TANGENTE.

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Stella Coller.

ㅡ A decisão foi tomada, agora é só esperar as consequências

ㅡ Uma garota qualquer.

Fico com um nó na garganta ao olhar para ele de perto. Seus olhos cansados mostram em mim uma mistura de emoções que me confundem, tristeza, arrependimento, talvez um tiquinho de esperança. Seu rosto, que costumava ser firme, está péssimo. Cada detalhe do seu rosto grita a dor e a angústia que tá carregando. Seu olhar, que costumava ser tão intenso, agora tá perdido no meio de incertezas e tristeza.

Encarar ele é como entrar num furacão de sentimentos. Sinto meu coração apertar, minhas mãos tremerem e uma sensação de fragilidade me dominar. Mas ao mesmo tempo, sinto uma pontinha de esperança surgir, uma vontade de estender a mão e oferecer um abraço apertado, mesmo sem falar nada. No meio do silêncio que nos rodeia, percebo que poucas palavras são necessárias.

-Oi... -Digo, dando um passo hesitante em direção a ele.

Meu coração aperta ao vê-lo tão fragilizado, como um garotinho perdido. Sinto um impulso irresistível de abraçá-lo, mas me seguro, sabendo que não devo ultrapassar essa barreira.

-Tudo vai ficar bem, viu? -Sussurro, as palavras saindo suaves e reconfortantes. Mas as lágrimas começam a escorrer por seu rosto, uma expressão de dor e desamparo que dilacera meu peito. -Eu... Eu já volto.

Levanto-me, como se fugindo daquele momento de vulnerabilidade. Paro na escada, buscando solucionar o vazio que me envolve. Lembro-me das palavras de Lis, de que ele adorava suco de laranja natural.

Uma ideia surge, incerta e temerosa. Seria errado fazer algo assim, invadir sua privacidade de forma tão íntima. Mas e se... E se isso o confortasse, mesmo que por um momento? Meu coração debate-se entre a incerteza e a compaixão.

-Devo fazer isso? -Murmuro para mim mesma, um turbilhão de emoções me dominando. Decido arriscar, um pequeno gesto de carinho em meio ao caos daquele momento. E, com um suspiro, tomo uma decisão.

Após me levantar daquele momento de intensa emoção, decido agir. Pego o dinheiro da minha mala com mãos trêmulas, sentindo a urgência pulsar em minhas veias. O GPS do meu celular me guia até a farmácia mais próxima, um refúgio temporário em meio à desconhecida cidade.

Caminhando pelas ruas desconhecidas, percebo a atmosfera tensa e os olhares curiosos que recaem sobre mim. Em becos escuros, sombras se movem e pessoas se agrupam em murmúrios suspeitos. A presença de garotas de aspecto duvidoso em grupos me faz apertar o passo, consciente da necessidade de cautela.

Finalmente, chego à farmácia e adentro apressadamente, buscando o calmante que possa trazer um momento de paz ao coração inquieto que esperava por mim. Percorro as prateleiras, lendo atentamente os rótulos e as indicações, desejando ardentemente encontrar a solução para acalmar a tormenta interna que atormentava o rapaz.

Meus olhos encontram um frasco de líquido calmante, a promessa de serenidade em um vidro transparente. Observo a embalagem atentamente, verificando para quem é indicado, afastando a possibilidade de prejudicá-lo inadvertidamente. Seguro o frasco em minhas mãos, decidida a trazer um alívio temporário ao sofrimento que presenciei. Dirijo-me ao caixa, consciente do peso da minha decisão, mas amparada pela convicção de que era o gesto necessário naquele instante.

-Quanto custa? -Pergunto com certa ansiedade, enquanto a atendente me lança um olhar torto, como se não acreditasse na minha pergunta. -Sério que precisa de receita? Meu Deus! -Murmuro baixinho.

-18 dólares. -Ela responde, com uma expressão séria, e eu respiro profundamente, tentando controlar a agitação que sentia no peito.

-Certo. -Murmuro, pegando o dinheiro que havia retirado da mala com mãos trêmulas e o entregando a ela. Ela passa o produto pelo caixa e o coloca na sacola, que eu pego cuidadosamente, consciente do peso simbólico daquele ato.

AMOR ALÉM DO TOQUE.Onde histórias criam vida. Descubra agora