Durante o dia a Igreja era silenciosa e vazia, muito diferente das missas noturnas e das noites em que recebem os grupos de apoio.Sábado amanheceu ensolarado e cheio de vida. Foi o primeiro dia em que o clima estava razoável em muito tempo durante este outono. Não consegui evitar a não ser pensar que o universo estava tão a favor desse encontro quanto eu.
Dei passos lentos dentro da Igreja, o piso de madeira velho fazia barulho enquanto caminhava. Me aproximei do batente duplo da porta principal, apoiando meu corpo. Era muito bonito e bem cuidado; a cruz banhada a ouro pendurada no alto e o púlpito simetricamente abaixo.
Billie O'Connell deixava folhas de papeis de maneira organizada na parte de trás dos bancos. Usava um suéter branco dessa vez, um que contrastava com o escuro do seu cabelo. Cantarolava uma melodia que eu não reconheci, ecoando devido a acústica da Igreja.
Abri um sorriso ao vê-la. Nunca em milhões de anos achei que a veria assim. Talvez ela tenha mesmo mudado.
Espero que sua essência continue a mesma, entretanto. Sei que não pude experienciar a sua melhor versão e por mais que não queira admitir, gostaria muito que isso mudasse.
Seu rosto se ilumina quando me vê, e meu coração acelera só de saber que minha presença é algo que gosta tanto. Ela se aproxima de mim; braços abertos e prontos para me envolver em um abraço.
Dou um passo para trás de maneira involuntária. Não tenho certeza se estou pronta para receber seu afeto ainda. Meu corpo reage como se ainda fosse a mesma Billie que conheci anos atrás e não posso evitar os muros que coloquei para que não me machucasse mais.
Ela entende minha reação na hora, e coloca os braços em volta do seu próprio corpo.
— Muito cedo? — brinca.
Balancei a cabeça, querendo evitar o assunto. — Me prometeram um capuccino.
— Seu desejo é uma ordem, prin- — corta a sua fala. Minhas bochechas esquentam porque sei exatamente como me chamaria caso eu não tivesse proibido — Hm, Laura.
Indiquei a saída, lhe dando passagem. — Você que sabe o caminho.
Nossos ombros se encostam enquanto andamos para fora da Igreja. Não é como se o corredor não fosse largo o suficiente para que pudéssemos ficar a dois metros de distância uma da outra.
Billie coloca o braço na frente do rosto, evitando o sol. Usa o mesmo para apontar em direção a um café na esquina da rua.
Parecia antigo. A decoração e a pintura remetem aos anos oitenta, mas as cadeiras e mesas eram mais atualizadas. Sentamos uma de frente para outra na parte de fora. O sol estava na direção oposta e um vento agradável nos atingia.
Billie suspira, se ajeitando no estofado. Logo a garçonete se aproxima, os cabelos loiros presos em coque e um sorriso bonito nos seus lábios rosados.
Ela apresenta o café, entregando o menu para nós duas. Seus olhos, no entanto, estão focados na morena na minha frente e é como se eu não estivesse sentada na mesma mesa.
— Bom, você vai querer o capuccino, né? Então são dois...— Confirmei com a cabeça, não estava afim de falar. Apertei as mãos na cadeira, guardando o incômodo que senti com aquela interação bem fundo do meu coração.
Será que ela não notou que estamos juntas?
Quer dizer, sei que não estamos de fato juntas, mas poderia se assumir que sim, certo?
Você namora, Laura.
Respirei fundo, fingindo que ainda estava lendo o menu até que levasse nossos pedidos para cozinha. Muito maduro da minha parte.
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dial drunk // billie eilish
RomanceLaura acredita que encontrou a forma mais fácil de fazer dinheiro para suas férias. Mas quem disse que ser babá de uma criança fofa ia ser sua única tarefa?