Ayla

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Hoje fazia dois meses que o Kelan tinha desaparecido e ainda assim todas as vezes que fechava os olhos a noite eu sonhava com seus lábios quentes tocando os meus. Acordava soando, sentindo um calor entre as pernas que nunca tinha sentido antes e as vezes precisava tomar um banho para me acalmar

— você sabe a onde está o Kelan? — questionei ao meu novo guarda que nunca falava nem olhava para mim

— não, alteza

— ele está na cidade?

— eu não sei te dizer, alteza

Era frustrante não conseguir arrancar nenhuma resposta de ninguém. Meu pai não quis me contar a onde ele estava e disse que o mesmo se recusou a voltar para perto de mim.

Passei dias planejando como descobrir o paradeiro dele e a oportunidade perfeita veio quando meus pais saíram para uma reunião com um dos lordes do reino. Corri até o escritório do meu pai e comecei a mexer em todas as coisas e gavetas na esperança de encontrar uma pista. Após muito revirar os papéis eu finalmente encontrei uma folha de pagamento com o nome do Kelan e um endereço que eu não fazia ideia da onde ficava mas iria descobrir

— Ayla, o que faz aí? — meu irmão entrou sem bater e eu só tive tempo de enfiar o papel no decote

— nada, estava só... olhando as coisas

— sei — disse desconfiado

— o que você quer, Ariel?

— almoçar, você vem comigo?

— sim, claro

Saímos de lá em silêncio e ele foi caminhando ao meu lado até o salão de jantar

— como foi lá com o tio Kalel?

— cansativo, ele mal me deixava dormir

— e o reino do ar? Como é?

— como a mamãe sempre disse, montanhas tão altas que a vista mal consegue alcançar

— espero que um dia eu possa ir até lá

— claro que você vai, logo assumirá o trono e essas revoltas cessarão

— acho você muito inteligente para um pirralho

— eu não sou um pirralho

— é sim, mas tudo bem não aceitar isso

Ele fez uma careta e assim que chegamos no salão de jantar fomos comer. Após o almoço ele tinha treinamento e eu fui até a biblioteca para procurar um mapa da cidade. Precisava saber se aquele endereço ficava muito distante e para minha felicidade não.
Traçar um plano para ir até lá foi fácil demais, o único problema é que eu não sabia como enganaria o guarda que não saia um segundo de trás de mim.

Fiquei o dia todo elaborando algo e a melhor solução era sair pela janela no meio da noite. Eu sabia perfeitamente que era um plano arriscado e que não deveria mas eu precisava ver o Kelan, precisava pedir para que ele voltasse. Cresci seguindo regras chatas, vivendo em uma gaiola sem ter nada do que eu queria e agora eu tinha colocado na cabeça que queria ele e iria atrás disso custe o que custar.

Quando era duas da manhã o castelo estava em completo silêncio. Eu tinha agido normal a noite toda e quando voltei ao quarto para dormir comecei a me arrumar. Uma capa grossa, peguei um vestido bem discreto e então abri a janela.

Meu quarto ficava em uma torre, era mais alto do que eu gostaria só que não tinha outra opção. Criei trepadeiras que desceram por toda a parede fazendo uma escada em caracol e com cuidado fui descendo cada degrau sem olhar para baixo. Foi uma descida de uns 10 minutos e quando pisei no chão a minha testa soava como nunca. Olhei para cima desfazendo a escada e não acreditei que tinha me aventurado daquela forma

— vou voltar para meu posto, só estou fazendo a ronda senhor — um guarda disse próximo

Me escondi na sobra entre arbustos e árvores até o muro que pulei da última vez. Agora ele era mais alto e bem mais vigiado só que ainda assim consegui passar.

O restante do caminho até a cidade foi silencioso e solitário. Hoje não estava tendo nenhuma festa na praça, então a maioria das pessoas dormia e as ruas estavam escuras. Peguei o mapa improvisado que desenhei e comecei a segui-lo sem sequer prestar atenção ao meu redor. O capuz da capa tampava meu rosto todo e não tinha a menor chance de alguém me reconhecer.

Parei próximo a uma taverna e mesmo a distância eu o vi. Ele estava sentado em um barril de cerveja com o rosto sério e a mente distante. Uma mão segurava uma caneca grande e a outra o cabo de sua espada que descansava em sua cintura.

Observa-lo era como ir a uma exposição de obras de arte. Ele era tão bonito que fazia meu coração dar vários tropeços. Comecei a me aproximar mas parei quando vi uma garota se aproximar e sentar em seu colo enquanto ria para uma amiga. Ele a segurou na cintura e a tirou de cima de si reclamando, o que me fez dar um sorriso enorme

— não acha que está muito longe de casa, princesa?

A voz próxima ao meu ouvido me assustou. Eu estava tão distraída que sequer notei o homem que agora se encontrava perto demais. Assim como eu ele usava um capuz que me impedia de ver seu rosto. Mal tive tempo de ter uma reação pois um pano foi colocado sobre meu rosto e tudo foi virando um borrão até que apaguei.

AbominávelOnde histórias criam vida. Descubra agora