prologue

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As palavras se embaralhavam no meu cérebro, meus olhos abrindo e fechando várias vezes enquanto encarava a tela do computador.

O excesso de luz artificial já estava demonstrando seus efeitos. Meus olhos doíam, ainda mais que os óculos que eu deveria estar usando estavam largados em algum canto do meu quarto.

Puxei mais um gole de água pelo canudinho enquanto continuava me aplicando para todos os empregos que haviam naquele site.

Daqui algumas horas a biblioteca fecharia. Eu precisava completar aquela lista antes do sol se pôr. Não era exatamente fácil porque acabava tendo que alterar meu currículo para encaixar em cada exigência que a vaga pedia.

Francês fluente? Sim, claro. Nada que aulas no youtube não consigam me ajudar.

Eu nunca fui seletiva demais para nenhum trabalho. Não que minha condição financeira permitisse, já que minha mãe desde cedo fez de tudo para que nada me faltasse, mas não significa que eu tive de sobra.

Se eu não corresse atrás, não conseguiria me manter no meu quarto alugado próximo ao campus da faculdade. Hannah, a menina que dividia o apartamento comigo, era muito compreensiva com a minha situação. Ela via o quanto eu me esforçava, as horas extras que eu insistia em fazer mesmo quando não aguentava ficar em pé, todas as vezes que voltei quase três horas da manhã quando trabalhei como bartender.

Mas não era sua obrigação me ajudar e mesmo se quisesse, Hannah não conseguiria bancar o apartamento sozinha por muito tempo.

Antes de ser demitida da casa de show que trabalhei por oito meses, as contas finalmente estavam fechando. Eu conseguia pagar Hannah, mandar um pouco de dinheiro para minha mãe — mesmo que ela odiasse, eu sabia que precisava e ainda sobrava uma quantidade que eu poderia gastar comigo mesma.

A bibliotecária me encarando a uns quinze minutos foi a dica que precisava para ir embora. Dei passos arrastados em direção a saída, sentindo o calor abafado que estava do lado de fora.

O semestre estava acabando e eu não tinha dinheiro para comprar uma passagem e passar as férias de verão com a minha mãe.

A não ser que conseguisse um emprego até no máximo semana que vem.

Me joguei no sofá quando adentrei o apartamento, sufocada pelo tédio. Eu não sentia só falta do dinheiro, mas sentia necessidade de me manter ocupada. Talvez meus pensamentos eram altos demais para lidar.

Ouço o destrancar da porta e vejo Hannah carregando várias sacolas até a bancada da cozinha. Seus cabelos loiros estavam presos em um coque bagunçado, parecia ter saído de casa com pressa.

Ela apoia os dois braços no mármore e me encara com seus olhos castanhos chocolate.
— Nada ainda? — pergunta, visivelmente frustrada — Eu não quero te pressionar, mas minhas economias estão indo embora mais rápido do que pensei...

A ansiedade sobe pelo meu estômago ao ouvi-la. Ela parecia estressada, as olheiras quase pretas demonstrando que não dormia bem pensando naquela situação. E quem dormiria não sabendo se conseguiria pagar o aluguel no dia seguinte?

— Ainda não — murmurro, envergonhada — Mas amanhã devo ir até a casa daquela amiga da minha mãe e conseguir uns trocados. Acho que paga pelo menos uma semana de mercado. Eu te dou tudo...

Hannah fecha os olhos, suspirando.
— Não quero que você fique sem nada — completa.

Dou de ombros, sabendo que para quem não tinha nada a tantas semanas como eu, não faria tanta diferença.

Eu contei à minha mãe que fui demitida, mas menti dizendo que conseguiria aguentar alguns meses com o dinheiro que guardei. Eu não queria preocupa-lá ao tentar explicar porquê havia gastado tudo mês a mês como se aquele emprego fosse garantido e muito menos que ela se sentisse na obrigação de me mandar do pouco que tem.

dial drunk // billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora