vingt et un

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— Você vai ficar encharcada só para não ter que falar comigo, boneca?

Não. Eu não estava pronta.

Aquele apelido ridículo que não ouço faz anos.

Eu comentei algumas vezes na terapia essa possibilidade. Eu não estava pronta. Deus, por que fez isso comigo?

Eu abri a boca, mas nenhum som saia. Quase que me transporta para a sua casa, relembrando todos os momentos em que suas ações e palavras me deixavam daquela mesma maneira.

Que merda, Laura. Se controla.

Meus lábios tremiam pelo frio. Acho que não tinha mais nenhuma parte do meu corpo que não estava completamente envolta pela chuva.

Eu poderia correr agora. Poderia ir embora e nunca mais voltar nessa igreja.

Billie usava um sorriso no rosto que eu reconhecia bem. Estava achando aquela situação toda muito engraçada.

Devido a minha falta de reação, a morena pega um objeto do canto da entrada e caminha em minha direção. Ela abre o guarda-chuva preto e se aproxima de mim, me cobrindo.

Ela não mudou nada fisicamente. Ainda podia ver suas sardas e os olhos azuis que tanto me perturbaram no passado me encarando, me analisando, como se eu fosse um bem precioso preso no museu.

— Vamos, Laurinha, fala comigo — Pede. Levanta sua mão por um minuto para me tocar, mas a retrai.

Continuei em silêncio. Temia que no momento que eu trocasse de fato uma palavra com ela, não haveria mais volta. Aquilo tudo seria real. Eu não teria mais como fingir na minha cabeça.

Esses apelidos e ela simplesmente era demais para suportar.

Mas a morena não desiste como eu gostaria. — Pelo menos entra e espera a chuva passar para ir embora, que tal?

Com a respiração alterada, comecei a caminhar de volta para a igreja em silêncio. Billie me segue, tentando me acompanhar com o guarda chuva.

Dentro estava tudo quente, e o choque térmico fez com que me retraísse e sentasse em um dos bancos livres que achei. Parecia uma sala de bagunça, onde guardavam os móveis que não precisavam mais usar como a pilha de cadeiras no canto que fixei o olhar.

Billie me envolve em uma coberta cinza, que não faço ideia de onde tirou. Para ser sincera, estava focada em não devolver o olhar. Não queria ter que lidar com o fato de que estava no mesmo cômodo que ela.

— Escuta, boneca-

A cortei, limpando a garganta. Não permitiria que me chamasse por nenhum apelido.

— Meu nome é Laura — Repreendo, da melhor maneira que consigo.

Ela coloca as mãos para o alto, rendida. — O que você quiser, Laura.

Sua frase não era irônica. Parecia não querer me ofender.

Não era nada como costumava ser.

Semicerrei os olhos, não tendo certeza se acreditava nessa sua nova versão. Eu também achei que depois de ser presa por quase matar um garoto que mudaria, mas não foi o caso. Por que seria diferente três anos depois?

— Escuta, Laura — Realça meu nome, comprovando que estava fazendo as minhas vontades — É bom que nos encontramos aqui. Eu não planejei nada disso...mas sabe, queria te pedir desculpas já tem um tempo.

Finalmente levanto a cabeça e devolvo o olhar. Desculpas?

Minha mente ainda processava o fato de estarmos juntas, nem sequer considerei que quisesse me dizer alguma coisa além de me perturbar com a sua beleza.

dial drunk // billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora