CAPÍTULO 3 - Abaixo da Superfície

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A caverna era escura e silenciosa. O som das pegadas era a única coisa que violava o silêncio tumular. As trevas eram parcialmente rompidas por quatros globos brancos conjurados pela maga para iluminar o caminho. Cain seguia na vanguarda, imediatamente atrás dele vinham Akyrius e Hannah.

Krish. Krish. Krish.

- De onde veio esse som? - Cain perguntou.

- Parece ter vindo daquela bifurcação à esquerda. Vamos ficar alertas.

O som aumentava a cada passo, agora acompanhado do ressoar de pegadas próximas. A bifurcação terminou em um pequeno salão de pedra. Outra passagem na direção oposta à que eles vinheram ligava aquela área ao interior da caverna.

Uma forma monstruosa erguia-se do salão. Garras afiadas feito navalhas projetavam-se de cada uma das suas oito pernas. Do cefalotórax, oito olhos vermelhos fitavam com ódio intenso os intrusos. O tamanho do monstro era anormal. A criatura, entretanto, parecia estar ferida.

- Eu pensei que essas coisas estivessem extintas. – Cain exaltou-se.

Krish. Aquele som outra vez, como se em resposta.

- Parece que uma delas conseguiu sobreviver.

A Aranha lançou uma teia na direção do grupo, que Cain defendeu com o seu escudo. Sem perder tempo, ela tentou empalá-lo com as garras, sendo aparadas pelo broquel, que se partiu no meio. Com um ataque vertical, ele conseguiu ferir um dos olhos da criatura.

Ela recuou, emitindo um terrível grito de dor. Desnorteada, ela chocou-se contra um pilar de pedra que caiu sobre si, abrindo um buraco no chão tragando a todos.

Aproximando-se da aranha esmagada pelas rochas, Hannah observou o sangue negro escorrer do seu corpo.

- Acho que eu consigo adivinhar o que você está imaginando, Akyrius.

O mestiço assentiu.

- As Aranhas atacaram e sequestraram aquelas pessoas. Há outras de onde esta veio.

- Está dizendo que existe um ninho de Aranhas Gigantes nesta caverna?

- Sim, e nós temos que encontrá-lo. As pessoas desaparecidas devem estar lá neste exato momento, se ainda estiverem vivas.

Um ligeiro calafrio desceu pelas costas de Cain.

- Está bem.

Hannah olhou para o buraco aberto pela queda.

- Merda, não temos como voltar lá para cima. Devemos ter caído cerca de uns três metros. Só nos resta seguir por esse outro caminho. Vejamos aonde vai dar.

Um momento de calmaria seguiu-se após o encontro com a Aranha Gigante, sem que nada fosse dito entre os três. Estavam agora em um corredor maior que o anterior, que parecia não ter fim. Um terror silencioso crescia dentro do peito de Cain, como se estivesse prestes a explodir. Era uma mistura de medo e angústia, inquietação e desconfiança daquele lugar, que parecia envolvê-los cada vez mais em sua escuridão.

Foi quando os seus olhos se acostumaram a semi escuridão e os seus ouvidos a quietude, que o silêncio foi quebrado. Um grupo de cinco kobolds surgiu a frente deles. Sujos e maltrapilhos. Se havia outros, estavam ocultos nas trevas. Uma criaturazinha briguenta e bizarra, cuja cômica aparência assemelhava-se á mistura entre um réptil e um roedor, liderava o grupo. Dois pequenos chifres brotavam da cabeça, e da cintura saía uma cauda sem pelos. Era menor que um anão, com apenas setenta centímetros.

Ele encarava o espírito à sua frente. O kobold tremia de medo, lutando para manter-se em pé frente ao inimigo. O seu grupo em maior número inspirava-lhe a coragem para lutar.

A Canção Dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora