ORTOTANÁSIA.

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Christopher Collins.

ㅡ Diante dos meus olhos, testemunhei a
passagem da pessoa que mais amei, perecendo
diante de mim.

ㅡ Alguém do além.


Hoje, tomei a iniciativa de solicitar a presença de um médico em minha residência, pois Lis, repentinamente se sentiu mal. Preocupantemente, ela começou a tossir de maneira compulsiva e, para minha angústia, percebi que havia sangue presente em suas tosses.

Esse problema e essa manifestação de saúde debilitada me trouxe uma profunda tristeza, uma vez que o câncer está progressivamente roubando sua vida e a separando de mim.

Ela foi sedada. Não queria que fosse assim, queria que ao menos alguém que eu amasse ficasse, porém todos vão. Como se o destino me odiasse, tirando tudo o que tenho.

Estou sentado em uma cadeira próxima à cama dela, observando-a em um sono profundo e tranquilo. Suas feições serenas revelam um descanso merecido, enquanto aguardo o momento em que será necessário levá-la ao hospital. As palavras do médico ainda ecoam em minha mente, conclamando-me a tomar a difícil decisão de interná-la.

Porém, o que realmente me entristeceu profundamente foi presenciar um momento delicado, o acesso de tosse fez com que uma gota de sangue escapasse de seus lábios. Mas, ao contrário do que eu esperava, um lindo sorriso se formou em seu rosto. Ver essa expressão de esperança, mesmo diante de um sinal tão perturbador, fez meu coração se despedaçar em mil pedaços.

Olho para Lis pela última vez antes de me levantar da cama. Observo seu rosto sereno enquanto ela dorme profundamente, desde as 7 horas da manhã. Mesmo com a luz suave que entra pela janela, seu sono parece inabalável. Meu medo é ela está morrendo assim, tão bela.

Decido então tomar um banho para refrescar meu corpo e vestir uma roupa confortável antes de sair do quarto. Enquanto me preparo, não consigo tirar da mente a preocupação com Lis. Nem eu, nem ela comemos desde cedo e a situação começa a me incomodar.

Sigo até a biblioteca da casa e pego meu livro favorito de Bob Marley, quero que minha mente tome outro rumo. Retorno ao quarto e me sento em silêncio, perdido em meus pensamentos.

Ela continua a dormir serenamente, sem dar sinais de acordar. Não quero comer sozinho, por isso decido esperar até que Lis acorde para fazer qualquer refeição. A fome passa a ser um mero detalhe diante da preocupação que toma conta de mim.

O silêncio é interrompido apenas pelo som suave da respiração de Lis, que permanece imersa em um sono profundo.

Meus pensamentos vagueiam enquanto folheio as páginas do livro, tentando canalizar a calma transmitida pelas palavras de um mero humano. No entanto, a inquietação persiste, pesando em meu peito diante da situação de Lis.

O tempo parece se arrastar lentamente, até que finalmente vejo um leve movimento vindo de Lis. Meu coração dispara e meus olhos se fixam nela, observando cada gesto atentamente. Ela lentamente abre os olhos, revelando seu olhar sereno que me deixa momentaneamente sem fala.

A troca de olhares é intensa, carregada de sentimentos confusos. Um turbilhão de emoções se mistura dentro de mim, simultaneamente confuso, feliz e triste. Lis solta um sorriso singelo, mas o impacto que essa simples expressão provoca em mim é avassalador. Uma sensação de astúcia e pesar se entrelaçam em meu peito, sem que eu consiga decifrar o motivo dessa mistura de sentimentos.

Por quê esse sorriso? Você está morrendo.. não faz isso comigo. Por favor mãe..

-Christopher.. -Sussurrou.

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