dix-sept

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Apertei as mãos contra o banco. Lá vai eu de novo, cedendo a seus desejos como se fosse um absurdo questioná-la das decisões que tomou desde que nos vimos pela última vez.

Minha mãe não estaria nada feliz.

Estava cada vez mais difícil olhar para ela com o mesmo olhar de antes.

Para alguém que passou tanto tempo procurando por respostas sobre o casamento falido dos meus pais, eu deveria saber melhor. Não deveria estar cedendo tantos pedaços de mim para vê-la bem.

Seus olhos continuam fixos na comida enquanto mastiga. Parece não querer olhar pra mim.

Sei que atingi seus nervos quando a repreendi sobre o seu comportamento, no entanto, não havia outro pensamento na minha mente além dos dois dias que ela passou sem se lembrar de nada.

— Por que você foi no meu apartamento aquele dia? — Perguntei. Não era sobre o assunto que aparentemente não queria falar, não é mesmo? Ainda sim eu não estava com boas intenções em relação a essa conversa.

Cortei o waffle na minha frente em vários pedaços enquanto esperava sua resposta.

Ela abre um sorriso de canto. — Porque eu queria te ver — diz.

Meu estômago dá voltas que reconhecia bem o que significavam.

— Você poderia ter respondido minha mensagem...— Raspei o mel do prato com a colher, distraída com a reação da morena — Ou chegado em um horário normal e não no meio da madrugada.

Billie solta o ar pelo nariz, continuando a comer como se eu não estivesse falando. — Você não me pareceu incomodada.

Mordi o lábio ao pensar no quanto iria irritá-la nas minhas próximas palavras. Eu passei a noite inteira em uma cadeira e com fome, a última coisa que faria era ser racional.

— Não é como se você tivesse perguntado, não é?

Seus olhos azuis voltam a me encarar, parecendo me repreender. — Você estava incomodada, Laura?

— Você age como se tivesse direito de entrar na minha casa de madrugada, ou de me ligar para te tirar da cadeia — Poderia fingir que não gostava disso, mas seria uma mentira descarada. Ela não precisava saber, no entanto, ainda mais naquela hora que a raiva passeava pelo meu corpo ao argumentar.

Ela largou os talheres no prato, o barulho fazendo meus ouvidos chiarem. Conhecia muito bem o que significavam seus lábios curvados e os olhos escuros. Estava prestes a ouvir as piores coisas possíveis e não posso nem dizer que não trouxe isso para mim.

— Eu acho que você está confundindo os papeis aqui, Laura — rosna — Não me coloque como a obcecada entre nós, porque não sou que passei os últimos meses te perseguindo, porra! — Esfrega o rosto e se levanta, mas abaixa na minha altura para continuar — E você vir até aqui diz mais sobre você do que eu.

O sino soa quando ela passa pela porta. Consigo vê-la pelo vidro da lanchonete, as mãos puxando o cabelo em estresse enquanto se distanciava do meu campo de visão.

Desviei meu olhar para focar no celular. Mandei mensagem para o Finneas com o endereço para que pudesse nos buscar.

Apertei os olhos para não deixar as lágrimas caírem. Meu deus, como eu sou patética. Eu a provoco e depois choro quando ouço palavras duras. A verdade é que estou desconfortável com a minha posição nesse relacionamento que desenvolvemos. Por que sempre tenho que me sentir inferior a ela? Como se meus sentimentos não fossem válidos.

Billie reaparece perto da entrada, com um cigarro aceso entre os dedos. Não faço ideia de como conseguiu aquilo.

Seu estresse era claro. Encarava o chão como se fosse a coisa mais interessante do mundo, soltando a fumaça em direção a ele. De vez enquanto levantava a cabeça, olhando para céu nublado e fechava os olhos.

dial drunk // billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora