vingt et six

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Passei o estilete pela fita transparente que contornava a caixa de papelão. Dentro, tirei os copos de vidro organizados e os coloquei em cima da pia.

Meu celular vibrava em cima do balcão e fiz o meu melhor para ignorá-lo.

Eu sabia que eram mensagens da Hannah. Desde que parei no hospital pelo que a Liz fez, minha amiga me bombardeava de perguntas sobre o como eu estava e se estava fazendo repouso.

Claro que eu estava de repouso. Estou arrumando minha cozinha em plena tarde de quarta feira.

Terminei de colocar os copos novos na máquina de lavar louça e caminhei para pegar o celular.

Me surpreendi quando vi o nome do contato.

Amor

Oi, Laura. Podemos conversar?

Pisquei algumas vezes para ter certeza que estava vendo corretamente.

Eliza desapareceu desde o acidente naquela madrugada. Eu sabia que estava na casa da Alice, acredito que seja por suporte emocional, mas não fiz questão de vê-la. Até porque a Hannah me proibiu.

Sei que Billie lhe pagou uma visita no dia. A morena voltou a noite, sem sinal nenhum de que conversaram. E claro, ela fez questão de não me contar nada que aconteceu.

Ou ela conseguiu o que queria, e assustou a Liz o suficiente para que nunca mais fale comigo ou ela simplesmente não quer conversar.

De qualquer maneira, considerei que estávamos terminadas e que provavelmente não a veria mais.

Até essa mensagem.

Respondi que poderíamos. Cinco segundos depois, pergunta se poderia passar no meu apartamento.

Repeti a resposta, mas com um gosto amargo na boca. Eu sei que provavelmente vem pedir desculpas, mas eu lembro bem da promessa que Billie fez quando me levou ao hospital e eu estava morrendo de medo que tinha de fato cumprido.

Ajeitei tudo que conseguia sem fazer muito esforço. Não tive uma concussão e estava apenas esperando os pontos caírem. De qualquer maneira, eu precisava pegar leve para me recuperar logo e voltar ao trabalho.

A campainha toca, causando um arrepio longo passar por todo o meu corpo. Não conseguia ignorar o sentimento esquisito no meu peito, talvez seja medo de vê-la e seu rosto estar desconfigurado ou apenas o nervosismo de encontrar com alguém que me deixou de repouso por semanas.

Abri a porta. Suspirei aliviada quando encontrei o par de olhos verdes que acostumei por tanto tempo, o rosto da mesma maneira que a vi da última vez.

Nenhum arranhão ou roxo visível.

Indiquei para que sentassem no sofá, o silêncio me trazendo um desconforto diferente. Eu esperava pelo menos um abraço ou um elogio de como meu olho está melhor.

Ela evitava devolver meu olhar. — Como você está?

— Bem, dentro do possível — Respondi. Não sabia exatamente como deveríamos continuar essa conversa — Cansada de ficar em casa. Como estão as coisas no escritório?

Liz se ajeita no sofá. — Não tenho certeza. Na verdade, eu pedi transferência e agora estou no escritório do lado norte.

Abri a boca, surpresa. — Por que?

— Surgiu uma oportunidade melhor — deu de ombros.

Franzi a sobrancelha, não acreditando nas suas palavras. Liz nunca foi boa em mentir, e com o tempo e convivência notei isso. Toda vez que queria fazer uma surpresa, eu descobria pelo jeito que se enrolava para tentar me convencer.

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⏰ Última atualização: 3 days ago ⏰

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dial drunk // billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora