quatre

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Os meninos me ignoram completamente. Billie, entretanto, abre seus olhos azuis e me encara.

— Laura! — exclama, e puxa meu braço para baixo afim de me dar um abraço.

Quase tropeço, mas sinto seus braços me acolherem e na hora meu corpo trava. Não esperava isso de todas as opções que cogitei, e o calor que emanava me surpreendeu.

Me afastei só em alguns centímetros, olhando nos seus olhos. As pupilas extremamente dilatadas e o envolto avermelhado.

Eu não entendia o efeito de cada droga. Se fosse me perguntar qual das drogas causava o efeito que a morena parecia ter, eu não saberia dizer.

Mas aquilo me entristeceu por algum motivo. Não que eu tenha criado carinho por ela, era mais uma preocupação. Eu peguei apego mesmo pela sua irmã mais nova, que precisava estar se preocupando com outras coisas e não se Billie estaria viva ou não no dia seguinte.

— Deita aqui comigo — demanda, dando batidas no chão ao seu lado.

Imitei sua posição, deitando o torso e a cabeça no chão e os pés em cima da cama.

— Eu gosto de ficar olhando as estrelas no teto — aponta.

Observo a constelação colada no teto do quarto. Naquele momento estavam apenas verdes e apagadas devido a luz, mas era do tipo que brilham no escuro.

Meus dedos tremiam um pouco. Achei que o único copo de cerveja ajudaria, mas continuo me sentindo exatamente como todas as vezes que fico perto dela.

E é diferente dessa vez. Ela está sorrindo para mim; uma expressão que nunca havia visto. Não estava agressiva e pronta para criticar qualquer fala e movimento meu.

— Você conhece o Thomas? — pergunto.

Ela franze a sobrancelha, sem tirar os olhos vermelhos do teto.
— Não. Quem é esse?

— O dono da festa — solto uma risadinha.

Me surpreendo quando ouço sua risada. Era mais bonita do que eu esperava, e eu sabia que seria raridade.

Respiro fundo, controlando minha ansiedade. Eu queria desesperadamente ser uma pessoa normal e conseguir conversar com ela, aproveitando esse momento em que ela estava disposta.

Independente do motivo.

— Como você veio parar aqui, boneca? — ela acentua o "você" e vira o rosto para me olhar.

Aquele apelido ridículo mexia demais comigo, por mais que eu não queira admitir. O jeito que me olhava quando pronunciava aquela palavra, como se quisesse se passar de inocente.

Não que eu ache que isso seja nada além de uma provação sem graça dela.

Mas era irritante porque funcionava.

— Eu achei que só me chamava assim porque não lembrava meu nome — confesso.

Billie solta o ar pelo nariz, abrindo um sorriso pequeno de lado.

Volta a fitar o teto.
— Eu tenho te tratado bem mal, né?

Encaro seu perfil, torcendo para que volte a me olhar.

Dou de ombros. — Um pouco. Mas eu entendo. Sou uma estranha na sua casa, e ainda fico cuidando da sua vida...

Ela concorda, ainda sem me olhar.
— Por que?

Engulo seco, as falas de sua mãe ecoando na minha cabeça. Eu poderia ser honesta, jogar as cartas na mesa. Afinal, eu ainda não contei a Maggie que ela está longe de estar sóbria.

dial drunk // billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora