onze

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Relutei contra os feixes de luz do sol que entravam pela janela do quarto. A enxaqueca veio logo depois que meu corpo entendeu que acordei, e tentei me enfiar embaixo do travesseiro para ver se melhorava.

Confesso que achei que estaria em um estado bem pior. Quando tomei dois shots com uma morena na festa ontem, pensei que aquele momento me custaria a manhã do dia seguinte.

O sol estava tão forte que poderia assumir que era perto do meio-dia.

Me preparei mentalmente antes de sair debaixo do travesseiro e abrir os olhos; acostumando com a claridade.

A cômoda ao meu lado tinha um copo de água e uma caixa de ibuprofeno. Ergui o corpo com toda força que conseguia naquele momento e tomei dois deles.

Tirei os fios de cabelo que grudaram na minha testa, observando tudo em volta.

Eu não estava no meu quarto, mas isso era óbvio. O espelho ao meu lado que apenas dias atrás eu estava pensando obscenidades sobre a dona dele e o cheiro doce me comprovaram isso.

Nunca estive na casa dos O'Connell em uma situação parecida com essa. Era domingo, eu não tinha exatamente certeza de como parei aqui e se poderia descer para comer alguma coisa como se eu fosse uma visita qualquer.

Quer dizer, comer comida da Susan como se eu não fizesse parte da folha de pagamento dos empregados era um pouco esquisito.

Antes que pudesse formular um plano de fuga, a porta do quarto se abre. Billie estava usando um conjunto de moletom e seus fios escuros estavam presos.

— Finalmente — ironiza — Tomou o ibuprofeno?

Pisquei algumas vezes, tendo dificuldade de acreditar que dormi na sua casa.

Será que ela dormiu comigo?

Eu sou uma pessoa péssima para dividir a cama. Me mexo demais, ronco algumas vezes, e já cheguei a chutar a Hannah para fora. Esse tipo de constrangimento era melhor guardar para um décimo quinto encontro ou um quase namoro. Não é o caso aqui.

— Billie — começo, pensando nas quinhentas perguntas que quero fazer.

Ela apoia o joelho no fim da cama, seus olhos me analisando. — Você não está com fome?

— Sim — respondi mais rápido do que deveria — Mas eu não vou comer a comida da Susan, pode deixar que eu como em casa.

Tirei a coberta de cima, rapidamente ajeitando minha saia que estava na cintura e me levantando. Conhecendo a Billie, sei que demoraria a ter as respostas que estava procurando. Era mais fácil perguntar para Hannah em casa, afinal, uma das minhas últimas lembranças era ter conversado com ela antes de sair da festa.

— Tem uma lanchonete aqui perto — conta, se abaixando e entregando meu par de tênis — Eu te levo lá.

Desde que comecei a sair com a Billie como uma...colega? amiga? notei que ela é péssima em se comunicar com as pessoas. Aquela mesma frase poderia significar várias coisas: ela queria ir tomar café da manhã comigo, ou só me deixar na lanchonete para que eu comesse sozinha?

Minha fome falou mais alto, então só calcei meu sapato e a segui para fora do cômodo.

— Minha bolsa — murmuro, lembrando do meu celular que provavelmente estava sem bateria lá dentro.

Ela aponta para um cabide no hall de entrada da sua casa, onde estava pendurada e junto também as chaves barulhentas do seu carro. Quem coloca tantos chaveiros assim?

Sentei no passageiro como se fosse um dia qualquer. Estava me acostumando com a ideia de ter alguém que me levasse para lá e para cá o tempo todo, mesmo se fosse temporário. Estava me acostumando com a frequência que nos encontrávamos exatamente nessa posição; observando cada detalhe da morena dirigindo.

dial drunk // billie eilishOnde histórias criam vida. Descubra agora