O POÇO

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Diego

Eu nunca fui muito bom em lidar com emoções, especialmente as minhas próprias. Mas naquele dia, tudo mudou de uma maneira que eu nunca imaginei.

Maria era uma amiga da escola, alguém com quem eu conversava ocasionalmente, muito bonita e simpática, parecia tentar me agradar o tempo todo. Ainda assim, nunca pensei que ela pudesse ver algo mais em mim, até que me pediu que a levasse até em casa, eu sempre voltava com Annabele, mas nesse dia ela estava toda sorridente para um aluno do terceiro ano, e isso me deixou extremamente desconfortavél, então aceitei levar Maria até em casa. No meio do caminho ela me disse que tinha visto alguma coisa no meio de um arbusto, disse que não havia nada ali, mas ela insistiu, então fui ver o que era, na tentativa de conforta-la e mostrar que não tinha nada ali, quando me virei pra contar a ela que não tinha nada, ela me beijou, aquele beijo roubado que virou meu mundo de cabeça para baixo. Antes que eu pudesse reagir, seus lábios tocaram os meus por um breve instante. Fiquei atordoado, sem saber como responder.

Quando saimos do arbusto lá estava Ana, vi o fogo em seus olhos. Ela estava furiosa, eu nunca havia visto ela daquele jeito. Sem dizer uma palavra, ela saiu correndo na direção da gruta, pude ver seus olhos cheios de lagrimas. Meu coração apertou de culpa e preocupação, larguei Maria para trás que ficou visivelmente incomodada, e corri atrás de Ana para explicar tudo.

Cheguei à gruta pouco depois de Ana. Ela estava lá, chorando, seu rosto banhado pelas lágrimas. Meu peito doeu ao vê-la assim, porque eu não imaginava que poderia a magoar tanto assim e também queria entender o por quê.

— Ana, por favor, me deixe explicar — implorei, meu coração batendo forte.

Ela se virou para mim, seus olhos vermelhos de tanto chorar. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela começou a falar com uma mistura de raiva e tristeza.

— Por que fez isso, Diego? E com a Maria! Aquela menina já beijou a escola inteira! Eu pensei que éramos... - Falou hesitante -  .. especiais, que me contaria tudo, que me contaria quando fosse dar seu primeiro beijo, achei que... eu pensei que....

Eu engoli em seco, sem palavras para explicar o que tinha acontecido com Maria e tentando entender tudo que Ana estava falando. Tentei me aproximar, mas antes que eu pudesse me desculpar de verdade, Ana deu um passo para trás, olhando para mim com uma expressão desafiadora.

— Eu... Eu não acredito que você fez isso comigo, Diego — ela começou, sua voz vacilando. — Eu... eu...pensei que fosse especial pra você

Mas antes que ela pudesse terminar, deu um passo para trás, perdendo o equilíbrio e caindo em um buraco que estava oculto pelas sombras. Meu coração parou por um segundo enquanto eu tentava manter a calma para ajuda-la, desesperado para alcançá-la antes que algo pior acontecesse.

— Ana! — gritei, enquanto tentava achar algo que ela pudesse segurar, para tira-la dali.

A escuridão era densa e opressiva, mas eu a encontrei logo abaixo, segurando-a com cuidado. Ela olhou para mim, seus olhos refletindo o medo e a confusão.

— Está tudo bem, Ana. Eu estou aqui — murmurei, tentando acalmar minha própria agitação.

Com cuidado, a puxei com toda força dali e a trouxe de volta para a superfície, sentindo o peso de suas palavras não ditas pairando entre nós. Quando finalmente chegamos à entrada da gruta, a luz do entardecer banhava nossos rostos. Sentamo-nos juntos, nossos corações ainda batendo descontroladamente.

Não havia palavras entre nós, apenas silêncio carregado de significado. Eu queria dizer tantas coisas para ela naquele momento, mas minhas palavras pareciam presas na minha garganta. Em vez disso, permiti-me olhar para ela, realmente olhar para ela, e perceber o quão especial ela era para mim.

Enquanto o sol se punha no horizonte distante, senti uma mão suave tocar a minha. Era Ana, olhando para mim com ternura e algo mais profundo. Nossos olhares se encontraram e, por um instante, tudo pareceu certo no mundo.

Não houve beijos naquela tarde, apenas a promessa silenciosa de algo mais, algo que só o tempo poderia revelar. E enquanto eu a levava para casa, carregada em minhas costas, cuidando de seu tornozelo machucado, eu soube que nossa jornada estava apenas começando.

Ana me olhou com ternura enquanto a carregava, um olhar que nunca tinha me dado antes — Como eu te amo minha pequena, pensei comigo mesmo.

TURMALINA NEGRA - Laços SombriosOnde histórias criam vida. Descubra agora