Louis se aproximou de ambos, primeiro cumprimentando a dama e depois o seu melhor amigo. Mary estava então ao lado de Mirabel, provavelmente a governanta a havia chamado com a chegada de Louis.
- Desculpe, não consegui vir ontem. - No dia anterior, o pai de Louis o encheu de tarefas para fazer na parte econômica e administrava de seus negócios em Dublin . Ele precisou ir de manhã no domingo para Dublin para assinar papéis sobre documentos de herança já que seu pai, agora velho, queria deixar tudo pronto para sua partida. Por conta da burocracia e da longa viagem a carruagem, ele havia chegado neste dia, na parte da tarde. Mal comeu e decidiu ir visitar Mirabel.
Mirabel estava tentada a perguntar o que ele havia feito de tão importante para que não pudesse visitar uma amiga doente, mas percebeu que não seria nem sensato e nem justo com ele perguntar isso. No fim, ele veio e era isso que importava.
- Eu esperei a sua visita. - Ela comentou, fingindo indiferença enquanto falava,mas todos ao seu redor sabiam o quanto aquilo a afetou, mesmo não sabendo o que a deixou daquela forma. Somente Mary sabia, mas porque era como a sua sombra e já havia entendido as vontades e a personalidade de Mirabel.
- Sinto muito, tive que resolver negócios para o meu pai em Dublin. - Albert ficava apenas observando os dois em silêncio.
Ele estava começando a gostar daquilo, ver seu melhor amigo dando satisfação a uma mulher sobre onde estava era algo divertido de ver. Louis nunca dava satisfação a ninguém, por isso as fofocas a seu respeito eram como eram, fofocas inventadas e o filho do Marquês nunca fez questão de se justificar. Tinha a consciência limpa e sabia o homem de caráter que era, a sociedade fofocar a seu respeito o incomodava, mas era como um mosquito soando no seu ouvido durante o sono. Só fazia barulho.
- Quer se juntar a nós? Estou ensinando Mirabel a jogar dama. - Albert o convidou, dando passe livre para que realmente se aproximasse deles, até então ele tinha mantido uma distância segura das garras do amigo, por precaução.
Albert não tinha nada contra uma relação entre Mirabel e seu amigo. Ele tinha algo contra isso afetar Mirabel negativamente diante da sociedade, já que conhecia as fofocas sobre o seu melhor amigo e mesmo sabendo que eram exageradas e distorcidas ainda poderiam fazer de Mirabel uma mal falada por se relacionar com ele. Para que Mirabel se envolvesse com Louis, primeiro ele teria que acabar com os boatos a seu respeito. Albert pensou em ter uma conversa sobre isso com ele, de homem para homem, não deixaria ninguém, nem mesmo seu melhor amigo, machucar Mirabel.
Sua prima já havia sofrido demais, essa era a motivação dele para não aprovar o relacionamento. Já a de Beatriz, era justamente dar ouvidos as fofocas sobre ele e julgar seu caráter por isso. Quem conhecia Louis de verdade era somente Albert, que cresceu ouvindo o amigo desabafar sobre como era difícil lidar com o seu pai carrancudo e orgulhoso.
O pai de Louis nunca o tratou como filho, na verdade só havia pedido um herdeiro para que assumisse os negócios da família, sem nenhum laço fraternal nessa decisão. Então, quando Louis nasceu, passou a sempre de manter distante de sua esposa antes de ela morrer, já que não queria ter outros filhos. A infância e adolescência de Louis foi solitária e os únicos momentos de diversão eram quando ele estava na casa Belmonte, montando a cavalo ou caçando veados ao lado de Antony e Albert.
- Quem perder, joga comigo. - Claro que Mirabel era a próxima a jogar.
- Não vale, eu vou perder duas vezes. - Ela cruzou os braços recentida. Não estava gostando muito de dama, preferia xadrez. - Podemos mudar para o xadrez? Acredito que minha perda será menos humilhante.
- Oh, eu não faria isso se fosse você, priminha. Louis ganhava troféus de campeonato de xadrez na escola. - Falou Albert, dando um tapinha nas costas de Louis, que estava agora sentado próximo a eles. Mirabel estava sentada no divã apoiando as costas e os meninos estavam sentados no sofá de frente para ela. Mary se mantinha quieta, na poltrona um pouco distante, bordando um suéter de crochê. - Apenas uma pessoa ganha de Louis.
- Quem? - Mirabel perguntou, já claramente sabendo que era.
- Albert Belmonte. - Louis respondeu para ela, enquanto Albert apontava os dois dedões da mão em sua própria direção. - Inclusive, ele também vence no ego. - Brincou Louis e Albert riu.
Mirabel estava gostando de ver os três juntos, era agradável finalmente ter companhias que a distraissem do molho que estava tendo que ficar. Até o fim de semana ela estaria arrancando os cabelos da cabeça, cresceu tendo que fazer literalmente tudo e agora tinha que ficar parada sem fazer nada, era uma tortura para uma pessoa proativa e agitada como ela.
- Ainda bem que vocês estão aqui, eu não estou aguentando mais ficar parada. - Ela olhou com raiva para o tornozelo torcido.
- Quem dera se eu conseguisse ficar um pouquinho só que fosse sem ter que fazer nada. - Lamentou Albert e Louis acenou com a cabeça concordando.
- Para nós, os herdeiros, o trabalho nunca acaba. - Louis completou e Mirabel se compadeceu do cansaço dos dois.
- Bom, se quiserem que eu pise no pé de vocês é só me chamarem para dançar. - Ela brincou, enquanto movia sua peça no jogo.
- Ganhei. - Falou Albert, fazendo sua jogada final. - Mirabel, vai jogar dama ou xadrez contra Louis?
Ela ponderou, com o dedo indicador no queixo e uma cara pensativa. Louis sorriu ao ver isso, mas assim que percebeu, parou. Albert foi buscar o tabuleiro de xadrez para deixar perto deles.
- Acho que ainda vou decidir jogar o xadrez.
Então o jogo começou, Mirabel com as peças brancas e Louis com as pretas. A cada movimento que Louis fazia, Mirabel estudava para aprender, enquanto ele lhe aconselhava sobre qual a as opções que ela poderia fazer em seus movimentos. Ele deixava ela escolher, apenas dava as possibilidades.
Albert pediu para o mordomo lhe trazer uma xícara de chá quente de camomila e se deitou no outro divã. Quando olharam para ele, poucos minutos depois, ele tinha apagado.
- Aproveitando que seu primo agora dormiu, pode me xingar o quanto quiser senhorita. - Comentou Louis de repente, após Mirabel mexer seu cavalo. O jogo estava completamente desequilibrado, mas Louis não estava se importando com isso.
- Por que eu xingaria o senhor? - Ela não estava entendendo.
- Evidentemente a senhorita ficou ressentida por eu não ter vindo no dia anterior. Percebi a sua feição de brava quando me viu, não minta. - Ele disse e ela ficou sem saber o que responder. Não queria que ele tivesse percebido isso, não queria que ninguém percebesse, na verdade.
- Tudo bem. - Ela deu de ombros. - Fiquei sim ressentida, aguardei que viesse durante todo o dia de ontem e hoje. - Ela foi sincera e Louis se pegou sorrindo.
- O senhor comeu meu cavalo. - Ela constatou.
- Mais uma razão para ficar brava comigo. - Ele respondeu.
- Não deveria gostar disso. - Ela o censurou.
- Realmente, a senhorita fica extremamente mais bonita quando está sorrindo do que quando está ameaçando jogar um tabuleiro de xadrez na minha cabeça. - Eles estavam agora sorrindo um para o outro e as bochechas de Mirabel se tornaram vermelhas como se tivesse passado blush. Mary observava a cena em silêncio, torcendo para que Mirabel comentasse com ela mais tarde sobre esta situação para que pudessem fofocar juntas.
O momento deles foi cortado de repente por um alto ronco vindo de Albert e até mesmo Mary riu com eles pelo susto.
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Floresça
RomanceApós a morte de seus pais, Mirabel tendo somente como figura paterna o seu irmão mais velho, foi sucumbida a todas as tarefas da casa e a uma vida infeliz desde seus 10 anos de idade. Mas de repente, Mirabel se vê cercada de jóias, chás e bailes da...