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LUCIUS WALKER

O despertador marcava sete da manhã quando o barulho da porta do meu quarto sendo esmurrada me faz pular da cama.

Puta que pariu!

Nem duas horas de sono eu consegui ter.

Com a arma em punho abro a porta devagar, mas dou de cara com Ryan segurando uma bebê sorridente.

Maila.

- Ei! Tira isso da cara da minha filha!

Bufo enquanto baixo a arma e a escondo no cós da calça.

- Não está muito cedo não?

- Também acho, porém, Maila discorda. Acorda todos os dias as seis em ponto.

A bebê da um pequeno sorriso enquanto o pai faz uma careta, parecendo debochar dele.

- E então? A que devo a honra da visita? - Indago impaciente com a presença dos dois no meu quarto.

Esse é um lugar sagrado para mim.

- Segura ela, tenho que te mostrar algo.

Dito isso, ele empurra a criança em meus braços enquanto eu o encaro paralisado.

Eu nunca segurei um bebê na minha vida.

Sei manusear todo e qualquer tipo de armamento, do mais leve ao mais pesado.

Mas um bebê? Não. Nunca.

- O que? - Da de ombros impaciente. - Não é um bicho de sete cabeças Luci, é só firmar o pescoço e a coluna, básico.

Eu seguro a bebê desajeitadamente enquanto ela da uma leve gargalhada.

Pirralha. Rindo da minha falta de jeito.

Aos poucos consigo acomoda-la em meus braços.

- Cadê a mãe dessa criança? - Reviro os olhos quando Ryan senta em minha cama.

E mais uma vez ele manda meu lance de lugar sagrado pra casa do caralho.

- Tomando café da manhã na cozinha, é minha vez de ficar com a bebê. - Ele responde enquanto abre o notebook.

De onde ele tirou um?

- O que você conseguiu?

- Tem três semanas que escuto o áudio que o alemão conseguiu, já sei cada fala dessa porra de trás para frente, mas hoje pela madrugada eu percebi algo.

Explica enquanto levanta e começa a fechar as janelas, porta do banheiro e a do quarto.

- O que está fazendo Ryan?

- Lembra quando mandou que colocassem isolamento acústico no seu quarto quando era mais novo?

Ele se refere a quando tínhamos 18 e 19 anos e em uma pequena reforma que nossa mãe fez na casa, pedi que fizessem.

Na época ninguém entendeu, bom, nem eu. Acho que só queria mais silêncio aqui dentro.

- Vai ser útil agora, escuta.

Ele coloca a ligação em um volume bom dentro do quarto e enquanto escuto percebo que Maila me encara lutando para manter os olhinhos miúdos aberto.

Involuntariamente meu corpo balança de um lado para o outro com ela em meus braços, vendo a menina se entregar lentamente ao sono.

- Agora, ouça bem. - Ryan chama minha atenção.

Ruán e Pérez ficam em silêncio na ligação durante alguns segundos.

- Os barulhos no fundo Luci, escuta, vou colocar de novo.

E mais uma vez ele volta a gravação.

Ouço atentamente e os barulhos lembram ruídos, ou sei lá, talvez...

- Ratos? - Pergunto e Ryan sorri.

- Sim, também acredito que são ratos.

- Então talvez algo relacionado a lixo? Um depósito abandonado? Um lixão?

- Mais uma vez, escute além dos ruídos do ratos.

Volto a embalar Maila em meus braços quando ouço a bebê respirar fundo, provavelmente já deve estar em sono profundo.

E mais uma vez ele coloca a gravação para rodar.

-Esse barulho... parece uma buzina, eu acho. - Afirmo.

- Isso, e se prestar mais atenção, vai conseguir ouvir bem, mas bem ao fundo barulho de carros passando.

- buzinas, trânsito... ratos. Pensa Lucius! - Pressiono dois dedos contra minha testa.

Forço minha mente para todas as opções possíveis. Mas quais? Se já reviramos a cidade.

A porta do banheiro abre sozinha e quando eu encaro lá dentro uma lâmpada parece acender na minha cabeça.

- Esgoto. Eles estão nos esgotos. - Afirmo e Ryan para de andar de um lado para o outro.

- Há grandes chances, o único lugar que não cogitamos procurar, irmão.

- Quero que consiga todas as plantas dessa cidade em até trinta minutos.

Ordeno já saindo do quarto em direção ao escritório quando ouço ele gritar.

- Ei! E a minha filha?

Maila é tão pequena, tão leve e estava tão quieta dormindo em meu colo que só na metade das escadas lembro da pirralha.

- Vou entregar a mãe dela. - Grito de volta já no final das escadas rumo a cozinha.

Entro na cozinha da casa e Samantha está junto a Susi fazendo algo no fogão, ambas entretidas demais para repararem na minha presença.

- Aqui, pega a pirralha, fiz ela dormir, quero o dobro do meu pagamento. - A garota pega a filha e a embala em seus braços para que não acorde.

- Pagamento?

- Eu fui babá dela por quase uma hora.

- É sua sobrinha, Lucius! - Acusa risonha.

Dou de ombros e deixo um pequeno sorriso escapar enquanto vou para o escritório.

Um dos poucos sorrisos que escaparam durante esses cinco meses longe do meu verdadeiro motivo de sorrir.

A bebê parecia amenizar o clima pesado, quando estava presente.

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