Observei a pré-adolescente encostada no batente da porta. Seus olhos azuis passeavam pela decoração, analisando cada detalhe como um júri.Querendo ou não, batia as pontas dos meus dedos em ansiedade. Eu não deveria me sentir tão afetada pela sua opnião, mas era inevitável nesse ponto.
— E aí, Alex. Desembucha — Peço, não aguentando mais a antecipação — Gostou ou não?
Ela me ignora, adentrando o cômodo e passando a mão pelos móveis novos, que eu particularmente renovei sozinha na garagem. Agora, via defeitos que não existiam antes e não sabia se era o olhar da mais nova ou se realmente deveria mudá-los.
— Hm — Ela começa, e rezo por um minuto para que ela não faça total desfeita do meu trabalho — Gostei. Talvez poderia ter pegado mais leve no roxo, mas tudo bem.
Soltei um suspiro aliviado. Ela gostou.
Quando decidi renovar o seu quarto antigo, não foi por falta de perguntas de como queria. Alex simplesmente não me respondia nada concreto, apenas mostrava pastas salvas no pinterest. Como ela esperava que eu conseguisse reproduzir tudo igual?
Ainda fiz questão de perguntar as cores. O problema é que seus gostos mudam com muita facilidade, e se um dia gosta de uma cor, no outro a odeia. Usei o roxo que escolheu, mas acabei exagerando no quão escuro estava.
Mesmo assim, estava muito orgulhosa do resultado. Reutilizei os móveis antigos que eram infantis e os renovei durante o último mês inteiro. Os lixei, pintei e até desmontei alguns.
Ainda por cima, aguentei as broncas da minha mulher porque forrei o chão de jornal e deixei os móveis atrapalhando a entrada da garagem.
Mas tudo valeu a pena, ainda mais considerando o motivo de tudo isso; Alex passava mais tempo aqui do que na sua própria casa, e merecia um quarto que não fosse de criança.
Eu estava a alguns meses de uma viagem importante a trabalho. Ficaria fora em torno de um mês e meio, e queria muito deixar tudo arrumado para que não sentisse minha falta.
Apesar de que na verdade talvez eu que sinta mais falta dela.
— Que bom que você gostou — disse, aliviada — Deu trabalho.
Alex me encara. — Não sei porque não contratou alguém para fazer.
— Você tem que aprender o significado de trabalhar duro, Alex — Reclamo, caminhando para fora do quarto. Noto seus olhos passeando pelas decorações que escolhi.
— Eu queria deixar alguma coisa legal para você antes de viajar.A adolescente revira os olhos e me segue para fora do cômodo, fechando a porta atrás de si. — Cadê a chave?
Cruzei os braços e a encarei. Já estava acostumada com o quanto me ignorava e respondia somente o que achava interessante. Ela usava aquela expressão séria, mas pidona. Ela deve achar que consegue me convencer facilmente.
Talvez porque consiga. Mas nem sempre. Estou melhorando.
— Criança não tranca o quarto — murmuro.
Alex me fuzila com os olhos. — Eu já te disse que não sou mais criança!
Sua resposta ecoa pelo corredor. Eu a amo, mas às vezes ela consegue atingir todos os meus nervos.
Billie sobe as escadas, devorando um donut que trouxe da padaria de manhã. Acredito que apenas pegou as últimas frases da conversa porque usava um sorriso irônico nos lábios. Estava se divertindo com o meu sofrimento.
— Para de dar trabalho, pirralha — diz, usando a outra mão para esfregar os cabelos de Alex e seguindo para o nosso quarto — Obedece a Laura!
Suspirei, sabendo exatamente os próximos passos da mais nova. Ela bufa, entra no quarto e bate a porta com tudo na minha cara.
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dial drunk // billie eilish
RomanceLaura acredita que encontrou a forma mais fácil de fazer dinheiro para suas férias. Mas quem disse que ser babá de uma criança fofa ia ser sua única tarefa?