No coração

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Park Jimin escorava-se na porta do laboratório, evitando entrar no campo de visão que a área quadrada de vidro na parte superior da passagem, proporcionava para dentro do pequeno espaço cheio de materiais de pesquisa. Estava conferindo seus cálculos quando um grande estouro e estilhaços puderam ser ouvidos do lado de fora.

Quis sair para conferir se a ocasião seria motivo de alarde, quando a paisagem sonora foi preenchida com gritos estridentes de terror e grunhidos animalescos. O pânico correu sua corrente sanguínea, petrificando por instantes suas pernas, milissegundos preciosos que o impediram de sair do ambiente fechado, o fizeram conferir em primeira mão, um dos seus veteranos correndo ensanguentado, fugindo do que parecia o calouro de física médica, versão extremamente deformado e agressivo.

No final do corredor, o veterano escorregou e caiu no chão implorando por sua vida, mas o calouro não parecia ouvir, sequer exitou em morder-lhe, sem escrúpulos arrancou a cada abocanhada, a carne do conhecido vivo, viu a vitalidade abandonar o cadáver a cada mastigada grotesca e uma poça borrar o chão e as paredes claras.

— O que está... — Jackson ameaçou perguntar ao Park em voz alta, gerando uma reação de terror no ruivo que descongelou para colocar o indicador levantado na frente do próprio lábio.

Apressou-se em verificar se a entrada estava lacrada, o sistema de energia mantinha a parte elétrica ligada, a sala precisava de uma senha para liberar o acesso de fora para dentro.

— Jimin... — Em sussurros, Mark foi o corajoso para manifestar-se, tremeu intensamente ao ver uma figura monstruosa na vidraça e abaixou-se silenciosamente para não chamar atenção, do que quer que esteja do lado de fora, deixou seu colega de curso apavorado, apresentava um cartão de visitas medonho.

Mais gritos ecoaram distantes, os centros de pesquisas ficavam nas áreas subterrâneas dos prédios universitários, poucos estudantes acessavam a área de investimento das empresas privadas, este fator aterrorizou o raciocínio de Jimin, se aquela criatura chegou lá em baixo, ou ela foi criada ali, ou veio lá de cima. A segunda opção gerou calafrios.

Corrida pesada e desengonçada aproximando-se da porta e passando direto do, agora, esconderijo. Provavelmente atraída pelo berro de pavor.

Um silêncio escomunal recobriu os três jovens.

Jackson sacou o celular do bolso e viu milhares de mensagens, tentou as ignorar para ir em uma fonte de notícias rápida de transmissão direta, o twitter. Nos trending topics coreano a teoria corroborou as suspeitas.

— "O apocalipse começou".

•••

O corpo brilhante pelo suor, denunciava o esforço físico repetitivo e intenso do jogador de tênis com sua raquete em mãos, as grades do aparelho esportivo manual pingavam um líquido escarlate consistente, usada repetidamente para evitar a aproximação de pessoas fora de controle, se é que Jeon Jungkook poderia chamar aqueles corpos de pessoas.

Precisou sair do campo aberto que treinava para buscar abrigo em local seguro, queria entender o que estava se passando no cenário apocalíptico nojento em que seres humanos o atacavam sem consciência racional, não conseguia argumentar com os machucados, infestados de fraturas expostas que não pareciam significar empecilho para o ataque em direção ao atleta.

Era seu dia de treino no campo da faculdade, utilizava o espaço que patrocinava seu uniforme e demais idas para torneios esporadicamente por cláusulas de acordos com a equipe desportiva, correu em direção ao prédio mais próximo da cidade universitária. A entrada que acessou era levemente restrita, era a saída que desembocava na quadra de tênis pouco utilizada, então ao retornar ao prédio era um corredor com uma escada na outra ponta e o vestiário entre os acessos. 

— Jeon! — ouviu assim que suas orbes cruzaram e identificaram o colega de turma Kim Taehyung, com um cabo de vassoura na mão sujo e melecado em vermelho, tinha aberto a porta do vestiário para verificar o lado de fora da instalação. — Vem rápido! — gritou, sem ponderar suas atitudes, empurrou os pés com o chão a tempo de avistar alguns lunáticos se atropelando nas escadas e rumando a sua direção, teria que ser mais rápido para adentrar o vestiário primeiro sem convergir com o grupo mancador. 

Apertou sua raquete com força ao redor da palma da mão esquerda, imputou toda força e restante de energia nas pernas e suas células ganhavam um único objetivo, chegar primeiro. 

Taehyung temeu ao perceber a situação, os machucados eram mais lentos porém eram muitos de uma única vez, fascinados por violência e detectores de vida, preparados para ceifa-las. Cogitou fechar a porta antes da chegada do amigo, mas conteve-se, torceu mais do que tudo para que ele pudesse conseguir e confiou sua própria vida nas habilidades do outro. 

— Jeon Jungkook — um dos presentes dentro do vestiário identifica o jogador quando este entra veloz e ajuda o Kim a fechar a porta, o desespero alertava a derme do recém chegado, que mordeu o cabo da raquete para deixa-la consigo, ao mesmo tempo que utilizava as duas mãos na intenção de empurrar os armários de metal para bloquear a entrada, dois homens jovens perceberam as suas intenções e auxiliaram puxando, e com mais um par de mãos empurrando. 

— Que porra está acontecendo? — Kim Namjoon se pronuncia após a última puxada, que criou o bloqueio da porta, tremer em consequência aos solavancos causados por agentes externos forçando a entrada. 

O tenista tirou seu amuleto da sorte da boca, agarrando firme com a canhota o cabo marcado pelo uso, leva o indicador na frente dos próprios lábios deixando o corpo estático, induzindo os presentes ao mesmo estado de alerta, preparação e silêncio. Aos poucos, os sons diminuem, as respirações leves induzidas deixam tudo mais claustrofóbico, o peito doía esmagado pelo pânico. 

Aguardar. Agonizantes 30 minutos se passam, sons de helicóptero, tiros e bombas podem ser ouvidos, deixando o medo instaurado na mente dos cinco reféns no vestiário masculino. Sem batidas na porta, Kim Mingyu inicia um diálogo necessário em sussurros. 

— Temos que sair daqui — ele tinha o celular em mãos, ao seu ombro, Hirai Momo chorava, isso poderia ser constatado pelas lágrimas molhando os olhos e a camisa do namorado, junto dos solavancos surdos do tronco, não saía um único som da moça. 

— Está louco? Vamos morrer tentando — Namjoon transparecia sua indignação na feição preocupada com a ideia inconsequente, tinha visto coisas que nunca mais sairiam da sua mente. 

— Loucura é ficar aqui de braços cruzados — a discussão por sussurros continuava, os demais olhavam.

Jungkook limpava sua raquete tremendo  com a visão perturbadora do bem precioso manchado com morte. 

— As autoridades vão chegar até nós — Momo sussurrou tentando apaziguar a situação entre os homens.

— Eu não teria tanta certeza disso — Taehyung infelizmente tinha uma visão pessimista da situação. — Vamos bolar um plano e sair daqui. — o estudante de educação física rumou até os armários e tentou olhar para o interior de cada um pelas frestas de ventilação, procurando alguma coisa que poderia ser utilizada como arma.

— Jungkook, você concorda com isso? — Namjoon insistiu contrariado olhando para o amigo.

Um longa olhada para a mão esquerda, enquanto seus dedos abriam e fechavam como quem testa as capacidades de um aparelho defeituoso com pouca bateria, se dando por satisfeito, empunha sua raquete e sussurra baixo o suficiente para se fazer entender.

— Prefiro morrer tentando.

Depois de 250 bpm | Jikook • ZOMBIEOnde histórias criam vida. Descubra agora