- Mirabel, já terminou de dar comida aos porcos e milho às galinhas? - Seu irmão, Alexander, gritou - a da porta da cozinha.
Respirando fundo, sempre tentando ser paciente, mesmo que esse homem não mereça nem mesmo um pingo de sua paciência, virou - se para ele.
- Sim, meu irmão. - Ela evitava ao máximo continuar conversas com ele, pois sempre era ofendida de alguma forma toda vez que era prolongado algum assunto. Seu irmão era um homem cruel, ficou ainda mais após a morte de seus pais. Agora casado, não somente ele se aproveitava dela, mas também sua cunhada.
Antes a considerava intrusa, depois de órfãos, a considera um peso e nunca disfarçou o desprezo que sente por ela, tornando sua vida infeliz por mais de uma década.
Mirabel, em seus 20 anos de vida, sempre sonhou em fugir de onde mora, apesar de amar a vida no campo, possuía o sonho de um dia sair dali e viver sua vida em um canto do mundo que não tivesse que ser empregada de alguém hostil. Não pensava grande, apenas queria fugir de sua vida infeliz.
Aos seus 15 anos, seus vizinhos incentivaram seu irmão a levá - la para Londres para debutar, mas claramente ele não desejava fazer isso. Mirabel nunca sequer teve chance de encontrar um esposo, Alexander não lhe dava tal liberdade.
- Menina idiota, já deveria estar servindo o almoço a essa hora. O que faz ainda aí fora? - Sua cunhada, Elis, começou a se intrometer.
- O almoço já está pronto, senhora. Logo irei servi - los. - Mirabel nunca aceitou o fato de seu irmão permitir que a esposa lhe tratasse dessa forma, mas nunca esperou que ele também a fosse defender.
Ambos olharam para ela com desprezo, pela porta de entrada para os fundos. Elis foi bordar uma roupa para seu herdeiro, que já de nove meses estava em sua barriga, já seu esposo foi escrever uma carta para seu comprador de ovos e leite da cidade, avisando que amanhã de manhã estaria no mesmo local de sempre com as suas encomendas. Mais tarde, a tinta que escapava do tinteiro seria responsabilidade da pobre moça de limpar.
Carregando os ovos que pegou mais cedo em uma cesta, se dirigiu para a cozinha. Guardou os ovos em uma caixa e começou a compor a mesa com tudo necessário para a refeição dos dois, depois serviu a cada prato com a quantidade de comida já costumeira. Eles não permitiam que ela comesse a mesa com eles, então sempre esperava que terminassem para só então poder comer.
Foi até ambos e comunicou a cada um pessoalmente que o almoço já estava servido.
Esperou que comessem, depois comeu e organizou tudo, se certicando de limpar cada coisa perfeitamente ou poderia sofrer consequências depois. Certa vez seu irmão encontrou um pedaço de alface que restou na pia e a deixou sem comer por quase o resto do dia, quando tinha 11 anos.
Reprimiu as lágrimas que sempre tentavam afogá - lá, sabendo que se caso permisse chorar, nunca mais pararia.
Estava organizando a sala, quando ouviu um barulho de cavalos e vozes que se aproximavam da casa. Como moravam no campo, já conheciam praticamente todos da região e ao colocar para fora o seu rosto, ela não reconheceu nenhuma das pessoas que estavam ali.
Seu irmão, que tinha uma audição (como cães), já estava prontificado a receber os visitantes.
Da janela, observava a cena. Dois homens desceram dos seus cavalos pretos, com perfeitas vestimentas e uma mulher foi ajudada descer de sua carruagem modesta. Mirabel se assustou com a semelhança que encontrou de si mesma com aquela mulher, mesmo que só conseguisse se ver nas águas do riacho que eram turvas, ao lavar as roupas.
"Quem são vocês?" Foi o que passou pela cabeça dela, enquanto se aproximavam do seu irmão. Não eram pessoas simples, já que suas vestimentas de comparavam a nobreza da época, o que tornava aquela situação absurdamente incomum.
- Onde está ela? - O homem mais velho perguntou, sem muita afeição na voz. Na verdade, parecia que ele queria dar um soco em Alexander.
- A... A quem o senhor se refere? A minha esposa está lá dentro. - É a primeira vez em toda a sua vida, que ela vê seu irmão gaguejar. A mulher, que parecia ter em média 40 e poucos anos, assustando Mirabel, deu um tapa no rosto dele. Um tapa que fez com que Elis aparecesse a poucos metros dali, escondida como um rato.
- Não teste minha paciência mais do que ja fizeram. Entregue a minha sobrinha ou você sairá arrastado daqui para interrogatório... - A desconhecida, já irritada, praticamente cospiu as palavras.
- Não sei do que está falando. - Claramente Alexander sabia.
Mirabel então, percebeu que poderiam está se referindo a ela. Colocou mais seu rosto para fora da janela e ousou fazer um barulho, todos os rostos viraram para olha - lá. Seu irmão soltou um palavrão audível e sua esposa se escondeu ainda mais.
A mulher começou a chorar. O homem que até então não havia dito nada, caminhou até a janela, ficando próximo a Mirabel. Seu irmão tentou se mexer, mas o outro homem o ameaçou com o olhar, mantendo - o em seu lugar.
- Junte suas coisas menina, finalmente te achamos.
Mirabel começou a ficar sem ar, o que estava acontecendo? Era somente isso que passava em sua cabeça.
- Quem são vocês, senhor? - Ela mal conseguia falar.
Ele sorriu, paciente.
- Lhe contaremos tudo quando estivermos seguros e fora deste lugar horrendo. - Ele olhou com repulsa a tudo que tinha alcance de visão. - Junte suas coisas.
Ela quase riu. Que coisas? Ela só tinha três trocas de roupa e um sapato. Seu irmão, lotava o armário da esposa, mas só deixava trapos para ela.
- Não há muito. - Ela correu até seu quarto ( o quartinho de bagunça ) e trouxe na mão o que tinha. Percebeu que os olhos do homem quase marejaram, mas ele se recompôs.
- Saia, minha querida, vamos embora. - Ele disse.
Mirabel não sabia o que estava acontecendo, mas o que seria pior de acontecer do que o que ela já vivia? Não questionou, apenas saiu correndo da casa, passando com medo por sua cunhada e irmão. Eles não reagiram, sabiam com quem estavam lidando.
Ao chegar perto da carruagem, a mulher passou a mão por seu rosto e começou a chorar novamente. Os homens ajudaram as duas a subirem na carruagem e já em deslocamento perguntou:
- Para onde estamos indo? - A mulher já recomposta, segurou em sua mão.
- Para casa, minha menina.
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Floresça
RomanceApós a morte de seus pais, Mirabel tendo somente como figura paterna o seu irmão mais velho, foi sucumbida a todas as tarefas da casa e a uma vida infeliz desde seus 10 anos de idade. Mas de repente, Mirabel se vê cercada de jóias, chás e bailes da...