Ayla

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Quatro meses passaram e agora as coisas estavam mais calmas. Nunca mais tivemos nenhuma manifestação reclamando sobre eu ser rainha e eu já conseguia me sentir mais segura. O Kelan foi promovido e ele ficava muito tempo ocupado então a gente se via menos do que antes, o que era horrível já que ele costumava ser a minha única distração

— ela não está prestando atenção

— Ayla

Me virei para meus pais que estavam me olhando e depois para meu irmão sentando ao lado de nossa mãe

— desculpem eu me distraí

— você anda bem distraída nos últimos dias

— ela está com saudade do namorado — o Ariel disse rindo

— quieto pirralho, o que vocês estavam dizendo?

— nós vamos precisar viajar alguns dias e o Ariel vai para o reino do ar treinar com seu tio

— eu posso ir?

Eles se olharam e nem foi preciso dizer nada para que eu entendesse que não iria a lugar algum

— tudo bem — sorri sem ânimo

Depois de dois dias todos partiram e eu fiquei sozinha.
Quando era mais nova eu amava explorar cada cantinho do castelo, descobrir passagens secretas. Tudo era tão grande e mágico, mas agora eu me sentia sufocada mais uma vez

— oi — o Kelan chegou no meu quarto e me abraçou — o que foi?

— todos viajaram

— e quando vão voltar?

— antes de partir minha mãe disse que ficariam dois dias no reino do fogo

— um dia vou te levar lá, eu prometo

— quando estava naquela cabana no meio do oceano eu tinha mais liberdade do que tenho aqui

— só estão te protegendo, você vai ser um rainha e muitas pessoas não gostam disso

— ninguém mais liga para isso

Sentei no banco próximo à janela e descansei o rosto nas mãos. Eu conseguia ver a vila repleta de pessoas e o som de uma música

— o que está acontecendo lá?

— é uma festa da igreja, eles fazem todos os anos

— parece divertido

O Kelan me olhou por alguns segundos como se pensasse em algo e enfim veio até mim e pegou minha mão me fazendo levantar

— troque de roupa

— para que?

— nada desses vestidos cheios de laços

— não estou a fim de sair

— pensei que fosse querer ir naquela festa

— você vai me levar lá?

— troque de roupa, não queremos chegar tarde

Fui até meu armário dando vários pulinhos e tentei escolher um vestido. Eu sempre fui apaixonada por roupas então era difícil achar algo mais simples no meu guarda roupa

— que tal esse? — peguei um azul claro bordado com pérolas e ele deu uma risada

— você acha mesmo que alguma garota da vila usa pérolas bordadas?

Tentei mais três vestidos e em todos ele disse que era chamativo demais

— é melhor você escolher então — Ele começou a passar os vários vestidos bufando — para que tanta roupa? 

— eu gosto de vestidos

Enfim um rosa simples foi tirado do cabide. Ele tinha mangas longas, o decote do corpete era quadrado e todo bordado com flores da mesma cor

— solte o cabelo — se aproximou e tirou os grampos que firmavam meu coque

Caminhei sorridente para o banheiro e após me trocar olhei no espelho. Meus olhos eram algo que nem se eu quisesse poderia esconder mas sabia que estaria segura lá com ele ao meu lado.

Passei um pouco de maquiagem e perfume depois sai para encontrá-lo

— como estou?

— Linda como sempre

Sorri pegando sua mão e juntos fomos caminhando pelos corredores. Ele me levou até o portão onde os guardas passavam e não tivemos problema nenhum para sair

— essa é a primeira vez em muitos anos que eu saio do castelo sem ser pulando o muro

Nos rimos durante todo o caminho para a vila e assim que chegamos ele parou na minha frente

— o que quer fazer?

Olhei ao redor vendo muitas pessoas andando de um lado para o outro, barraquinhas de comida, bebidas e uma roda de dança

— eu quero comer

Fomos até uma das barracas em que uma senhora vendia pequenos bolinhos

— olá Kelan, você está sumido

– trabalhando muito dona Marta

— não vai apresentar sua namorada?

— essa é a Ayla

— é um prazer conhecê-la querida —  Ela pegou minha mão e sorriu para mim — você parece muito com sua mãe

— o prazer é meu — sorri educadamente

— o que vão querer?

Praticamente experimentei tudo que tinha direito. Quando o sol começou a se pôr minha barriga estava cheia

— quero beber

— não sei se é uma boa ideia

— é uma ótima ideia

— princesa...

— podemos ser apenas duas pessoas normais? Por favor, não quero ser uma princesa hoje

— não dá para ser algo que você não é, Ayla

— hoje é possível

O arrastei até uma barraquinha e peguei duas canecas de cerveja. Era bem mais forte do que eu estava acostumada e sequer precisei tomar metade para me sentir um pouco mais alegre. Quando ficou noite eles acenderam pequenas luzes e uma roda de dança enorme abriu

— quero dançar

Nem o dei tempo de responder porque me enfiei no meio de duas mulheres e comecei a coreografia. Eu na era boa, aprendi a dançar sozinha lendo livros e aquela era a primeira vez que eu me encontrava em uma roda, até que estava me saindo bem.

O Kelan estava parado com sua caneca sorrindo enquanto me observava com seus olhos de água atentos a cada respirada que alguém dava ao meu redor.

AbominávelOnde histórias criam vida. Descubra agora