vingt et cinq

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A raiva que consumiu meu peito no momento que vi os estilhaços no chão foi inexplicável. Era a porra da minha caneca favorita.

Em compensação, ou a minha maneira de tentar justificar suas atitudes, a Liz estava quase em um transe. Abriu os armários e começou a tirar a maioria das minhas louças de dentro.

— Que porra você acha que está fazendo? — Me aproximo, segurando seu braço para que não quebre o copo que estava na sua mão.

Ela faz força para conseguir desvincular o braço, e agora ao seu lado, sinto o cheiro de álcool na sua respiração. — Eu quero que se foda! Você merece tudo de ruim que possa acontecer com alguém!

De novo, o vidro se estilhaça no chão. Larguei seu corpo, desistindo de impedi-la. Se quer tanto me machucar, então que destrua toda a minha casa.

Me afastei, sentando no sofá e a vendo a pegar mais copos de dentro do armário. Esfreguei as mãos no cabelo, frustrada. Talvez ela precise mesmo descontar toda a sua raiva em mim e eu deveria permitir, afinal de contas, é culpa minha que está desse jeito.

— Sua filha da puta! — berra, e sinto pena dos nossos vizinhos de novo — Tava feliz dando para ela, né? Que diferença faz se eu estou viva ou morta, né?!

— Eu não dei para ela, Eliza — Tentei argumentar, mas era um pouco inútil. Parecia não prestar atenção no que eu dizia.

Suspirei quando ouvi o próximo barulho de vidro se quebrando no chão. Essa porra vai durar a noite toda?

Tive a minha resposta conforme as horas da madrugada se passaram. Liz continuava gritando comigo, mas quando viu que a louça não estava mais fazendo efeito, foi até o meu quarto e começou a tirar minhas roupas de dentro do armário.

Fiz o meu melhor para ignorar tanto suas atitudes quanto suas palavras. Ela dizia várias vezes que eu era uma traíra, que deveria morrer sozinha...nada era novidade. No fim, ela mentiu, e na verdade o fato que eu estava me "reconectando" com a Billie a incomodava sim.

Quanto tempo o álcool dura no seu corpo?

O sol nascia, a luz laranja tomando conta da sala enquanto a minha namorada ainda procurava coisas dentro do apartamento para me perturbar. Chegou a ajoelhar no chão na minha frente e implorar para que eu contasse a verdade, dizendo que eu havia de fato a traido. Mas seria mentira, então neguei.

Isso pareceu irritá-la mais ainda, e por um minuto pensei se deveria só dizer que sim. Fiz o meu melhor para ignorar, mas estava quase dormindo enquanto ouvia seus gritos. Afinal, eu estava exausta e meu cérebro foi se acostumando com o barulho.

Acordei no susto quando a vi subindo no balcão da cozinha, tentando alcançar provavelmente os eletrodomésticos que guardava na última prateleira. Normalmente, eu tinha uma escada para isso. Ela não se importou.

Levantei no susto, com medo que caísse e se machucasse.

— Eliza, desce daí caralho! — gritei para que me ouvisse por cima da sua própria voz.

Agarrei sua canela, a puxando de leve para ver se cedia. Nada adiantava, ela continuava tentando alcançar o topo. — Eu vou dar para ela, Laura! Como você vai se sentir, uh?

Fiz uma careta ao imaginar a cena. Eu sei que não estava falando nada com nada, mas não sou obrigada a escutar essas bobeiras.

Consegui que se abaixasse, mas ainda estava no balcão. Movimentava seus braços e tentava se desvincular do meu aperto. — Me deixa! Vai ficar com ela, porra!

Abri a boca para tentar convencê-la a descer, mas se desequilibrou e seu braço direito veio em direção ao meu olho. A força foi tanta que cai para trás e bati a cabeça na mesa.

dial drunk // billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora