Abominável

Kelan

Eu sabia que algo estava errado quando fui chamado ao castelo bem cedo. Me vesti o mais rápido possível e assim que cheguei lá notei uma movimentação excessiva de guardas

— Kelan — um soldado se aproximou correndo — você está sendo chamado no escritório do rei

Subi as escadas pulando dois degraus e logo que me aproximei vi a porta aberta e muitas vozes discutindo

— entre — alguém disse

Quando entrei vi três homens parados. O Rei Thomas estava perto da janela, no sofá o príncipe Kalel e em pé ao seu lado o rei Kyle

— majestades, alteza — os cumprimentei

— a Ayla foi sequestrada — Senti o meu coração parando de bater por alguns segundos, meu corpo começou a tremer e senti as pernas falhando — um espião entrou no castelo à noite e tentou matar o Ariel, mas o garoto é esperto e conseguiu se defender

Olhei para o Kalel que falava comigo e engoli a bola seca que estava na minha garganta

— o espião está preso nas masmorras mas não nos deu nenhuma informação, tentamos de tudo mas ele não abriu a boca

Olhei para o rei Thomas parado sobre a janela e ele estava derrotado. Os ombros caídos, o verde de seus olhos escuros, quase marrons e suas mãos tremiam segurando um copo de bebida

— vou encontrá-la — falei me virando

— não conte para ninguém, nós não queremos causar burburinhos entre a população

Eu estava cego enquanto descia até as masmorras. Quando cheguei na cela vi um homem jovem acorrentado em um canto sujo, ele tinha o rosto sujo de sangue e estava rindo

— mandaram outro cachorrinho para me morder?

— não sou um cachorrinho, sou um cão do inferno e você está prestes a viver seu pior pesadelo — Eu o agarrei pelo pescoço e o joguei contra o banco de pedra frio — te darei uma chance de me dizer onde ela está

— não tenho medo de você

Peguei sua cabeça e bati contra o assento. Ele ficou um pouco sem consciência então aproveitei para marra-lo a um gancho pendurado no teto

— acorde — bati em sua cara

Ele acordou meio desnorteado e após alguns segundos já estava com aquele sorriso

— gosta de rir não é? — Peguei minha faca na cintura e segurei seu rosto — vamos deixar um sorriso bem bonito então

Abri sua boca e bem lentamente comecei a cortar o canto do seu lábio direito enquanto ele pulava igual uma minhoca e gritava sem parar

— vai dizer alguma coisa? — Ele apenas cuspiu o sangue em mim e isso me deixou muito irritado — tudo bem, seu sorriso não estava completo

Comecei o mesmo processo do outro lado e dessa vez ele gritou mais ainda. O sangue escorria pelas minhas mãos e eu sorri para ele da forma mais odiosa que podia

— agora você vai sorrir para sempre

Rasguei até o meio de suas bochechas dos dois lados. A sua boca ficou aberta de uma forma horrorosa e ele acabou desmaiando. Peguei um balde de água gelada e joguei em sua cara

— me diga a onde ela está — Agora ele estava em silêncio só tremendo — eu juro que se não disser vou cortar cada pedacinho de você enquanto agoniza

Continuei sem resposta, então arranquei o trapo que sobrou de sua camisa e comecei a fazer cortes fundos

— pare, por favor

— vai me dar alguma informação?

— eu não sei de nada

Voltei a cortar cada vez mais baixo e enfim parei em sua calça. O tecido estava largo e só precisei de um puxão para fazê-la cair aos seus pés

— última chance, se não disser nada vou cortar esse pau asqueroso fora

Ele começou a chorar mas não disse nada, então agarrei seu penis e enfiei a faca na base

— foi o príncipe Felipe — murmurou engasgado no sangue e lágrimas — ele a levou para uma cabana no mar, por favor pare

Precisei de muito auto controle mas me afastei dele e guardei a faca

— no mar onde?

— eu não sei, ele não deu nenhuma informação além dessa

— onde eu o encontro?

— no reino da água, ele está ficando em uma hospedaria próxima ao porto

Virei as costas o deixando lá morrendo lentamente e quando cheguei na escada encontrei o rei encostado na parede

— senhor, ele disse que foi mandado por seu irmão Felipe

— meu irmão?

— tenho a localização dele em uma hospedaria no reino da água, vou até lá para encontrá-lo

— eu devia tê-lo matado quando tive a oportunidade — murmurou antes de dar um soco na parede — porra

Senti o chão começar a tremer e me dei conta de que era devido ao que ele estava sentindo. Eu não entendia muito bem essas coisas dos dons mas diziam que o poder de um rei era muito grande, um rei da terra seria capaz de abrir uma cratera grande o suficiente para engolir todos os reinos

— eu vou com você

— com todo respeito, majestade. Eu acho que deveria ficar perto do Ariel e sua esposa para caso alguém tente algo mais uma vez

— é minha filha, minha princesinha que eu sempre cuidei com todo amor do mundo... só de pensar que ela pode estar...

Ele virou de costas para mim e respirou fundo algumas vezes

— traga ela para casa, por favor e terei uma dívida eterna com você

— juro pela minha vida que a trarei

Ele me deixou sozinho no corredor escuro e fedido. Antes de partir eu precisei juntar algumas coisas, tomar um banho para tirar aquele sangue seco de mim e quando estava pronto peguei meu cavalo e parti.