Ayla

21 5 0
                                        

Foi extremamente decepcionante quando sai do quarto e vi que o Kelan não estava lá. Por dias eu esperei que ele voltasse mas os únicos guardas que apareciam eram homens que eu nunca tinha visto antes

— papai, onde está o Kelan? — questionei durante nosso jantar

— ele me pediu novamente para que o mudasse de posição, disse que desertaria do exército se eu não fizesse isso, então não tive escolha já que é meu melhor soldado

— diga que ele tem que voltar — murmurei irritada igual uma garotinha mimada

Meu pai parou de comer e olhou para mim alguns segundos

— o que aconteceu?

— nada — senti as bochechas corarem

— ele inventou tantas desculpas quando veio conversar comigo, acho que estou começando a entender

— você não está entendendo nada

— ah ele está sim

— mamãe...

— não tem problema nenhum em vocês se amarem, princesa

— eu não o amo, pare de dizer essas coisas

— você o beijou?

— não quero falar disso com você, você é meu pai

Meus pais se olharam e começaram a dar risadinhas que me deixaram muito irritada. Levantei arrastando a cadeira e olhei feio para os dois

— vocês estão sendo muito infantis — peguei meu gato no chão e fui em direção a porta — mande-o voltar

Sai de lá direto para a estufa, meu novo local de tomar chá já que o jardim ficou proibido após aquela flecha voar em minha direção. Olhei para o teto de vidro, o céu estava tão lindo hoje e eu estava mais uma vez presa aqui

— sabe avelã, se eu tivesse direito de fazer qualquer pedido para uma fada madrinha, eu pediria para ser livre uma vez na vida. Queria sair na rua como uma garota normal, ir às lojinhas e comer várias coisas gostosas. A noite eu iria a uma festa e dançaria até os pés doerem, depois eu assistiria o sol nascer do alto de uma colina

Deitei no chão e fiquei horas em silêncio. Tirando as minhas aulas de educação financeira, as reuniões com o papai para discutir assuntos do reino e os momentos que treinava meus dons eu basicamente ficava sozinha não fazendo nada. Conhecia cada cantinho desse castelo como ninguém e sabia o nome de todos os funcionários, desde os guardas até o pessoal da cozinha.

As vezes eu sentia que já era parte daqui como um móvel e que aqui ficaria até o dia da minha morte. Eu queria ser a rainha, desde que nasci me preparo para isso só que os sacrifícios que precisei fazer estavam se tornando um fardo cada vez mais difícil de carregar e eu já estava muito cansada da solidão. Me sentia culpada por ser uma mulher, por não ser capaz de produzir herdeiros com dons da terra, mesmo que eu ainda fosse jovem demais para pensar em filhos. Era horrível ser julgada simplesmente por ter um útero

— Ayla? — minha mãe chamou

— estou aqui

Ela caminhou entre as flores com seu lindo vestido azul marinho e os longos cabelos castanhos presos em um penteado bonito

AbominávelOnde histórias criam vida. Descubra agora