No quadril

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Na sala acoplada ao espaço destinado aos animais, as ferramentas compartilhavam o segredo mantido a quatro paredes de madeira, o local oprimia o calor para permanecer dentro, uma chaleira prestes a explodir.

As coxas grossas do Físico entrelaçavam a cintura do Tenista, as costas sustentadas na parede da estrutura simples, os arfares audíveis como traduções do esforço que fazia seu corpo quente e da avalanche de emoções invadindo sua individualidade.

A cobiça remexia as instâncias racionais do homem em pé, pressionando e sustentando o quadril entregue a si com as mãos enroscadas nas pernas fortes e a boca traçando caminhos perigosos na região sensível do pescoço, para no momento seguinte retornar a degustar o beijo que arrebatava a lógica e o impedia de pensar com clareza nas consequências.

Os testes deram muito certo, a ansiedade no dia de amanhã lhes trouxera pensamentos intrusivos dentre as opções cogitadas na intenção de distrair a cabeça, assim chegavam naquela configuração.

O tecido roçando na pele estava se tornando um incômodo crescente. O ruivo voltou a se por em pé, empurrando os ombros do dono dos braços fortes e ganhando uma expressão confusão em resposta.

Antes que Jeon pudesse questionar a atitude, o tecido que cobria seu tronco foi erguido, expondo boa parte do seu abdômen e o começo do seu peitoral.

- Porra... - o tom grave conteve-se no baixo volume com sacrifício.

Enfrentou a sensação molhada escorregando de baixo para cima em si, arrepiando a derme necessitada. Jogou a cabeça para trás e gemeu em satisfação, entretanto quando retornou a buscar a mirada cativante, encontrou a visão dos olhos brilhantes do Park, agindo de acordo como quem sabia exatamente o efeito que causava e provocava os limites divertido-se.

Se encontrava muito perto de cruzar a linha do seguro.

O queixo abaixo foi agarrado com a canhota habilidosa e sem aguentar aguardar, tomou os lábios bonitos em um beijo selvagem, tentando transpassar as sensações através de um único ato.

Eles sentiam o cansaço mútuo, infelizmente era difícil aproveitar todos os segundos e ao mesmo tempo ficar em alerta máximo a perigos e interrupções. O ritmo diminuiu gradual, até apartar o toque gostoso compartilhado.

As testas permaneceram unidas concomitante ao regular da respiração e as pálpebras fechadas.

- Tenho medo de viver as vezes - Jimin solta a confissão quase comparável a um sussurro. - Tenho medo de um dia precisar só sobreviver e não aguentar.

O atleta compreendeu a preocupação.

- Se um dia você só tiver a opção de sobreviver, ainda vai conseguir lembrar que viveu as melhores coisas que pôde viver - os dedos longos rumaram ao rosto delicado e através das costas da mão, acariciou a bochecha sem se afastar.

- Você acha que conseguiria só sobreviver por tanto tempo? - a respiração chocava na superfície da face por conta da aproximação. - Eu acredito que tudo ainda pode ficar bem.

- As vezes é necessário para um bem maior, não dá para viver na fantasia para sempre e esperar que a diversão traga comida ou abrigo. - o ruivo engoliu em seco.

- Acha que o que estamos fazendo é egoísta? - questionou o que rondava suas reflexões.

- Acho. - a resposta ocasionou no fechar dos olhos do ruivo, se sentiu mal. - Mas a vida nem sempre é totalmente justa. Buscar isso é utópico. - a declaração séria o surpreendeu.

Jungkook deixou de tocar em Jimin e o segundo estremeceu, temeu ter incomodado com a sua indagação. Passos para longe o fizeram abrir os olhos, acompanhou o Tenista ajeitando sua roupa e seu cabelo, imitou a atitude e o silêncio prevaleceu por segundos longos.

- Eu...

- Jimin, de verdade, você acha mesmo que nós estamos aqui seguros e não somos egoístas? O que difere a gente das pessoas morrendo lá fora? Dos infectados que matamos e das pessoas que não fomos atrás? - o argumento do outro findou.

O interlocutor tinha duras afirmações, não intencionou machucar o Físico, porém a maneira de encarar o mundo parecia distinta entre o casal.

- Não estava me referindo a isso... - tentou se retratar, porém sequer poderia dizer agora o que tinha em mente ao questionar as atitudes ali dentro.

- Então você está se referindo a que? - procurou apresentar empatia mas o atleta sempre fora péssimo no tato para dizer as coisas, a frase soou ríspida, além de ser muito cabeça dura.

- Por quê está sendo tão incisivo? Queria só refletir contigo, não sou obrigado a ter todas as respostas do mundo na porra de um apocalipse - o desaforo jamais seria levado para casa, sentia-se especialmente atacado e dolorido por não esperar falas tão hostis logo daquela pessoa.

- Parece que você não entendeu, e achei importante frisar que não há nada de especial em sobreviver, alguns tem sorte e tomam decisões inteligentes, outros tem azar e terminam morrendo estupidamente no... - a frase morreu no meio, na lembrança da perda dolorosa do outro.

Park Jimin abriu a porta e saiu com seus olhos ardendo, a estupidez o abraçou e se perguntava a razão de ter tantas espectativas em um idiota que conhecia a pouco tempo. Tudo parecia intensificado quando se tratava do garoto da raquete de tênis.

A lembrança da morte de Mark o assombrava suficientemente para precisar de mais uma notificação imprópria, marchou raivoso ao quarto, passando pelos outros integrantes sem sequer trocar acenos de cabeça, precisava respirar sozinho.

A visão ao chão denunciava a imersão nos pensamentos acelerados. Ele se arrependia do que acabara de dizer? Não tinha certeza, a reação de Park o levou ao leve repensar das atitudes por impulso. A água acumulando na base dos olhos o feriu como finas navalhas perfurando a região do tórax.

Pensou em deixar para lá e seguir o dia ignorando o clima pesado que sucederá quando fossem obrigados a permanecer no mesmo cômodo.

- Ele não é esse tipo de pessoa... - em pouco tempo de convivência, poderia afirmar a prorrogativa sem pestanejar.

Em formato de incômodo descabido, moveu-se. Tentaria resolver o mal entendido pensando no bem estar do grupo, o desentendimento em situações de estresse geralmente são compreendidos facilmente por terceiros.

Abriu a porta da localidade próxima aos animais e marchou na intenção de encontrar o Físico para se retratar sem planejar suas frases como costumeiramente faria no cotidiano da vida comum.

- Jimin? - chamou o primeiro nome em público, não usual tratamento, entretanto sequer reparou no ato.

De modo curioso, a casa parecia estranhamente silenciosa mesmo antes de adentrar a residência. Visualizou através da fresta da janela uma silhueta armada desconhecida, seguido de um som de engatilhamento de pistola. Colou as costas na parede da casa em um ponto cego em relação ao interior ouvindo os murmúrios vindo de dentro.

Metal do cano gelado cola-se na têmpora do atleta.

- Sentiu minha falta amigo? - Mingyu tinha uma arma colada na cabeça de Jungkook, o encarando com ar de superioridade.

Depois de 250 bpm | Jikook • ZOMBIEOnde histórias criam vida. Descubra agora