Capítulo 21 - DESDE AQUELE DIA

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O feiticeiro criou uma espécie de matéria escura, onde raios surgiam. Vários magos e soldados rasos caíram. Lizanna, ferida e exausta como estava, foi atingida, morrendo no mesmo momento. Hannah também foi, mas a gravidade de seus ferimentos mostrou ser menor.

O número de arcanos estava reduzido a alguns poucos números agora.

Começou a chover. A água lavava o sangue de seus corpos. Era como se todos os deuses justos chorassem por causa daquela matança sem sentido. Mas tão rápida e densa como veio, ela passou.

Gilvius atacava incessantemente com seu arco, Sakayumi, que fora lhe dado pelo monarca élfico, Albion. As flechas voavam uma atrás da outra em direção ao inimigo. Uma das setas atingiu Lápide no braço esquerdo, ficando presa ali.

Tanatos atacou e feriu o inimigo no peito, mas foi nocauteado para longe pela espada bastarda. Wingriane e Kannon travavam golpes tensos contra o Arauto, em uma dança da morte. Qualquer descuido seria fatal. Akyrius seguiu disparando. Dentre todos eles, suas flechas eram o que Lápide mais precisava evitar.

A paladina forçou a luta, ferindo o adversário no abdômen e em outros pontos. Lápide sentia-se sobrepujar por aquele grupo tão decidido de aventureiros.

Enquanto isso, sem que ele prestasse atenção, Arayashiki já envolvia-se com Hannah e outros magos em um combate que não tomara ainda grandes proporções.

A cavalaria de Angorath estava reduzida a quase nada. Não teriam mais qualquer utilidade prática na guerra. Por isso mesmo decidiram-se sacrificar.

Os paladinos estavam cercados por um número alto de zumbis e outras criaturas da noite. Os cavaleiros vieram galopando pela retaguarda, brados de guerra e gritos de incentivo. Massacraram o inimigo de tal forma, até que eles entendessem o que acontecia e revidassem. Todos do batalhão tombaram, mas os paladinos escaparam e reagruparam-se onde mais importava.

Duzentos servos ainda eram controlados por Arayashiki, o Sumo-Sacerdote de Hakai.

- Desde aquele dia eu esperava encontrá-lo para vingar meus companheiros. - Disse Gilvius. - E finalmente, a oportunidade me apareceu.

A raiva consumiu-o. Os outros afastaram-se. Estavam bastante feridos e provavelmente não conseguriam acompanhar aquela luta insana.

Cain despiu-se da armadura destruída. Era um peso desnecessário. E juntou-se a Gilvius. Forçava-se a acompanhá-lo, mas a força daquela espada compensava seu esforço.

- Você ficou mais forte, Cain. - Gilvius dizia, enquanto o sobrinho conseguia retalhar Lápide.

Wingriane e Kannon tentaram ajudar os companheiros mas ficaram em um estado de semi-morte. O antigo paladino tinha lutado além de seus limites e era possível que não sobrevivesse.

Os três revezavam-se entre atacar e defender. Cain feria-se à medida que causava-lhe alguns danos. Finalmente, após uma investida que pegou Lápide de surpresa, ele conseguiu quebrar sua defesa e Gilvius desferiu o golpe final.

Mas o guerreiro ainda não tinha caído.

- Maldito. Pensa que isso é o suficiente para me matar? - Lápide avançou até ele e Gilvius foi em sua direção. Os dois atacaram-se, cortando o peito um do outro. A alguns metros do outro, Lápide caiu. Finalmente a vida abandonando-o.

Por fim, Arayashiki era o único que restava.

Espessas nuvens negras de um miasma sufocante envolviam suas vítimas. Continha alguma espécie de ácido corrosivo que matava em poucos segundos. Gritos de horror elevavam-se dos soldados até que eles sufocavam-se em sua terrível agonia. Uma criatura extraplanar, que parecia fundir-se às sombras, e de agilidade impressionantes foi invocada para prolongar a carnificina. Sem muita demora, ela foi rechaçada e morta por Tanatos.

Que outras magias negras ele tinha conhecimento? Só cabia a eles especularem.

Finalmente o exército do feiticeiro havia sido vencido. Ao enorme custo de milhares de vidas.

Mercenários, magos, paladinos, aventureiros, espadachins, monges, qualquer um que ainda pudesse empunhar uma arma se juntou contra o lich. Eram fustigados por aquela energia negativa que saia de seu cetro. Um mago conseguiu paralisá-lo por um instante. Um outro paladino aproveitou o momento e desferiu um poderoso ataque que derrubou-o.

Incontáveis vidas foram perdidas naquele último embate, até que o feiticeiro sucumbiu perante eles.

Houve muito tempo para chorar os mortos depois. Em casa eram filhos que não veriam mais os pais, esposas que chorariam pelos maridos, crianças que cresceriam órfãs...

Cain, Akyrius, Gilvius, Hannah, Tanatos e Kannon. Aquele grupo que ficou conhecido como " Os Heróis do Crepúsculo" foram tratados como tal ao retornarem a Dhankharsh. A Executora Divina que buscavam despedaçou-se com o poder de Arayashiki, partindo-se em mil pedaços.

- Estou indo para casa, agora. Irei juntar-me ao meu tio. - Cain disse ao grupo. Continuariam a viajar por Eastfell sem ele. Akyrius, Hannah e Tanatos. Descobriu-se que Kannon era seu bisavô, que nem mesmo Gilvius sabia a respeito e que fora embora de Zentage há muito tempo.

As autoridades políticas de Thenn e Kanarys celebraram acordos de paz, de modo a evitar futuras guerras entre os dois reinos. Filhos e filhas das monarquias casaram-se para celebrar o pacto.

Zentage.

Cain observava o sol se pôr por entre as montanhas do vilarejo. Passara por muita coisa nos últimos meses, mas estava junto à sua família novamente. O pai havia sido vingado e um mal enorme derrotado. Trazia no rosto cicatrizes, lembrança daquela luta, que não o permitiriam esquecer nada daquilo. Apesar disso, um sentimento, que se assemelhava a algo como felicidade, começava a brotar de seu peito.

Outro plano de existência. Uma dimensão que existia entre o tempo e o espaço. A morada de deuses.

Um deus regozijava-se com tudo aquilo. Tinha a aparência de um menino com não mais do que dez anos. Uma das várias formas que adotava.

Esboçou o que poderia ser tomado como um sorriso.

Tudo corria de acordo com os planos de Hadryt, o deus do caos.

A Canção Dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora