VOCÊ, O INESPERADO.

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Stella Coller.

ㅡ Por quê depois de tudo, sinto que te magoei?
Eu fui feita para machucar os outros,
e nunca para ser amada?

ㅡ Uma garota qualquer.


Eu mal consegui dormir essa noite, remoendo os pensamentos sobre as cartas desse 'alguém' misterioso e a volta do Luan. É uma mistura estranha estar ao mesmo tempo tão mal e tão feliz.

As lembranças dos tempos de infância com o Luan, na casa da minha falecida tia Eshiley, são tão vívidas. Nós dois, perdidos em risadas, jogando bola no quintal, enquanto o cheiro do almoço preparado pela tia enchia o ar.

Eu e ele tomando banho de piscina. Esses dias felizes e simples foram um conforto para minha triste infância, especialmente antes dele se mudar para o Japão.

Lembro-me da devastação que senti quando soube da mudança de Luan. Mas o nosso último encontro no aeroporto, a promessa feita de se ver novamente um dia, moldou muitas das minhas esperanças futuras.

Vê-lo novamente, depois de tantos anos, foi como reacender uma luz dentro de mim. Ele estava mudado, claro, mais alto, mais maduro, mas ainda possuía aquele mesmo sorriso que iluminou tantos dos meus dias sombrios.

Mas, por entre esses momentos de alegria, não pude deixar de me perguntar sobre a curiosa situação amorosa dele. Apesar de mantermos contato ao longo dos anos, nunca tocamos no assunto.

A verdade é que, mesmo com todos esses sentimentos confusos, essa preocupação incessante e a felicidade de reencontrar o Luan, as cartas anônimas trouxeram um novo tipo de tormento.

Uma pessoa desconhecida, falando de coisas íntimas e acabando com insinuações sobre a morte... É algo que não posso simplesmente ignorar.

Admito, reagi às cartas de uma forma talvez tola, mas como reagir de outra maneira quando algo tão estranho invade sua vida? Nunca antes tinha sido tratada dessa forma, e isso mexeu comigo de uma maneira que nem consigo explicar.

As memórias felizes com Luan, ao lado da áurea misteriosa e levemente ameaçadora das cartas, criaram um emaranhado de emoções dentro de mim.

Pensar em nossa promessa de infância, realizada com um encontro tão emocionalmente carregado anos depois, traz um certo consolo. No entanto, essa sensação é rapidamente abafada pela incerteza trazida pelas cartas.

Quem estaria por trás delas? E por quê? Esse mistério somado às dúvidas sobre o Luan e seus próprios sentimentos ou relacionamentos.

A curiosidade e a esperança de que Luan compartilhasse dos mesmos sentimentos por alguém, por outro, o receio de que o remetente pudesse ser alguém indesejado.

Prometi a mim mesma que, se descobrisse que as cartas vinham de um velho desconhecido, não hesitaria em procurar a polícia. Mas se fosse alguém da minha idade, alguém como Luan, eu estava disposta a conversar e explorar aquele amor misterioso que parecia tão real quanto o sonho que tive da minha infância.

Sentei-me no chão, alisando cuidadosamente a superfície da caixa antes de abri-la novamente.

Mas enquanto as lembranças faziam sentido, havia uma sensação estranha de que faltava algo, ou melhor, alguém. Nesse instante, uma figura começou a emergir das profundezas da minha memória.

Era um garoto, alguém que eu havia encontrado em uma praça. No entanto, seu nome me escapava, dançando na ponta da minha língua. "Christo", comecei a murmurar para mim mesma, "Christopher?"

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