Kelan

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O rei Thomas chegou com sua esposa logo pela manhã. Eles tentaram conversar com a Ayla mas ela falou muito pouco e passou a maior parte do tempo olhando para o nada

— onde ela estava? — ele me questionou

— no meio do mar, era uma cabana de palha sob uma pedra

— ela disse algo?

— não

Para ser bem sincero eu não queria falar muito sobre tudo que vi naquele lugar. Os momentos que eu a segurei morta em meus braços seriam para sempre meu pior pesadelo

— vou deixá-los sozinhos – falei indo em direção a porta

— Kelan — a Ayla disse me chamando

— sim, princesa

Me aproximei da cama onde ela estava deitada sob as cobertas e pela primeira vez em todas essas horas ela se moveu para pegar minha mão

— fique comigo, por favor

— nós vamos deixá-los — a rainha Lina disse puxando o marido para fora do quarto

— deite aqui

— Ayla...

— você não dorme a quantos dias? — questionou

— eu não sei

— tire as botas e deite aqui, por favor

Não estava a fim de debater, então apenas fiz o que ela pediu

— como me encontrou?

— se eu te contar você não vai acreditar

— me conte — sorriu

Eu ainda tinha a bússola no bolso, então tirei e mostrei para ela enquanto contava a história sobre uma senhora que apareceu no Porto e me entregou

— parece a história de um conto de fadas

— não, em um conto de fadas eu jamais te encontraria afogada em uma cabana no meio do oceano 

Ela levou a mão ao meu rosto passou os dedos no meu cabelo os penteando para trás

— eu dei o melhor de mim, lutei muito para ficar viva mas fracassei e se não fosse por você ter me encontrado...

— não — pedi — não diga isso, eu jamais deixaria você morrer

Ela se aproximou e apoiou a cabeça no meu peito com cuidado. Eu peguei sua mão e observei os pulsos com ataduras e os arranhados

— eu preciso encontrar seu tio, não posso ficar aqui

— você precisa dormir um pouco, vamos deixar para resolver isso amanhã

— não consigo, eu ...

— shh... — colocou o dedo nos meus lábios — feche seus olhos

— você sempre foi tão teimosa

— eu sei, agora feche os olhos

Prometi para mim mesmo que iria sair assim que ela voltasse a dormir mas ao sentir seus dedos entre os fios do meu cabelo e a respiração calma no meu pescoço os meus olhos foram fechando até que eu dormi.

Acordei meio perdido no tempo e ao olhar pela janela vi que já tinha amanhecido. Dormi a noite toda com ela segura em meus braços e por mais que aqui me deixasse extremamente feliz eu me senti culpado.
Levantei com calma, fui ao banheiro e depois de calçar os sapatos saí

— saindo às escondidas, Kelan?

— majestade — me assustei vendo o rei em pé no corredor com os braços cruzados — eu... não... ela... eu...

AbominávelOnde histórias criam vida. Descubra agora