vingt et quatre

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— A porra de um carro, Laura! Isso é insano! — A voz de Liz ecoa pelo apartamento — Não é possível que você ache isso normal!

Meu corpo estava exausto da festa e especialmente das emoções que vivi durante. Os pés doíam pelo salto e a cabeça pela gritaria da minha namorada.

Honestamente, eu não poderia me importar menos com sua opinião agora. Eu estava cansada, precisava dormir e ter tempo de pensar sobre o assunto.

Isso porque não acho que está errada. Eu só não quero conversar agora.

Me joguei em cima da cama, tirando os saltos. — Eu não sei o que você quer que eu te diga, amor — Respondo, usando o tom um mais doce possível.

— Eu não sou burra, sabia? — Exclama. Eram em torno das três da manhã e algum vizinho acabaria reclamando da gritaria que estava acontecendo — Laura, não é a porra de um brinco ou um colar! É um CARRO! Que parte disso você-

Levantei a cabeça para olhar nos seus olhos. — Eu sei, Eliza! Eu sei, caralho! Não é culpa minha que ela quis me dar um carro e honestamente, eu acho que mereço!

Os braços cruzados e o fogo na sua expressão foi resposta mais que o suficiente. Agora que eu engajei, com certeza essa briga não terminaria tão cedo. Ainda usei seu nome inteiro, coisa que a irrita e admiti minha felicidade ao receber o presente.

Liz se aproxima, os passos lentos como se não fosse continuar a briga. — Fala a verdade, Laura — exige. Pelo tom baixo da sua voz, sei que não está para brincadeira — Alguma coisa você não está contando...eu vi o jeito que ela olha para você!

— Podemos falar disso amanhã? — Peço, uma última vez. Não custa nada tentar — Por favor, amor, eu estou cansada. Meu aniversário foi só algumas horas atrás.

Notei um flash de compaixão passar pelos seus olhos. A morena puxa um travesseiro atrás de mim e pega um cobertor no armário. — Até amanhã — diz. Logo em seguida vai para a sala e ouço o sofá afundando.

Ótimo.

Achei que essa noite terminaria bem diferente.

Feliz aniversário para mim.

*

Me ajeitei no sofá enquanto fingia assistir a série na televisão, mas apenas observava minha namorada se arrumando na frente do espelho que tinha no corredor.

Ela ia sair de novo, com suas amigas. Como tem feito desde o meu aniversário, quase todos os dias.

Não sei se ela sabe que nós dividimos praticamente o mesmo círculo social e de trabalho. Nossas amigas são a mesmas, e não é com elas que está se encontrando.

Tentei ignorar ao máximo o sentimento agonizante no meu peito. Desde do meu aniversário, duas semanas atrás, que nós não trocamos mais de três palavras uma com a outra.

Fui dormir naquele dia com a certeza que conversaríamos de manhã. Ela apenas me disse que não estava afim, a mesma resposta que me dá todas as vezes que tento trazer o assunto à tona. Minha paciência foi diminuindo cada vez que saía de casa sem me dar detalhes de onde ia.

Eu disse tudo que uma mulher poderia para convencê-la. Eu cheguei até o ponto de lhe dizer que devolveria o carro caso quisesse muito.

Mas isso seria mentira. É a porra do meu presente.

Até as conversas com a minha terapeuta não estavam ajudando. Rita apenas me dizia que eu precisava ser honesta com os meus sentimentos. Mas como se ela simplesmente não falava comigo?

dial drunk // billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora