CAPÍTULO 12 - A Paladina de Hykhamyl

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O outono já havia começado. Os três seguiram com os cavaleiros até Rhylm, onde apanharam os seus cavalos, já que os soldados não trouxeram mais montarias com eles.

Nas semanas seguintes, eles atravessaram a imensidão do reino de Angorath. Infinitas planícies e bosques estenderam-se por dias afins. A vida animal também era abundante. Finalmente chegaram à Dhankharsh. Era uma das maiores cidades de Eastfell. Suas grossas muralhas estendiam-se por centenas de metros, preenchidas por torres quadradas. A comitiva então seguiu pelo portão principal e foram saudados pelos guardas. Alguns minutos depois encontravam-se ajoelhados perante o rei Ethellessyl.

- Jovens. Angorath tem uma grande dívida com vocês, por terem livrado o reino do monstro que era aquele meio-dragão. Vós sereis devidamente recompensados.

As pessoas olhavam com horror para aquela cicatriz da batalha anterior cravada no rosto de Cain. Os soldados, por outro lado, assentiam, pois era a marca de um guerreiro. Mais tarde ele foi levado para ver o curandeiro do rei, que tratou de seus ferimentos e enfaixou-lhe o rosto.

Após a audiência, Ethellessyl ofereceu um gigantesco banquete em honra ao grupo. Uma pesada bolsa de ouro foi-lhes entregue, bem como hospedagem no castelo pelo tempo que quisessem permanecer.

Cain e Hannah tomavam cerveja. O meio-elfo, por outro lado, optou por um vinho suave das adegas do castelo. À disposição deles na mesa, era servido o que de melhor havia nas cozinhas do rei: Carne de cervo, pernil de porco, aves defumadas, empanados de frango, torta de limão, bolinhos recheados com creme, geleias de morango, cerveja anã dos salões de Hyghahaal e um prato que Cain achou especialmente saboroso, uma mistura de várias carnes com verduras servida com pão.

Novamente, notou um sorriso no rosto de Akyrius. Aquela cidade, parecia até ali, ignorar qualquer preconceito. Isso também despertou-lhe um sorriso.

Do outro lado do salão havia uma jovem que não parava de olhar em direção ao grupo, especialmente na sua. Era extremamente atraente, trajava armadura de batalha completa, uma espada cheia de adornos na bainha, e no peito uma balança trespassada por uma espada, símbolo de Hykhamyl, o Deus da Justiça. Aquela devia ser uma paladina.

Ela foi até o grupo, com uma atitude hostil.

- Essa espada que você carrega pertence à minha Ordem. Seria de bom tom se você entregasse-a a mim para que eu a levasse para a sede da minha Ordem.

- Se a sua Ordem quer tanto assim tê-la de volta, por que não a recuperaram durante todos esses anos em que ela esteve desaparecida? - Inquiriu Hannah.

- Isso diz respeito apenas a nós.

- Ela foi feita pelo próprio Hykhamyl, por isso é um dos tesouros mais sagrados que nós temos.

- Escute, nós a conseguimos com muito sacrifício. Não é lógico que tenhamos que entregá-la a você. Eu acredito que se Hykhamyl a quisesse de volta, ele mesmo a buscaria por meios mais diretos. - Disse Cain.

A paladina tomou aquilo como uma blasfêmia e levava a mão à bainha, mas conteve-se a tempo.

- Não seria sábio se lutássemos aqui. - O guerreiro falou.

- Eu sei. - Ela respondeu. - Agora vocês sabem o que a minha Ordem pensa sobre o fato de vocês manterem a Executora Divina com vocês. Seria imprudente agir sem ordens. Contudo, eu alerto vocês que o próximo paladino que encontrarem pode não ser tão leniente como eu fui. Aproveitem a sua festa.

Ela saiu caminhando, também era uma convidada de honra do rei Ethelessyl e foi ter com ele em sua mesa.

- É como eu havia dito anteriormente. - Hannah virou-se para os outros dois. - Ninguém fora da Ordem de Hykhamyl sabe porque eles não procuraram pela espada todos esses anos. Mas, ela ainda é importante para eles.

" Nosso primeiro encontro não foi nada bom. É melhor nos mantermos longe dela nos próximos dias em que ficarmos aqui".

Nas horas seguintes foram cumprimentados por dezenas de pessoas. Membros importantes da sociedade Dhankharshiana. Da nobreza aos mais altos membros da hierarquia militar.

O grupo era conhecido agora como Os Três de Darmax.

Dentro de mais uma semana, os três estavam totalmente recuperados de quaisquer ferimentos que ainda tivessem. Todas as suas necessidades eram atendidas pelos servos da fortaleza, sem falta.

Findo o banquete, foram conduzidos às suas acomodações.. Cain ficou deslumbrado com o conforto que cada quarto de hóspedes tinha. Cama de penas, forrada com seda nobre. Janelas cobertas com cortinas douradas que davam vista para a cidade. Era bom dormir sem ser perturbado por pulgas ou percevejos como nas estalagens.

Cain passou os dias seguintes treinando no pátio da fortaleza. A cada dia sua prática com a espada bastarda melhorava.

Aquele outono foi uma época de descanso para os três. Ainda não haviam traçado o próximo objetivo, por isso aproveitavam a estadia oferecida pelo rei, sem pressa.

Eles caminhavam pelas ruelas do Grande Bazar de Dhankharsh. Era o maior mercado ao ar livre dos reinos do norte, e grande parte do comércio da região fluia por ali. Havia seres de outras raças; anões, elfos e halflings e uma dezena de outras mais exóticas.

Viajantes e aventureiros sozinhos ou em grupo passavam ali com frequência. Altos guerreiros musculosos de armaduras, Halflings ladinos que não ousavam furtar nada das lojas pelo número de soldados armados postos ali perto; bárbaros que desconheciam as regras de como vestir-se adequadamente em público, Elfos das mais diferentes sub-raças que existiam em Eastell, humanòides de corpo de homem e rosto de fera. Também visões mais raras de se ver, como dríades e até um orc, junto a outros aventureiros.

Escutavam os viajantes falando da guerra que acontecia a algumas centenas de quilômetros dali. Que fora particularmente sangrenta, que logo os dois reinos selariam a paz.

As lojas e bancadas estavam cheias de pessoas, que vinham e não chegavam a passar um minuto ali, tamanho era o número de coisas para se ver. Foram a um alfaiate e Hannah comprou uma túnica de seda laranja-avermelhada, Cain optou por um casaco claro e Akyrius por uma túnica verde.

Visitaram outras lojas e em cada uma delas compravam alguma coisa.

Saíram dali e foram a uma taverna, ainda na parte central da cidade. Havia apresentações de espetáculos naquele dia, próximo daquele lugar. Malabaristas, mágicos - A magia não era tão difundida no mundo. - e toda sorte desse tipo de gente.

Quando voltaram ao castelo era noite.

Ethelessyl dava longas audiências, resolvendo inúmeras petições vindas de todo o reino. Fazia questão que os seus convidados de honra estivessem ali nestas ocasiões. Naquele momento resolvia uma questão que dizia respeito às secas que naquele verão atingiram algumas partes do reino.

- Enviai uma missão para cada área afetada, com comida para o inverno e sementes para que estas pessoas tenham a chance de iniciar novas plantações na primavera seguinte. Os custos hão de ser bancados pelo dinheiro real. Podeis ir e se preparar para partir.

Um grupo de cinco ou seis pessoas deixou a sala em seguida.

Cain notou que a Paladina estava do outro lado da sala do trono, mas não olhava para ele e os outros.

Outras questões vinheram até o rei para serem apreciadas.

- Angorath teve muitos heróis que sempre nos ajudaram em épocas que precisávamos, lutando batalhas que nem sempre podíamos lutar. A última vez foi há quatorze anos, quando um grupo liderado por um homem chamado Keol Longsword, que depois passaria a ser chamado Os Quatro Campeões, livrou nossa cidade de uma horda de goblins invasores.

Cain empertigou-se.

- Este dia, contudo, temos entre nós, um novo trio que livrou o reino de um monstro que certamente era uma ameaça constante.

O grupo foi aplaudido e ovacionado pelos que estavam no salão.

- Apresentai-vos. Deixai meu povo conhecê-los.

- Meu nome é Cain Longsword. Sou filho do homem que salvou esta cidade.

A declaração pegou todos de surpresa. Inclusive, despertou a atenção da Paladina.

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