vingt et neuf

2.7K 293 596
                                    


Acordei em uma cama vazia. Rolei nos lençois de seda, aproveitando como a textura friccionava na minha pele.

Estava surpreendentemente sem sinais de ressaca. Minha cabeça não latejava como se alguém estivesse a martelando e meu corpo não parecia dolorido. A ressaca moral, no entanto, era outra história.

Infelizmente, lembrava de tudo que havia feito na noite anterior. Fiz uma careta ao recalcular meus passos e decisões de ontem, desacreditada que cheguei àquele ponto.

Se eu fosse a Billie, nunca me perdoaria. Me deixaria jogada no mármore branco enquanto assistia pelo olho mágico da porta.

Podia ouvir barulhos vindos da cozinha, panelas batendo e uma música bem baixa tocando.

Me levantei, encarando a porta do banheiro que me humilhei ontem. Não queria relembrar de cada detalhe, mas era o que aconteceria.

Naquele banheiro, mesmo depois das nojeiras que cometi ontem, continuava com um cheiro doce. Em cima da bancada, uma toalha branca, algumas roupas e uma escova de dente.

Sorri comigo mesma ao ver que separou tudo para que eu pudesse tomar um banho de manhã. Acho que adivinhou o quanto estava me sentindo suja; ainda mais dormindo em uma cama que parecia realeza.

Então fiz minha higiene matinal da melhor maneira possível e tomei um longo banho naquele chuveiro de rico que tem cinco diferentes saídas de água. Parecia o paraíso. Ou aquelas viagens caras em resort tudo incluso.

Notei que as roupas eram as mesmas que usei ontem, mas cheirava a lavanda e amaciante. Claramente foram lavadas. Quanto tempo eu dormi?

Quando finalmente saí do quarto, me deparei com um longo corredor que dava até a sala. Era grande, minimalista e com detalhes escuros entre o branco de alguns móveis. As decorações eram o que dava vida; mostrava que alguém de fato morava ali. Vinis pendurados na parede, quadros de arte contemporânea e surpreendentemente, muitas flores e plantas.

Aquele apartamento gritava "Billie". Era exatamente a personalidade dela, com alguns toques mais amadurecidos do que o seu antigo quarto.

Falando nela, estava de costas mexendo no fogão. O cheiro do que fazia se espalhava pelo cômodo adjacente e fez com que a minha barriga avisasse na hora o interesse pela comida. Pelo o que dizia no relógio da parede, passava da uma hora da tarde. Ou seja, eu de fato dormi muito.

Não queria chamar sua atenção. A vontade mesmo era de poder observá-la assim todos os dias; o cabelo escuro preso com uma piranha e roupas simples, cantarolando baixinho a música que tocava enquanto dava sua atenção ao que fazia na panela.

Se o universo gostasse um pouco de mim, deixaria aquela ser a minha visão todos os dias que acordasse.

— Bom dia — Minha voz sai quase como um sussurro, com medo de assustá-la.

Ela aperta um botão na bancada e música para, se virando em minha direção e dando a graça de olhar em seus olhos mais um dia.

— Dormiu bem? — Pergunta, deixando a colher dentro da panela e dando a volta na ilha para se aproximar de mim — Tomou a aspirina que deixei para você?

Abri um sorriso, lisonjeada que pensou em tudo para que me sentisse o mais confortável possível mesmo depois do que eu fiz.

— Eu não precisei — murmuro — Está fazendo o que?

— Eu queria comer comida italiana ontem e acabei ficando sem...então estou tentando fazer igual daquele restaurante — Encosta na ilha, apoiando o braço — Na verdade, eu te fiz café da manhã. Mas você não acordou, então comecei o almoço, espero que não se importe.

dial drunk // billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora