço do balcão, sentindo a textura da casca sob meus dedos. Meus olhos encontram Lis, enquanto caminho em direção as escadas com o cacho de uvas em minhas mãos. Subo as escadas com um leve pensamento.

Ao chegar em meu quarto, tomo um banho quente, o vapor do chuveiro quente se mescla com o aroma amadeirado do perfume que aplico generosamente em meu pescoço, visto uma camisa, o colete e o blazer, e a calça. Enfio o celular no bolso, sentindo o frio do metal contra minha pele aquecida pelo banho, uma bosta porque odeio celulares.

AMOR ALÉM DO TOQUE.Onde histórias criam vida. Descubra agora