deux

3.1K 370 587
                                    


A queimadura ardia, e fui xingando a morena até entrar no elevador do meu prédio e destrancar a porta.

Que merda eu fui me meter com essa família?

Ouço Hannah chegar do trabalho em torno das cinco e meia da tarde. Meus olhos estavam inchados de tanto
que chorei durante o dia, e a bolinha anti estresse que apertava parecia trazer o efeito oposto.

Seus olhos castanhos me encaram pelo batente da porta, franzindo a sobrancelha.

— O que foi? — pergunta, se aproximando de mim e sentando ao meu lado na cama.

Estiquei o meu corpo para alcançar os quinhentos dólares que estava no meu criado mudo, e entrego tudo para a loira.

— Recebi hoje — murmurro.

Hannah fica em silêncio, colocando o dinheiro exatamente onde estava e me encarando de novo. Ela encosta sua mão na minha, seu polegar lhe acariciando.

— Foi tão ruim assim? — sua voz baixa, não querendo ultrapassar nenhum dos meus limites.

Esfreguei o rosto de novo e comecei a contar desde o momento que coloquei Alex para dormir.

Contei, inclusive, do quanto me preocupei com a saúde dela e por isso insisti em ficar no seu quarto. Não que eu estivesse certa, sei que invadi sua privacidade, mas ela parecia muito mais incomodada com o comentário do cigarro do que isso.

Quando cheguei na parte da carona que me deu, Hannah arregalou os olhos assustada.

— Laura...Meu Deus, você não pode voltar lá! — exclama — Se ela fez isso agora, imagina quando tiver mais tempo?

Concordei com a cabeça, sentindo a frustração que seria não ganhar quinhentos reais para cuidar de uma criança tão tranquila quanto a Alex. Era quase um trabalho dos sonhos, mas eu não teria coragem de voltar lá sabendo que já atingi os nervos de Billie.

Hannah encara minha perna agora, passando os dedos pelo círculo vermelho onde Billie me queimou.

Apenas senti a dor da queimação quando foi feito, mas depois que cheguei em casa com a adrenalina e ódio, esqueci completamente que estava ali. Lembrei de novo quando tirei a minha calça jeans e notei que furo era tão central que ficaria esquisito custura-lo.

Essa delinquente me custou uma calça jeans nova.

Meu telefone toca, interrompendo todos os xingamentos que Hannah soltava.

Vejo o nome de Maggie, e decido atender pela saúde de sua amizade com a minha mãe. Caso ela me peça para ir de novo, digo que consegui um trabalho.

— Oi, Laura! — cumprimenta, animada — Espero que não esteja te atrapalhando.

— Não, Maggie. Está tudo bem com você e a Alex? — pergunto por educação.

— Sim! Você cuidou tão bem da Alex ontem, eu queria muito que você viesse mais vezes — pede, como imaginei que faria — Mas tem uma coisa que acho que você pode me ajudar...não necessariamente ligada a Alex. Mas teríamos que falar sobre pessoalmente. Posso te buscar em casa daqui uma hora e conversamos em um café?

Hannah nota minha expressão, e balança os braços várias vezes para que eu recuse sua oferta. Seus olhos castanhos me fuzilam enquanto eu demoro a responder, e ela nota que eu estava considerando.

Quer dizer, um encontro profissional em um café não é nada demais. Não é definitivo. Eu poderia perfeitamente avaliar sua oferta, quem sabe pedir para que Billie não esteja em casa quando eu fosse, e quem sabe conseguiríamos o melhor dos dois mundos.

dial drunk // billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora