CAPÍTULO 4 - As Cavernas Negras

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Há quanto tempo eles estavam ali? Uma hora? Duas? Talvez menos. Na escuridão era impossível medir a passagem do tempo de forma precisa.

Em frente ao grupo, várias estalactites elevavam-se até quase tocarem o teto da caverna em um grande salão rochoso. As rochas possuíam reentrâncias, cujo interior demarcado por ossos e restos mortais eram o ninho das aranhas. Por todo o salão, centenas de humanos eram mantidos prisioneiros em casulos e vigiados por seus algozes.

"Como não vimos nenhum corpo em Darmax, podemos presumir que os soldados estão todos vivos. Resta libertá-los e eles lutarão ao nosso lado." - Akyrius explicou o seu plano ao grupo.

- O problema é que estamos indo às cegas, sem saber quantos soldados haverão aqui ou como encontrá-los. - A maga rebateu.

"Independentemente do nosso número, a nossa vantagem está no fato do inimigo não esperar um ataque surpresa."

Akyrius avistou os primeiros casulos a cerca de oito metros de onde estava, e deduziu que eram os soldados através de um raciocínio bastante simples: Por terem sido eles que defendiam a cidade, foram os últimos que as Aranhas conseguiram prender nos casulos. Logo, foram trazidos por último e estavam mais próximos á saída do ninho do que os civis. Akyrius seguiu furtivamente até eles. Sacando sua espada, começou a cortar as teias que mantinham os humanos presos. Do interior dos casulos, caiam soldados desacordados, como ele previra.

Uma criatura monstruosa de oito pernas e oito olhos, presas que se moviam em sua cara peluda, abdômen largo e aparentemente mole pulou de repente sobre ele, tentando amarrá-lo com cordas grudentas. Ele atacou com a espada, até a criatura se afastar. Algo úmido envolvia suas pernas em um aperto do qual ele não conseguia se soltar e nem se levantar. Ela se preparava para aquele ataque outra vez, quando foi interrompida pelo guerreiro.

Toda a sua força agora estava concentrada apenas na espada, e não mais dividida entre ela e o escudo partido em dois. Alvejando a cabeça, a lâmina acertou em cheio a perna esquerda da Aranha, mas não foi capaz de decepá-la por inteira, devido ao exoesqueleto de quitina que revestia todas as suas pernas.

Akyrius se desvencilhou dos fios de seda que o imobilizavam facilmente. Não estava suficientemente distante da criatura para que conseguisse usar o arco. Resolveu então que lutaria com a espada. Enquanto o guerreiro se ocupava da Aranha pela frente, ele circundou-a e começou a desferir ataques em seu abdômen. Cinco ou seis golpes depois, ela estava morta.

- Vocês estão bem? - A maga veio correndo na direção deles.

- Sim.

Akyrius assentiu.

As outras Aranhas foram atraídas até ali pelo som da luta e ficaram surpresas ao se depararem com aquele grupo inesperado de aventureiros. O fato de que alguns dos humanos capturados estavam fora dos seus casulos as irritou. Mas, a visão da companheira morta as deixou furiosas.

Os soldados desacordados começavam lentamente a recobrar a consciência. Um a um, eles iam pondo-se de pé. Já com armas em mãos, um vislumbre das Aranhas foi o suficiente para que eles se lembrassem da batalha em Darmax e de como foram parar ali. A pequena tropa - Não mais do que vinte homens - comandada por uma figura altiva, assumiu posição de batalha.

- Aventureiros, agora nós lutamos com vocês. - Disse ela.

Eles mantinham-se imóveis naquela formação de escudos, rechaçando todas as Aranhas que se aproximavam. Pernas eram decepadas pelas várias espadas, sangue negro ruborizando a face daqueles homens. Duas criaturas perderam as vidas antes de uma brecha ser aberta na defesa. A pressão exercida naquele ponto pelas Aranhas fez com que a formação fosse desfeita.

Cain atacou a primeira inimiga. A Aranha conseguiu contra-atacar e passou a ditar o ritmo da luta. Ele tentou retomar a ofensiva duas vezes, mas não conseguiu. O ataque da segunda veio rápido, e ele não conseguiu bloqueá-lo.

O sangue escorria farto pelo seu rosto, manchando o gibão de couro, quando ele se levantou.

O guerreiro avançou com uma estocada, quebrando a defesa desta. Antes de desferir o golpe crítico, a primeira tentou agarrá-lo. Ele reagiu saltando para trás, e por pouco escapou daquele abraço mortal.

Duas flechas voaram em direção á cabeça da primeira Aranha. Krishhh. Ela emitiu aquele guincho de dor. Cain avançou outra vez, atacando pelo ponto mais vulnerável do corpo da Aranha, o abdômen. Com golpes fortes e rápidos, ele retalhou a criatura antes que ela pudesse reagir.

Ele pegou um escudo no chão, e defendeu-se da segunda Aranha. Dessa vez o escudo resistiu. Então ele golpeou sua face. Ela tentou outra investida, novamente rebatida. A espada continuou golpeando o cefalotórax até a criatura cair sem vida. 

O mestiço posicionou a seta no arco, mirando o enorme abdômen, e disparou. A flecha passou rente ao alvo, caindo no chão alguns metros á frente. A Aranha estava sempre em movimento, desviando e se protegendo dos golpes de espada de dois soldados, enquanto esperava a oportunidade para desferir um ataque crítico.

Os homens posicionavam-se de maneira a exercer o máximo de pressão sobre ela, forçando-a expôr uma abertura.

Akyrius disparou outra vez, a flecha atingindo a perna traseira da Aranha na junta. A criatura cedeu por tempo suficiente para que os soldados ferissem-na seriamente.

O mais jovem não conseguiu bloquear com o escudo a tempo. A enorme garra atravessou o seu peito, e depois o largou para que morresse pela perda de sangue. O outro soldado, mais experiente em combate, recuou. O enorme aracnídeo levantou-se sobre as pernas traseiras e com as dianteiras, caiu sobre o espadachim. O morto ainda fez um grande buraco na barriga do aracnídeo.

Então, a Aranha Gigante começou a arder em chamas. Seu brilho iluminava a caverna da mesma forma como uma vela ilumina um quarto escuro. A carne queimada exalava um cheiro forte.

As demais assustaram-se com aquele poder desconhecido, mas logo identificaram a fonte daquela magia.

- Protejam a maga. - Bradou o capitão. - Não deixem que nenhum inimigo aproxime-se dela. Os últimos sobreviventes posicionaram-se ao redor da maga e do arqueiro, compondo uma nova formação de defesa.

A batalha continuou até todas as Aranhas Gigantes estarem mortas.

Dos vinte soldados que compunham a guarnição de Darmax, onze perderam suas vidas. Menos da metade retornaria para casa.

O capitão se apresentou ao grupo como Bardald.

- Digam. Como vocês nos encontraram?

- Suspeitamos de algo assim que chegamos em Darmax e não encontramos ninguém lá. Vasculhamos o lugar por um tempo e achamos um rastro de sangue negro que nos trouxe até essa caverna. – A maga respondeu.

- E quanto a vocês? Como vinheram parar aqui?

- As Aranhas atacaram durante a noite, enquanto a cidade inteira dormia, e começaram a levar as pessoas enroladas naqueles casulos. A guarda foi alertada, mas pouco pudemos fazer além de tentar atrasá-las. – Ele respondeu. - Não entendo como tão poucas foram capazes de subjugar tantos de nós.

- Darmax tem uma dívida enorme com vocês. Teremos muito pelo o que agradecê-los depois que sairmos daqui.

KRISHHH!!!

O brado ressoou ferindo ouvidos e parecendo ter saído da própria garganta de um demônio.

Sobressaltados, todos dirigiram o olhar para onde aquele som tinha vindo.

A criatura surgiu por trás de um conjunto de estalactites e estalagmites no fundo da caverna. Era duas vezes o tamanho das outras Aranhas. Seu pelo marrom, em contraste com o pelo negro das filhas, era muito denso. O exoesqueleto que revestia as pernas, estendia-se até o abdômen, cobrindo todo o corpo, inclusive o cefalotórax.. O par de pernas dianteiras era maior e mais largo do que os outros e coberto por espinhos negros afiados. Os olhos com a mesma tonalidade vermelho sangue, causavam o medo que as outras não conseguiam.

- Por Hykhamyl. Aquela deve ser a Rainha. - Exaltou-se o capitão.

A Canção Dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora