Ayla

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Passei tantos anos vagando pelos corredores do castelo que sequer tive dificuldade para me esconder dos guardas. A parte mais difícil era o portão de entrada, mas criei trepadeiras em um dos muros laterais e a escalei. Tentei colocar roupas discretas, um vestido preto simples e uma capa com um capuz que esconderia meu rosto.

Caminhei rápido para a praça onde me camuflei entre as pessoas. Estava ofegante e me encostei em um canto para observar o redor enquanto retomava o fôlego.

Na praça principal da cidade havia várias barracas de comida, uma grande roda de dança no centro e muitas crianças correndo por todos os cantos. As pessoas estavam felizes, conversavam animadas uma com as outras e aquilo me fez ficar muito animada

— nossa mãe nem vai perceber — uma garota disse para a outra próximo a mim

— você sabe que não deveríamos ser vistas lá

— pare com isso, vai ser só uma olhada rápida

Minha curiosidade falou mais alto e eu acabei às seguindo pelas ruas. Chegamos a um beco estreito e mal iluminado onde alguns homens fumavam escorados a parede e bebiam em canecas  

— onde são as lutas? — uma delas perguntou a um homem

— na taverna

Não sabia o que elas estavam falando mas continuei as seguindo. Chegamos a uma porta de madeira estreita que mal se fechava de tantas pessoas que haviam por ali. Eu me exprimi entre elas até que finalmente consegui entrar.

A taverna se abria em um grande salão. Lá cheirava a sangue e cerveja velha. Estava uma gritaria e só me dei conta do que acontecia quando alguns homens saíram da frente e me possibilitaram ver uma roda no meio onde duas pessoas se batiam.

Me aproximei o máximo possível e vi um homem alto empurrar o outro com os ombros contra uma coluna e o bater na cara incansavelmente. Aquilo era brutal, a coisa mais assustadora que já tinha presenciado só que ainda assim não consegui sair.

— quer fazer uma aposta, princesa? — um cara parou na minha frente

— o que? — gaguejei – não sou uma princesa

Ele saiu gritando apostas e perguntou da mesma forma a outras garotas, então entendi que aquele era só um apelido e não uma referência ao meu título.

Estava tão apavorada com a situação, pensando que tinha sido descoberta que sequer notei o fim da luta. Logo a roda se esperou e eu vi o vencedor indo em direção a uma mesa onde uma garota com um vestido decotada abriu os braços para recebê-lo

— cerveja? — perguntou a ele

— não, agora não

— você lutou bem — um outro homem disse o jogando uma toalha

Eu o observei passar a toalha pelo cabelo soado, depois pelo peito que estava exposto e por Deus aquilo parecia um sonho. Nunca tinha visto um homem tão bonito fisicamente 

— a que horas vamos comemorar?

— depois que eu pegar o dinheiro

Ele se virou e eu enfim consegui prestar atenção em seu rosto. Poderia passar um milhão de anos e ainda assim eu o reconheceria

— Kelan? — falei um pouco mais alto do que o desejado e acabei chamando a atenção deles para mim

Ele me olhou com calma, me examinou dos pés a cabeça e antes de se levantar cochichou algo no ouvido de seu amigo

AbominávelOnde histórias criam vida. Descubra agora