No cabelo

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Esse só pra quem ama o nosso casal, já estava sedenta por interações! Aceito críticas construtivas. Boa leitura <3

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O primeiro contato com a volta a realidade sempre guarda uma percepção singular do tempo, entender que vivemos e acordamos mais uma vez.

Jeon Jungkook despertou. Levou mais tempo que o habitual da vida pacata anterior, na tomada de consciência dos acontecimentos recentes e a identificação da localização atual, a última permanecia uma incógnita.

A informação que impediu seu pânico total de estar deitado em uma cama desconhecida, numa construção nunca vista, foi a captação ocular de uma certa cabeleira ruiva espalhada no colchão ressoando em aparente paz.

Jimin dormia em posição curiosa, estava um pouco mais a baixo de Jeon, como se antes buscasse só o apoio da cama mas acabou se rendendo ao sono e dormindo onde aguardava. O atleta sentiu seu sono zelado e não compreendeu o abrir de sua caixa torácica, tinha certeza que no raio-x do seu peitoral apareceriam girassóis, virados na direção da fonte de luz.

A mão esquerda levantou mas pausou no ar, avançando e retrocedendo na ideia de tocar os fios coloridos na sua frente. Quando o jovem murmurou dizeres desconexos de um sonâmbulo, Jeon desistiu do ímpeto.

- Ah Park... O que há contigo? - se perguntou em retórica, afastou os cobertores os colocando no Físico, a intenção era levantar da cama.

-  Você acordou... - Jimin diz ainda de pálpebras fechadas, a cabeça move-se ao mesmo tempo que a luz dentro a retina. - Como se sente? - sua voz era rouca decorrente do sono, não fazia ideia de quanto tempo havia ficado ali mas se ninguém os chamaram, não deveria ser tanto.

- Bem, na medida do possível - os músculos doloridos e a sensação de estar tendo os músculos consumidos era desconfortável, porém a dor de cabeça e tonteira passou. - Onde estamos? - uma hora ou outra essa questão viria a tona.

Os braço se esticam em um espreguiçar e o bocejar acompanha o corpo menor, ele senta no colchão da cama e passa ambas as mãos nos olhos.

Jungkook achou a imagem muito bonita.

-  Você desmaiou depois que pulamos o penhasco, ficamos muito preocupados contigo. - os dedos tentaram alinhar as madeixas sem um espelho. - De exaustão eu acho. Continuamos andando por um tempo até que achamos essa fazenda, o dono foi bem legal e nos acolheu, a filha do dono no caso, você vai conhece-la.

Garantiu sorrindo de maneira acolhedora.

- Mas antes você precisa comer! Tome um banho e troquei de roupa, vou trazer algo para você comer - ele aponta para porta fechada a direta. - Tem mudas de roupa limpas naquela cômoda. - apontou também e prontificou-se a estar de pé. - Não demora, vai desmaiar de novo de fome e eu não vou estar por perto para te segurar.

Brincou provocativo e saiu de cima do acolchoado, caminhando feliz porta a fora, era difícil acreditar que tudo estava bem na medida do possível.

Ao ir fazer sua higiene merecida, Jungkook nunca imaginou que sentiria tanta falta de um banho, ou um simples escovar de dentes. Estavam no início do desastre e por mais que até agora, fisicamente, tivessem tudo bastante sorte, houveram muitas cenas traumáticas que dificilmente seriam esquecidas por si. Muitas baixas de conhecidos, e algo lhe dizia que a nova realidade apenas acabou de começar.

Quando saiu do banho, vestindo uma calça e esperando o torço secar junto dos fios de cabelo liso e escuros, deu de cara com Jimin sentado na cama organizando a bandeja que trouxe com atenção e delicadeza, a resposta do sorriso leve no rosto foi instintiva.

- Eu já comi, pode comer bastante, a Rosé que preparou essa quantia, ela disse que não vai fazer falta e que não seria legal se você ficasse doente. - o Físico parecia tranquilo com as afirmações, aliviado seria adequado.

As esferas brilhantes encontraram o torso nú do atleta, a engolida em seco foi inevitável, a mirada traçou outras rotas para evitar fadiga.

- Parece uma delícia... - de repente Jungkook lembrou-se de algo - cadê a minha raquete? - sua voz séria,  monótona e profunda atingiu Park de supetão.

- Ali. - apontou para um canto cego, um cabo apoiado a cama, pegou com cuidado e Jeon se sentou na cama para comer e para alcançar o artefato.

- Está limpa... - reparou girando objeto nas mãos.

- Eu lavei, acreditei que você não iria gostar da sua raquete fedendo a decomposição orgânica quando acordasse. - a essa altura, o jovem de laboratório sequer sabia se tinha feito uma boa ação ou havia mexido sem permissão nas coisas do atleta.

A raquete alocou-se na mesma posição na outra lateral da cama para ficar ao alcance do dono.

- Obrigado. - a profundidade da entonação na palavra, o fez lembrar da promessa anterior a pulada da janela. Era agradecimento global e eles puderam compartilhar isso.

- Não a de que - deu de ombros não esperando nada em troca das ações até o momento. - agora come.

- Sim senhor - se permitiu soltar uma risada leve pelo comando autoritário. Ele não demoro mais nada para iniciar o abastecimento das forças.

Frutas, leite, pão. Um café da manhã de uma fazendo que consome o que colhe.

Jimin não achou que deveria, mas segurar se tornou seu maior desafio, encarar o outro de torço nu, tatuagens expostas, alimentando-se e sentindo prazer com a refeição que fazia falta no estômago. A pintura renascentista requer a produção de gravura, era o martírio não ser Michelangelo.

Era apenas um Físico longe de Albert Einstein.

- Todos os outros estão bem? - o tenista fez questão de quebrar o silêncio.

- Sim, na medida no possível. - repetiu a frase para replicar o sentido, bem eles nunca mais estariam. - Não encontramos mais Mingyu e Momo... - um suspiro pesou no peito.

- Droga... - era terrível perder as pessoas e sequer poderia viver o luto da partida. - Como você está? - quis relacionar com o todo.

- Mal. - a sinceridade aconchegou no peito similar ao de mãe solo, dolorido mas aliviado. - As vezes eu esqueço que ele já não está mais aqui, estou extremamente preocupado com meus pais, sinto que posso colapsar a qualquer momento.

- Tá tudo bem se você colapsar aqui, não vou contar para ninguém. - tentou levar da melhor forma.

Jimin deitou a cabeça no travesseiro e fechou os olhos por instantes preciosos, deixar as emoções transbordarem era doloroso.

Quando Park abriu os olhos após alguns minutos Jungkook estava a centímetro do seu rosto, deixando o choque do encontro percorrer sua espinha dorsal e irradiar para as extremidades.

- Eu estou aqui. Você está aqui. Por enquanto é nisso que devemos nos apegar. - as respirações chocavam-se na superfície da face imediata a outra.

A atração magnética jamais pode se equiparar ao estado que os corpos humanos apresentam quando se atraem entre si, a racionalidade está para além da compreensão material e os que tentaram traçar definições, chamaram-na de doença. O carnal torna-se angelical, a quentura do toque esconde a cura, apenas demoramos demais para crer.

Três batidas na porta.

Depois de 250 bpm | Jikook • ZOMBIEOnde histórias criam vida. Descubra agora