CAPÍTULO 2 - Darmax

34 3 13
                                    

Cain tinha a estatura acima da média e um físico avantajado devido ao longo treinamento que tivera com seu tio Gilvius. Era dono de um semblante que muitos chamariam de belo, com longos cabelos negros e olhos claros. Vestia um simples gibão castanho de couro de urso que não restringia muito os seus movimentos. Na bainha carregava uma espada, e nas costas trazia um resistente escudo de carvalho.

Hannah vestia-se com um manto verde-escuro, sempre se mantendo na retaguarda do grupo. Servia à Deusa da Magia, Asphodra, utilizando como arma um cajado. No pescoço, carregava um colar vermelho, marca dos arcanistas que serviam à deusa.

Akyrius tinha cabelos brancos contrastando com os olhos e a pele marrom. Sempre com um ar soturno. Nas costas carregava um arco de madeira e uma aljava de flechas, nos quadris embainhava uma espada curta. Tornara-se mudo em algum momento da vida, por essa razão é que conseguia entender as palavras, mas para respondê-las utilizava-se de sinais e gestos criados pela companheira clériga.

Após deixarem Zentage, seguiram em direção ao norte, atravessando bosques, planícies, vales e rios. Sempre que passavam por aldeias que pareciam esquecidas no tempo, eram vistos com olhares curiosos. Muitas vezes quando não encontravam abrigo para pernoitar, dormiam ao relento.

Viajavam há uma semana.

- Fale-me mais sobre o paladino e a espada. - Pediu Cain.

- Seu nome era Isendun. Ele foi o mais conhecido guerreiro da ordem de Hykhamyl. Adorado tanto por seus companheiros quanto por aqueles que ele ajudava. A ele foi dada pelo próprio Deus da Justiça a Executora Divina.

- Por quê nenhum membro d'A Ordem de Hykhamyl veio atrás da espada depois?

- Ninguém sabe.

O sol brilhava alto no céu naquela manhã quente de verão, quando avistaram Darmax. Era na realidade, pouco mais do que uma vila, cuja importância se dava pelo comércio fluvial do ferro extraído nas minas da região.

Os portões de madeira estavam escancarados e destruídos, como se por diversas vezes tivessem sido o alvo da lança de um gigante furioso.

- O que pode ter acontecido aqui? - A indagação de Cain permaneceu sem resposta.

Nas ruas, não viram ninguém. Da taverna sempre cheia, também não ouviram nada. Adentraram o lugar mesmo assim, encontrando apenas mais perguntas e a mobília desarrumada.

- Onde estão todos? - Cain voltou a quebrar o silêncio.

- Não creio que essa pergunta possa ser respondida agora. Por enquanto vamos continuar explorando, e ver se encontramos alguém.

O porto, o palacete do alcaide, o quartel das tropas; quase tudo estava da maneira como havia sido deixado. Mas alguns lugares aparentavam uma certa desordem: movéis fora do lugar, utensílios de cozinha espalhados pelo chão, portas escancaradas...Era como se as pessoas que moravam ali tivessem abandonado a cidade às pressas.

- Não estamos conseguindo pensar direito. - Era Hannah. - Uma cidade inteira não pode sumir assim do nada. Vamos considerar as opções: Primeiro, alguma coisa obrigou todos a fugirem. Essa coisa veio pelos portões, que como vimos pelas marcas, foram atacados pelo lado de fora. Segundo, as pessoas não fugiram pelo rio, pois anda há muitos barcos lá. Seria suicídio escapar pelos portões se era exatamente onde o perigo estava. Então se elas não usaram o rio nem o portão, como saíram?

Akyrius a interrompeu.

"Vamos voltar para os portões. Tudo o que você disse parece convergir exatamente para lá". - Hannah traduzia o que ele expressava

Por algum tempo, ele permaneceu examinando os arredores dos portões da cidade. Foi então que notou algo encoberto parcialmente pela grama alta.

- O que é isso? - Questionou Cain.

" Sangue. E parece recente. No máximo, faz um dia que ele está aqui." – Foi a resposta do meio elfo.

Era um líquido negro e viscoso, como piche.

- Vejam. Há outra mancha ali. – Mais a frente aquelas marcas começaram a se repetir a um intervalo constante continuando até o topo de uma pequena colina. Mais adiante ficava a entrada de uma floresta. Ali dentro, a presença da luz solar se tornava menor, devido as grandes coníferas que impediam a sua passagem. O lugar então foi nomeado como Floresta das Sombras.

Em certo ponto, a trilha de sangue terminava. Akyrius parou e olhou os arredores por um momento. Então ele tornou a andar, desta vez para a esquerda até que a caverna ficou nítida como o dia para os demais. 

A Canção Dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora