CAPÍTULO 19 - O Flagelo de Hakai

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- Mestra! - Hannah exclamou.

- Não esperava vê-la aqui nessa situação, Hannah.

- Nem eu. - A garota confessou. - Mas imaginei que devido a magnitude da situação, vocês viriam ajudar.

- Todos os deuses justos opõem-se aos lacaios de Hakai. Sempre nos opusemos. - Olhando-a nos olhos, disse: - Você cresceu, menina.

- Mestra, deixe-me lutar ao seu lado. Juntas, podemos vencê-lo.

A velha acenou com a cabeça.

- Mostre-me do que é capaz.

Enfrentar um antigo companheiro era algo que pesava em seu coração. Gilvius lutava cara a cara, abandonando a antiga abordagem a distância. Queria acabar logo e encontrar o desgraçado que havia feito aquilo com seu amigo. Lápide.

Cada minuto que passava ali, era como uma punhalada em sua alma. Tolven fora, talvez, o seu melhor amigo do grupo no qual participara, ao lado do irmão Keol, e de Thayus.

Limpando as lágrimas dos olhos, ele avançou com ímpeto. Sua mente era como uma rocha. Deixou todos os pensamentos de lado e percebeu que seu amigo queria que ele mostrasse força naquele momento. Por dez longos anos, Tolven esteve naquela forma de morto. Merecia que seu amigo livrasse-o daquele tormento.

Finalmente, o anão tombou. Livre, por fim, daquela prisão da alma e da carne.

- Por favor, meu amigo, me perdoe por eu não ter sido forte naquele dia para salvar você e os outros. - E desabou em lágrimas. Um choro contido por mais de uma década.

Hannah bloqueou o enorme ataque, com a ajuda de Lizanna. O mago zumbi Thayus disparava feitiços que ela nunca havia visto. Na maior parte do tempo, só cabia a ela ficar na defensiva, enquanto a mestra atacava. Porém, a situação se inverteu. Juntas, as duas tomaram a ofensiva, contando também com a ajuda de outros magos.

Assim como ela, Thayus usava magia de fogo. No que se seguiu, diversos arcanos e soldados do inimigo pereceram. Lizanna conseguira uma abertura, e Hannah disparou seu ataque mais poderoso, o qual consistia de uma enorme esfera de energia rodeada por uma sombra.

- Você cresceu. Não é mais a aluninha que costumava ser.

Ela assentiu.

- Que bom tê-la ao meu lado neste momento, Hannah.

E então, notou que faltava um braço na anciã.

- A senhora está...

- Tudo bem, querida. Fui pega desprevenida.

Cain, Akyrius e Tanatos. Agruparam-se com Gilvius, que lhes explicou quem era o amigo, deitado aos seus pés.

- Faremos o maldito que comanda esse exército pagar caro! - Bradou.

Perto daquele lugar, uma aglomeração se formava. Eram os paladinos da Ordem Dourada e os Arautos da Morte: Soryu e o demônio Mausoleyus. Muitos dos guerreiros de Hykhamyl já haviam tombado, outros tinham extensos ferimentos. Mas um número razoável seguia de pé enfrentando os inimigos.

O quarteto correu até lá. No meio do combate, reencontraram Wingriane.

- Mais gado para o abate. - A voz de Mausoleyus era gutural, como um gorgolejar infernal.

- Ela é chamada de Lágrima da Vida. Pode trazer de volta dos mortos qualquer criatura. Pelo que consta nos registros do reino, esteve perdida até agora. - Ethelessyl explicou aos demais monarcas.

- Como esse necromante que se chama Arayashiki conseguiu encontrá-la é um mistério.

- Então, só é possível reviver alguém quando ela é ativada? - Ryltar estava em dúvida.

- Pelo que consultei com meus escribas, sim. O que sugere que o inimigo está usando-a ocasionalmente desde o início da batalha.

- O covarde está aqui, mas nega-se a mostrar a cara. - Alexander bradou. - Pretende nos matar a todos para aí aparecer?

Ninguém respondeu.

A Ordem da Luz Dourada. A emanação da vontade e dos valores de Hykhamil na terra. Defensores das causas justas e das pessoas de coração puro. Lutavam com toda sua fé contra aquela ameaça que se não fosse contida, ameaçaria todo o mundo.

Mas não era o bastante.

Incontáveis membros da Ordem forravam o chão de cadáveres. Soryu e Mausoleyus tinham leves ferimentos pelo corpo.

O deus da justiça havia falhado com seus seguidores. Alguns bradavam de ira e irrompiam em lágrimas diante de tamanha carnificina, perguntando-se como os deuses haviam permitido tudo aquilo. Mausoleyus chegou a chutar um dos mortos, expressando seu descontentamento com tanto sentimentalismo.

- Não abaixem a cabeça e nem se deixem abalar. - Rythorim, o líder da Ordem exclamava, exortando os ânimos. Preces foram feitas e bênçãos lançadas sobre o restante.

Cain, Akyrius, Tanatos, Gilvius e tantos outros. Nocauteados no chão. Em pé, somente Wingriane, Rythorim, Kannon e outros dois que se mostraram fortes demais para caírem. Os inimigos foram acertados vezes demais pelo avanço em conjunto daquelas pessoas, os ferimentos eram mais latentes.

O antigo paladino mostrava-se à altura de Soryu. Lutavam em pé de igualdade. Cain lutava ao lado do velho, conseguia acompanhá-lo, sem ficar muito atrás. Atacou diretamente, quebrando a poderosa defesa do adversário, perfurando-o a barriga. Kannon aproveitou-se daquela chance e matou o inimigo.

- Quem precisa desse miserável? Acabarei com vocês eu mesmo. - Mausoleyus soltava bravatas.

Outro inimigo apareceu. Era Lápide, ao seu lado, um guerreiro que havia tombado há muito tempo. Keol.

- Pai! - Cain gritou. Lágrimas começaram a brotar dos olhos.

A Canção Dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora