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MEGAN STILL

Faço como Lucius pediu e após o café da manhã vim ao seu escritório.

Entro sem bater, já que ele se sente extremamente ofendido quando eu bato antes de entrar.

Pois segundo ele, se sua mulher precisa avisar que está entrando significa que ele tem algo a esconder.

O que, ainda segundo ele, é inadmissível, já que ele não tem nada a esconder de mim.

Para mim, se trata apenas de educação.

Dou de ombros dissipando esse pensamento.

Lucius me encara e sinaliza para que eu me acomode no assento a sua frente, enquanto volta a ler os papéis dentro da pasta que segurava.

Com um suspiro aparentemente tenso, ele volta a me encarar e põe a pasta na minha frente. Mas antes que eu a pegue, ele se pronuncia.

- Quero que saiba que eu tive acesso a essas informações pouco dias antes de você ser sequestrada, certo? Eu não omiti isso de você, eu só não tive a chance de contar. -  Aceno com a cabeça, mesmo sem entender do que falava.

Abro a pasta com a curiosidade aflorada para saber do que se tratava. Mas um baque me atinge ainda na primeira folha.

São fotos minhas e da minha mãe.

faz tanto tempo, desde que a vi pela última vez.

Eu era uma criança.

Seu rosto não era mais tão familiar para mim.

Mas olhar essas fotos, é como se seu rosto voltasse a ser nítido em minha memórias.

Nós éramos tão felizes.

A próxima página tem fotos das quais nunca tive acesso.

Sou eu ainda criança, ja na delegacia, poucas horas depois de ser amparada pelos policiais.

Machucada.

Suja de sangue.

Um olhar vazio.

A pasta é um verdadeiro dossiê sobre a minha vida, o que não me admira muito quando se tratava da obsessão de Lucius em relação a mim.

O que me admira é ele só ter tido acesso a essas informações a pouco tempo, como mencionou.

- Como conseguiu isso? - Pergunto.

- Ryan cobrou alguns favores que o FBI devia a ele.

Mas o que chama minha atenção é a foto de um homem. Na verdade, um senhor.

Ele aparenta estar na casa dos sessenta anos, é nítido que seu olhar carrega muita dor e sofrimento. Seu rosto é sério, apesar do óculos de grau com armação grossa e preta que usa.

Ao lado de sua foto, há outra do mesmo homem, mas agora, alguns anos mais jovem. Ele está abraçado a minha mãe.

Os dois parecem felizes.

- Quem é ele? - Aponto com o dedo indicador para a foto.

- Lembra o nome da sua mãe?

- Vagamente... - Suspiro frustrada. - Na verdade, não. Eu era apenas uma criança que achava que o nome dela fosse mamãe.

Lucius ri discretamente diante da minha afirmação.

- Katarina Zimmer, filha de Rolf Zimmer. - Seu indicador mostra o dono de cada nome.

Ele pega a foto do homem e segura na minha frente.

- Rolf Zimmer. Don da máfia alemã.

- Meu avô. - Digo com certeza e ele concorda. - Então eu sou neta de um mafioso?

Eu já estava inserida nesse mundo desde o nascimento, só não sabia disso.

Mais uma vez, Lucius balança a cabeça positivamente, antes de iniciar uma explicação detalhada de tudo que aconteceu enquanto eu estava em cativeiro.

Cerca de vinte minutos depois, ele termina de falar e me encara a procura de alguma reação minha.

Como reagir diante de tantas informações? Eu fico feliz por saber da existência de mais um familiar ou entro em pânico por saber que meu avô é um homem tão perigoso quanto o homem que eu amo?

E o pior, ainda por cima são inimigos mortais.

- Você mencionou que ele ajudou nas buscas, pensei que não se dessem bem.

- E não nos damos. A inimizade entra a Bratva e a máfia alemã existe a décadas. Porém, naquele momento, se tratava de você Meg. Eu faria um acordo até mesmo com o próprio diabo, se fosse preciso.

Antes que eu pudesse responder, ele continua.  

- Mas Rolf não aceitou nenhum tipo de acordo entre nós, ele ajudou porque queria encontrar a neta. Ele procura por você há anos, meu bem. Me entregou nomes valiosos no mundo do crime, apenas para que eu a trouxesse de volta.

- Então ele não é tão perigoso quanto parece? - Indago confusa.

Ele me procura anos?

- Não para você. Ele quer conhecê-la, desde que recebeu alta, o velho alemão, vem me ligando quase todos os dias para saber sobre você.

Rio ao ver que Lucius revirou os olhos ao se referir a Rolf como "velho alemão".

- Mas tudo depende de você. A decisão está nas suas mãos. Caso queira conhecê-lo, providenciarei o encontro de vocês. Mas se optar por não conhecer seu avô, esse assunto será enterrado.

É claro que eu quero conhecê-lo! Mas e se ele não tiver boas intenções? E se tentar me machucar assim como meu próprio pai fez?

Mas e se eu estiver errada?

Um suspiro cansado escapa dos meus lábios. Vários questionamentos passam pela minha mente enquanto Lucius me encara aguardando uma resposta.

Meu noivo parece perceber meu desconforto.

- Acredito que uma video chamada seria ideal para um primeiro contato, o que acha?

Sorrio. É confortante saber que Lucius e eu estamos conectados.

- Acho ótimo! Eu me sentiria mais segura dessa forma.

- Certo, assunto resolvido. - Fala como se fizesse uma nota mental para si mesmo. - Soube que comeu bem no café da manhã, muito bem.

Reviro os olhos entediada. Ele vinha monitorando minha alimentação diária desde que recebi alta.

- Comeria bem melhor se você também estivesse lá. - Alfineto, já que ele não se juntou a mim no café da manhã de hoje.

Ele estreita os olhos em minha direção. Um olhar letal que colocaria medo em qualquer outra pessoa, menos em mim.

- Sua língua anda bem afiada, ultimamente.

Uma risada alta me escapa.

- Me desculpe, estava comprando nossas passagens.

- Então viajaremos?

- Passaremos o Natal na Itália, meu bem.

Minha boca se abre com a surpresa.

- Mas você não comemora o natal, Lucius. - Afirmo lembrando da conversa que tive com Susi.

- Com você ao meu lado, faço questão de comemorar todas as datas que existem no ano. Você estar aqui já é motivo suficiente para isso.

Levanto e dou a volta na mesa sentando no seu colo.

- Eu te amo pra caramba, meu bem. Obrigada!

Colo nossos lábios e ele retribui.

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