Abominável

Thomas

A Ayla dormiu com a cabeça no colo da Lina após alguns minutos de viagem. Ela era a criança mais linda que eu já tinha visto em toda minha vida. Curiosa, falante e tinha uma alegria que não me deixava parar de sorrir

— como você está? — perguntei para a Lina que me ignorou — não podemos ao menos ter um bom relacionamento?

— não temos nada para conversar

— temos muito para conversar

— você vai ensiná-la, eu vou vigiar e no final de tudo vamos voltar para casa e você vai seguir a sua vida

— por favor não me afaste dela, eu já perdi quatro anos

— como se você se importasse com isso

— Lina...

— me deixe quieta, estou com dor de cabeça

Eu não ia conseguir parar de olhar para ela feito um lunatico, então sai pela porta e me sentei com o cocheiro o resto da viagem. Chegamos a noite e eu abri a porta para as duas

— a sua casa é tão linda — a Ayla disse agarrada ao coelho

— quer conhecer seu quarto?

— eu tenho um?

— claro que tem

— podemos ir agora?

— sim, vamos

As perninhas dela eram pequenas e em um momento ela cansou de andar e me esticou os braços pedindo colo. Eu a peguei e pela primeira vez na minha vida senti um abraço da minha filha

— aqui tem fadas?

— sim, elas vivem escondidas mas se você se comportar talvez apareçam

— eu vou me comportar

Desde que nasceu a Ayla tinha um quarto aqui. Eu mandei fazer depois que a vi a primeira vez e de acordo com que o tempo ia passando eu adaptava para a sua idade.

— chegamos — eu a coloquei no chão

— posso entrar?

— claro

Eu nunca pensei que ela fosse estar ali, mas a ideia de ter um quarto para minha pequena princesa me fazia sentir menos solitário. Não sabia se ela ia gostar, eu não entendia nada de decoração e isso me deixou nervoso.

Assim que paramos na porta a Ayla entrou correndo sem dizer nada. Olhei para a Lina que estava parada com os braços cruzados a alguns passos de distância e segurei a porta. Ela bufou quando passava por mim mas sequer me olhou

—  é meu? — a Ayla perguntou vendo a coleção de bonecas

— é sim, princesa

O quarto tinha as paredes claras, uma cama de dossel com delicadas trepadeiras de flores rosa que iam subindo pelas colunas nos lugares das cortinas, havia vários brinquedos e a janela tinha uma vista para a floresta

— já está tarde e você está cansada, vou mostras o quarto para sua mãe e então vocês podem ficar a vontade

— vou ficar com ela

— onde é seu quarto?

Pra ser bem sincero eu não sabia onde era meu quarto mais. Já tinha me mudado 5 vezes tentando encontrar um lugar onde não fosse tão perturbador para dormir

— aqui ao lado

— posso conhecer seu quarto?

— amanhã, tudo bem? Você precisa comer e dormir agora. Alguém vai trazer o jantar de vocês, ou se preferirem podem comer lá embaixo comigo e...