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LUCIUS WALKER

- Eu vou te dar uma chance de explicar como você e a minha mulher foram parar naquela lugar, com ela esfaqueada.

O garoto bufa e revira os olhos.

Porra de moleque atrevido.

Alec estava sentado a minha frente em um dos quartos do hospital, com as mãos algemadas e uma arma bem no meio da sua testa.

- Eu já expliquei mil vezes. Porque não acredita em mim?

E era verdade. Ele já havia explicado muitas vezes como ele e Megan foram parar lá. Mas eu custava a acreditar.

- Antes de ser levado para lá você era alguém, não era? Disse que tinha cinco anos, não era tão novo para não lembrar de nada.

- Eu não vou falar sobre isso. - Fala raivoso.

- Então não tenho motivos para te deixar vivo. - Dou de ombros e engatilho a arma.

O silêncio reinou por alguns segundos até ele dar o braço a torcer.

- Tudo bem. - O rapaz parecia tomar coragem, talvez falar sobre isso fosse doloroso para ele. - Eu acho que sou filho daquele desgraçado.

Tanto eu quanto Ryan nos entreolhamos surpresos com a revelação.

- Isso só pode ser piada. - Meu irmão afirma incrédulo.

- Como? - Pergunto com cuidado.

Eu realmente estava curioso com aquela história.

- Eu e minha mãe morávamos em um bairro pobre do México, Pérez sempre aparecia, uma vez ao mês, talvez...

Ele parece pensativo, antes de continuar.

- Um dia ele chegou transtornado, acho que queria que minha mãe o escondesse na nossa casa e ela não aceitou. Então ele matou ela.

- Pelo visto ele tem uma tara em matar a mãe dos filhos. - Debocho e Alec me encara confuso. - Ele também matou a mãe de Megan.

Então ele continua espantado.

- Pelo que me lembro, ele me arrastou e me jogou dentro de um buraco, e se contei a quantidade certa de luas, tem uns doze meses que ele me vendou e me jogou naquele esgoto . Em algumas das visitas que fazia a mim, ele falou sobre Megan, que logo ela iria me fazer companhia.

- Então sempre soube que ela era sua irmã, não é? - Ele confirma com a cabeça.

- Ele iria matá-la, sempre se vangloriava que eu era seu único filho homem e assumiria seu lugar em breve.

- Ele sabe que vai mata-lo, queria que Alec continuasse a carnificina. - Ryan afirma, se mostrando presente na conversa.

- Eu jamais machucaria a única família que tenho.

Alec pontua enquanto mantém um olhar vazio. Eu entendo ele.

Eu jamais machucaria Ryan e sei que o sentimento é mútuo. Mesmo que não fôssemos unidos pelo sangue.

Éramos ligados pela alma.

Família.

- Porque só agora, depois de seis meses você milagrosamente resolveu ajudá-la a sair de lá?

- Eles sempre desciam em três. Eu não conseguiria lutar, mas no único dia em que apenas um desceu, eu agi. Ele ia estuprá-la. Eu jamais ficaria parado apenas olhando.

Pelo canto do olho pude ver quando Ryan saiu da sala.

Ele não queria ouvir aquilo. Não quando a sua mulher também quase já foi estuprada.

Um arrepio tomou conta do meu corpo ao ouvi-lo mencionar aquilo.

Ouvir Alec falar sobre o que ela passou lá, me deixa angustiado, sufocado, irritado pra caralho.

A culpa é minha.

Era apenas isso que ecoava em minha mente.

A porta do quarto abre e a cabeça do meu irmão aparece.

- Ela saiu da cirurgia.

Um suspiro aliviado me escapa.

- Eu quero ver ela! - Alec pede tentando se livrar das algumas que o prendiam.

Abaixo na altura de seus olhos e o encaro.

- Você vai ficar aqui. Quando Megan acordar e eu ouvir da boca dela que você não a machucou, aí sim, eu pensarei na possibilidade de você vê-la. Até lá, eu não confio em você.

Me retiro indo em direção ao sala de espera a procura de Ryan.

- E então? Já posso ver ela?

- O médico está vindo para te dar um relatório.

Depois de cinco longos minutos, o babaca aparece.

- O caso de Megan é delicado. - Suspira parecendo exausto. - Ela teve vinte e sete perfurações pelo corpo e...

Minha mente vagou por suas palavras.

VINTE E SETE FACADAS.

AQUELE FILHO DA PUTA ENFIOU A FACA NA MINHA MULHER VINTE E SETE VEZES.

EU QUERIA TRAZÊ-LO DO INFERNO SÓ PARA TORTURA-LO DA PIOR FORMA POSSÍVEL.

EU QUERIA ESMAGAR A CABEÇA DELE COM MEU PÉ.

APERTAR SEU PESCOÇO ATÉ VER SEUS OLHOS PULAREM PARA FORA.

EU SÓ QUERIA TER FICADO CINCO MINUTOS SOZINHO COM ELE.

- Uma das perfurações atingiu a artéria aorta, fizemos um enxerto para tentar reparar. Temos que esperar e ver se o organismo dela irá rejeitar ou não.

- Ela está acordada? - Ryan pergunta.

- Não. Megan foi submetida a coma induzido. Ela teve hemorragia interna, perdeu muito sangue. No momento é a melhor opção diante de todos os seus ferimentos, seu corpo está em estado de exaustão, acompanharemos a sua recuperação e assim que for seguro iniciamos o processo para acordá-la.

E se ela não acordasse mais?

- Podem vê-la se quiserem, quarto duzentos e dois.

Ryan preferiu voltar para casa alegando que esse era um momento meu e não queria atrapalhar. Iria aproveitar para tentar achar algo mais sobre Alec.

Cada passo que dei em direção aquele quarto foi como estar pisando em um tapete de pregos. Ao adentrar, a encontro em cima daquela cama com vários fios ligados ao seu corpo.

Megan tinha curativos espalhados por seus braços, pescoço, mãos, e tive a certeza ser por todo seu corpo quando afastei seu lençol e constatei mais curativos espalhados pelas pernas e tronco.

Não pude deixar de notar o grande corte que também havia em seu rosto. Contei rapidamente quinze pontos, iria resultar em uma grande cicatriz.

Ela também estava magra. Muito magra. Bem diferente da última vez que a vi, eu podia contar cada uma de suas costelas, via perfeitamente os ossos da sua clavícula.

Ela sofreu tanto.

Mas ainda assim continua perfeita aos meus olhos. Ver seus batimentos tranquilos na tela, deixa meu coração aliviado.

- Ele vai pagar caro, meu bem... - Sussurro enquanto seguro sua mão. - Eu juro... ele vai se arrepender... eu prometo pra você, Meg.

E assim adormeci sentando em uma poltrona, ao seu lado.

RUSSOOnde histórias criam vida. Descubra agora