CAPÍTULO 14 - Notícias do norte

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Nos dias que se seguiram, Cain continuou treinando arduamente até o ponto em que dominava a Executora Divina. O mesmo fizeram os outros. Então, certa manhã, o arauto do rei veio comunicar que Sua Majestade queria falar com eles.

O salão estava vazio. Apenas alguns guardas e membros do conselho real além da paladina estavam lá. De seu trono acolchoado, Ethelessyl falou:

- Alddo, aproxime-se. Conte a eles o que você me contou.

Um homem de aparência franzina se aproximou. Parecia exausto e sujo de poeira. Então começou a falar sobre a guerra e como os devastados reinos de Thenn e Kanarys preparavam-se para fazer uma trégua.

- O motivo dessa paz depois de tantas semanas de guerra, em que cada lado ainda quer destruir o outro é o mais alarmante. Há relatos de que mortos perambulam por diversas partes dos reinos, o que fez os dois lados baixarem as armas.

O rei tomou a palavra.

- Se tais boatos forem verdadeiros, um feiticeiro muito poderoso deve ser o responsável.

Preciso que vocês confirmem a veracidade dessas informações, já que outra guerra poderia estourar e envolver mais reinos na região. Uma recompensa generosa os estará esperando na volta.

- Devemos apenas confirmar e voltar, certo? - Era Cain.

- Isso. Não devem se arriscar a enfrentar esses mortos ou o líder deles. Wingriane irá convosco, já que esse assunto também diz respeito à Ordem dela.

Cain desaprovou, mas nada disse. O grupo concordou em atender aquele pedido do rei, afinal ainda não haviam definido seus próximos passos e sempre era bom cair nas graças reais.

Em alguns dias estavam prontos para partir. À medida que iam para o norte, os dias tornavam-se mais frios. Mais tarde, encontravam-se no reino vizinho. Montanhas iam até onde a vista alcançava, regiões desoladas e ermas. Thenn era um reino pouco povoado, terra de um povo rústico e semi-bárbaro.

Foi quando iam trotando em seus cavalos que se depararam com o que parecia ser uma trilha feita recentemente. Inúmeras pegadas, humanas e outras. Enquanto analisavam, uma figura surgia na estrada. Um humanóide meio-tigre que se apresentou como Tanatos.

- Estou atrás de meu clã. Quando retornei da cidade dos homens à minha vila natal, ela estava deserta. Segui algumas pegadas que logo se transformaram em muitas. Isso foi há três dias. - Seu sotaque era forte e gutural.

- Acredito que todos nós concordamos com o que está acontecendo aqui. - Hannah falou.

- Talvez. - A paladina respondeu. - Mas precisamos verificar. Estarmos certos não basta.

- Precisamos de provas. Sugiro seguirmos essa trilha e apertarmos o passo. - Os outros não se opuseram a ela.

Você pode usar esse cavalo, vou mover as coisas que estão nele para os outros. - Cain

falou ao recém chegado.

Nos dias que sucederam-se àquele encontro, a visão de vilarejos destruídos pela guerra tornou-se mais comum. Em alguns lugares, o fogo ainda queimava. Isso foi na fronteira entre os reinos beligerantes. Nunca havia corpos, apenas os rastros da guerra.

***

Longe dali, um homem de cabelos brancos. O semblante sorridente. Com uma flauta em suas mãos, começou a tocar uma triste canção e que lembrava a morte. Ao passo que as ondas sonoras se espalhavam, guerreiros tombados em guerras passadas erguiam-se de seus leitos despertados de seu sono eterno.

***

Gilvius caminhava a passos lentos pela estrada quando começou a sentir uma presença maligna crescer. À sua frente surgiu um Drow, criaturas que viviam em cavernas subterrâneas.

- Ora, era exatamente você por quem eu estava procurando.

- Teria sido melhor perder meu rastro.

- Nah. Meu mestre disse que precisamos de você. Que vai nos ajudar. A propósito, sou Arethorn.

- Hahaha. Lamento desapontá-lo, drow. Mas de mim você só receberá a morte. O que deve lhe agradar, já que é o deus que você venera.

O primeiro ataque veio e a batalha começou.

O impacto fez com que Gilvius perdesse a firmeza dos pés. Arethorn desvencilhou-se e cortou superficialmente o seu pescoço.

- Lento demais.

Gilvius tocou no ferimento, sua mão ficou manchada com sangue. O ferimento parecia um pouco mais sério do que ele pensou a princípio.

- Drow, eu não me apresentei. Meu nome é Gilvius. Além disso, essa arma que tenho em minhas mãos é a famosa Güngnir. Embora eu acredite que você nunca tenha ouvido falar dela, ela já matou muitos de sua espécie.

A afirmação irritou Arethorn.

- Uma forja anã não é melhor que a minha cimitarra.

Gilvius então arremessou sua lança contra o drow, que não prevendo o movimento foi acertado de raspão e se desequilibrou.

- Retorne, Güngnir. - Com um gesto, a lança voltou até suas mãos.

O drow ensandecido pela fúria atacou seguidas vezes, mas tudo que encontrou foi uma sólida defesa. Camuflando-se nas sombras, ele sacou seu arco das costas e tomou distância segura. O disparo pegou Gilvius desprevenido, mas as outras flechas foram apenas munição gasta. Com aquela debilitação, Arethorn lançou-se do topo da árvore que estava e desferiu outro golpe crítico em Gilvius.

- Oferecerei você como sacrifício a Hakai.

Gilvius rebateu desesperadamente aquele golpe que visava sua garganta, jogando a cimitarra do drow para algum lugar nas sombras. Arethorn levou um segundo para processar o que havia acontecido, e então sentiu a Güngnir atravessar-lhe o coração.

- Há-Hakai...conduza seu humilde servo...a...a...

A Canção Dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora