trois

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— Seus pais vão chegar e perguntar de você. Vou dizer a eles que não vi nada; apesar de ser mentira. Então sua mãe vai tirar alguns dólares da carteira pra me entregar e seu pai vai dizer que está tarde para eu voltar sozinha — completo — Quem será que ele vai chamar para me dar uma carona para casa?

Se olhares pudessem matar, eu estaria a sete palmos do chão.

Ela aperta os lábios, o gloss que usava os fazendo brilhar debaixo da luz branca da sala. Agora tão perto mim, notava quanto pareciam macios. Beija-lá deve ser uma das sensações mais incríveis do mundo.

A ouço suspirar alguns palavrões, e de repente sua mão se fecha e mira em minha direção.

Eu sabia que aquele soco não era para mim, e quando sinto o impacto na pobre abajur da mesinha do sofá a milímetros do meu corpo, solto um suspiro um pouco desesperado.

Como eu conseguia manter essa mulher em casa e sóbria sendo que quando digo algo que não lhe agrada, ela age assim?

Era impossível trabalhar assim, era impossível conseguir algo dela. Por que sequer concordei com Maggie sobre isso? Por que eu não sucumbi ao trabalho que me explora, mas que não corro risco de ser espancada?

Ela parecia transtornada, e dá alguns passos para trás quando nota minha frustração.

Olho para a abajur caído atrás do sofá, e depois para ela.

— Billie — murmurro, meu tom de exaustão ficando nítido — Ela vai descobrir. Eu não estou dizendo isso porque vou contar, mas você e eu sabemos muito bem que uma hora ela vai descobrir...

As íris azuis me encaram de volta, não parecendo emanar toda aquela raiva de antes.

— Você e eu? — bufa, se afastando de mim — Está falando comigo como se fôssemos amigas.

Sinto a raiva correndo pelas veias, e a distância que ela colocou entre nós acaba enganando minha cabeça.

— Deus me livre ser amiga de drogada — respondo.

Me arrependo na hora que aquela frase saiu da minha boca, e por um segundo, realmente temo pela minha vida.

Mas no momento que achei que lidaria com as consequências, ouço o destrancar da porta ao nosso lado.

— Oi meninas! — Maggie adentra, seu marido logo atrás — Que bom que já estão se dando bem!

Abri um sorriso envergonhada, evitando olhar para Billie.

— Vai sair para onde? — Patrick pergunta, observando as roupas da sua filha mais velha.

Billie abre a boca, e notando que da sua resposta sairia uma briga, as palavras saem da minha boca antes que eu possa controlar.

— Ela vai sair comigo — afirmo — E depois também vai me levar para casa.

Desde pequena fui criada como mediadora das brigas em casa. Meu pai costumava discutir com a minha mãe quando ainda estavam juntos, e tudo que eu fazia era na intenção que parassem.

Eu sempre defendi a minha mãe. Sempre puxava a sardinha para o seu lado.

A verdade era que não importava o quanto eu tentava ignorar, eu queria desesperadamente ajudar Billie a melhorar. O quanto tempo eu pudesse deixá-la longe de qualquer droga, mesmo que me maltratasse o percurso inteiro, valeria a pena.

— Ah, claro — Maggie exclama, acreditando na minha mentira — Se divirtam, então! Deixa eu só te pagar por hoje, Laura.

A morena caminha para apoiar a bolsa, e Patrick encara sua filha com a maior desconfiança possível. Não sei dizer se não confia que vamos mesmo sair juntas ou só não confia em mim.

dial drunk // billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora